Ensino híbrido: o modelo ideal para o futuro da educação?

Com o avanço da tecnologia, especialistas discutem os caminhos do ensino híbrido no Brasil e os desafios da integração real

O ensino híbrido, que combina práticas presenciais com recursos digitais, se consolidou como uma das principais apostas educacionais durante e após a pandemia de Covid-19. Um estudo encomendado pelo Google à Educa Insights revelou que 64% dos estudantes de graduação no Brasil preferem cursos que mesclam encontros presenciais e remotos, e esse número sobe para 75% em pós-graduação e cursos livres Esses dados indicam a força do modelo híbrido, mas também levantam desafios sobre até que ponto ele está sendo implementado com qualidade.

Para Aline Von Bahten, especialista em educação, a discussão vai além da simples escolha entre presencial ou remoto. “Não se trata de escolher um dos dois formatos, mas de entender que o futuro da educação exige uma integração inteligente e planejada entre as modalidades. Se tivermos aulas presenciais com tecnologias de última geração em que o professor só entrega conteúdo e vídeos gravados jogados na plataforma que não promovem reflexão e ação, continuamos presos no passado”, afirma. Aline destaca que a qualidade da aprendizagem depende mais do desenho pedagógico e da intencionalidade do que da tecnologia em si.

Desafios ainda persistem

Ao longo de sua trajetória dedicada ao desenvolvimento de soluções educacionais inovadoras, Aline observa que o maior desafio hoje não é mais o acesso às ferramentas, mas a capacidade de usá-las com sentido. “Existe uma lacuna entre a digitalização do ensino e a verdadeira transformação pedagógica. Muitos professores passaram a usar plataformas, mas mantiveram práticas antigas, centradas na transmissão passiva de conteúdo”, explica.

Além disso, ela alerta para a falsa ideia de que o ensino híbrido é sinônimo de flexibilização total. “O engajamento do aluno não vem só da liberdade de estudar quando quiser. Vem da experiência de aprendizado, da relevância dos conteúdos, da conexão da aprendizagem com o mundo real e da estratégia de mediação do educador para que o aluno desenvolva sua autorregulação. Por isso, o papel do professor continua sendo insubstituível, mesmo que mediado por telas.”

Professores devem ser preparados

Outro ponto que Aline considera crucial é a formação contínua dos docentes. “É preciso investir em formação que vá além do técnico. Não basta ensinar a usar uma ferramenta, como agora a inteligência artificial. É necessário discutir como ela pode potencializar a aprendizagem ativa, a colaboração, a autonomia e a avaliação significativa”, comenta. Para ela, o ensino híbrido só será sustentável se for acompanhado por políticas de valorização e desenvolvimento profissional docente.

Na prática, o que se desenha é uma nova arquitetura educacional, em que a sala de aula tradicional e os ambientes virtuais se articulam de forma complementar. “O erro é pensar que o digital veio para substituir. O digital veio para ampliar. Mas ele precisa ser guiado por um projeto pedagógico sólido, centrado na experiência do estudante com foco no impacto que a formação trará para a vida dele e da sociedade. E isso nasce na intencionalidade de quem ensina”, afirma Aline.

O futuro do ensino híbrido no Brasil, portanto, dependerá menos das tecnologias disponíveis e mais da capacidade das instituições de redesenhar seus modelos pedagógicos. Para Aline, essa transformação exige coragem, escuta ativa-empática e visão sistêmica. “Não estamos mais discutindo se o ensino híbrido vai continuar. A pergunta certa é: como vamos torná-lo uma ponte para transformar de forma mais inclusiva, profunda e para o longo prazo?”, conclui.