Tédio não é vilão: é hora de valorizar o ócio Foto: Pixabay

Psicóloga afirma que momentos de ócio são extremamente importantes para a saúde, além de garantir melhores resultados no trabalho

Trabalhar, estudar, cuidar da casa…e no outro dia repetir tudo. Essa costuma ser a rotina da maioria das pessoas, mas onde sobra espaço para o tédio nessa história? É claro que precisamos cumprir obrigações, e tem coisas que realmente só dependem da gente. Mas você sabia que tirar um tempo para o ócio é extremamente importante para a qualidade de vida?

O tédio normalmente é associado a algo ruim, como se estivéssemos “perdendo tempo” ao tirar um tempo para, simplesmente, descansar. A psicóloga Gislaine Erbs desmente essa crença. “O tédio é uma boa forma de aprender sobre paciência, valorizar pequenos momentos da vida e dar importância para as outras atividades do dia a dia. Isso melhora a qualidade de vida e diminui os riscos de doenças que são cada vez mais comuns nesses tempos, como a depressão, a ansiedade e o estresse.”

Por que evitamos o tédio?

Segundo a especialista, esse sentimento de aversão ao tédio acontece porque as pessoas estão muito preocupadas em se mostrar produtivas, especialmente com o avanço da internet. “A sociedade contemporânea cobra muito por resultados. As pessoas sentem a obrigação de estarem conectadas o tempo todo, sofrem a pressão de estar on-line e responder prontamente qualquer comentário ou questionamento, além de ter que estarem atualizadas dos últimos acontecimentos em tempo real”, pontua. 

Para ela, isso cria um ciclo infinito de ocupação. “Pensando nos resultados, pessoas muito responsáveis ou competitivas, e/ou focadas, sempre têm o pensamento de que possuem mais atividades para fazer, do que tempo para executar.”

Outra necessidade apontada por Gislaine é a de atingir a estabilidade financeira em um curto período de tempo. Para “aproveitar a vida” e atingir certos padrões sociais mais cedo que as gerações anteriores. “Assim ficam ocupadas, trabalhando muitas horas, pois não querem perder tempo. A mente fica com essa atenção conectada, mas sem qualidade de trabalho.” 

“As pessoas não sabem mais relaxar, curtir a própria companhia, ou têm o sentimento de que precisam estar produzindo algo a todo o tempo, em função da própria cobrança social. Porque o “ter que todo mundo tem” é associado à felicidade”, aponta Gislaine.

A consequência disso? As pessoas não conseguem ficar em silêncio com a própria companhia. “Estar sem fazer nada, para elas, pode gerar ansiedade, com sintomas realmente muito ruins e desconfortáveis. Um retroalimentando o outro e assim sucessivamente automatizando essas emoções em sua mente.”

É o tédio que nos faz melhorar

Depois de entender o porquê do excesso de produtividade ser um inimigo do nosso bem-estar, a psicóloga explica o que o tédio pode proporcionar de positivo para o nosso dia a dia. “A neurocientista Alicia Walf relata que o tédio melhora as relações sociais. Os estudos comprovam que o tédio auxilia nas respostas criativas e protege nossos neurônios de doenças, além de auxiliar o funcionamento do sistema imunológico”, menciona.

Segundo a especialista, é preciso respeitar os limites para evitar problemas maiores no futuro. “Temos que pensar no nosso corpo como uma máquina que aquece e, se não for desligada ou resfriada, para de funcionar, podendo superaquecer e sofrer ruínas. Danos que podem ser caros, demorados, reversíveis ou até irreversíveis.”

“É no tempo ocioso que se pararmos para pensar, buscar soluções, olhar para coisas que normalmente na rotina não olhamos. Com o tempo, o pensamento flui, fica curioso, é assim que artistas e compositores têm seus insights. Em atividades de rotina, no automático, a mente não cria, só executa”, esclarece Gislaine.