Fim de ano: momento certo para trocar os filhos de escola? Freepik

Psicólogo alerta para impactos na saúde mental infantil e orienta sobre cuidados necessários durante transição escolar

O período de final de ano desperta em muitas famílias brasileiras uma questão delicada: é o momento adequado para trocar os filhos de escola? Essa decisão pode ter impactos significativos no bem-estar psicológico das crianças e adolescentes, exigindo cuidados específicos para preservar a estabilidade emocional durante a transição.

Do ponto de vista da saúde mental, alguns sintomas podem indicar que o ambiente escolar está prejudicando o desenvolvimento da criança. Alterações no padrão de sono, perda de apetite, irritabilidade constante, queixas psicossomáticas frequentes (como dores de cabeça e de barriga sem causa orgânica) e resistência para ir à escola são sinais que merecem atenção médica.

“Quando observamos que a criança desenvolve sintomas de ansiedade, depressão ou transtornos comportamentais relacionados ao ambiente escolar, a mudança pode ser uma intervenção terapêutica necessária. No entanto, é fundamental que essa decisão seja tomada após avaliação criteriosa dos fatores envolvidos”, explica Miguel Bunge, psicólogo especialista em crianças e adolescentes.

Os impactos da mudança escolar

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as escolas com perfil acolhedor e inclusivo promovem não apenas o aprendizado, mas também o bem-estar emocional dos alunos. Ambientes escolares com essas características estimulam habilidades socioemocionais como empatia, cooperação e resiliência. Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), uma em cada sete crianças no mundo enfrenta algum transtorno relacionado à saúde mental. Nesse sentido, mudanças significativas no ambiente podem ativar o sistema de estresse da criança, elevando os níveis de cortisol e afetando o desenvolvimento cognitivo. O cérebro infantil, ainda em formação, é particularmente sensível a alterações na rotina e no ambiente social.

Crianças com histórico de transtornos de ansiedade, déficit de atenção, autismo ou outras condições neuropsiquiátricas apresentam maior vulnerabilidade durante as transições escolares. Nesses casos, o acompanhamento multidisciplinar, envolvendo psicólogos, psiquiatras e pedagogos, é fundamental para minimizar os riscos.

“Pacientes com transtornos do espectro autista, por exemplo, podem apresentar alterações comportamentais significativas durante mudanças de ambiente. É essencial que os pais busquem orientação profissional antes de tomar essa decisão, especialmente quando há diagnósticos prévios”, alerta Bunge.

Quando a mudança não é indicada

Sob a perspectiva da saúde mental, devemos evitar a mudança escolar em determinados momentos. Crianças que vivenciaram traumas recentes, estão em processo de luto, passaram por mudanças familiares significativas ou apresentam quadros agudos de transtornos mentais precisam de estabilidade ambiental para se recuperar.

“O tempo é crucial na saúde mental infantil. Uma mudança mal planejada pode agravar quadros existentes ou desencadear novos transtornos. É fundamental avaliar o estado emocional da criança antes de qualquer decisão”, adverte Miguel.

Papel dos pais na prevenção da saúde mental

Os cuidadores desempenham papel fundamental na manutenção da saúde mental durante a transição. Manter rotinas familiares estáveis, oferecer suporte emocional constante, evitar críticas à escola anterior e demonstrar confiança na nova escolha são estratégias importantes para o bem-estar da criança.
“Os pais precisam estar atentos aos sinais de sofrimento psíquico e buscar ajuda profissional sempre que necessário. A saúde mental infantil deve ser prioridade em qualquer processo de mudança”, conclui Miguel Bunge.