Freepik
Neurofinanças explicam como o cérebro entra em “modo festivo” e faz o orçamento desaparecer entre presentes, viagens e promessas para o ano novo
Se janeiro é o mês das promessas, dezembro é o mês das desculpas. “Eu mereço”, “é só essa vez”, “ano que vem eu organizo”. Essas frases não são apenas clichês, são sintomas de um cérebro em curto-circuito financeiro.
Enquanto as vitrines entram em modo festa, o seu cérebro entra em modo sobrevivência emocional. O problema é que ninguém percebe esse momento. E quando nota, já parcelou.
A explicação vem das neurofinanças, área que estuda o impacto das emoções nas decisões econômicas. No fim do ano, o cérebro sofre uma verdadeira tempestade química: a dopamina (prazer), a serotonina (sensação de recompensa social) e o cortisol (estresse) atuam juntos, criando a combinação perfeita para gastos impulsivos.
Cérebro Entra em “Modo Festivo”
Resultado? Você compra para aliviar, não para precisar. A mentora de finanças Simone Santolin explica que a emoção não só influencia, ela comanda o saldo bancário em dezembro. “O cérebro associa fim de ano à ideia de recompensa, pertencimento e encerramento de ciclos. Isso ativa impulsos que fazem as pessoas gastarem para se sentir melhor agora, mesmo que isso custe o bem-estar financeiro depois”.
Não se trata apenas de presentes caros, mas de uma sucessão de pequenas decisões aparentemente inofensivas: roupas para as festas, viagens “imperdíveis”, ceias exageradas, lembrancinhas, mimos e parcelamentos sem cálculo de impacto.
Efeito dopamina
Na prática, o cérebro trata o dinheiro como um anestésico emocional de curto prazo. E o preço vem em janeiro, em forma de fatura, ansiedade e arrependimento.
Segundo Simone, o maior erro das pessoas não é gastar, é gastar inconscientemente. “Quem controla dinheiro sem entender o próprio comportamento está fingindo que a mente não interfere nas escolhas. Neurofinanças não é sobre números, é sobre lucidez”, afirma a mentora.
Ela defende que dezembro seja usado como uma espécie de “check-up emocional financeiro”. Um período ideal para observar padrões, reconhecer armadilhas mentais e mudar a relação com o consumo. “Quando você aprende a pausar antes de gastar, você deixa de ser refém do impulso e passa a ser estrategista da própria vida financeira”, orienta Santolin.
Pausar Antes de Agir
A especialista alerta ainda para um fenômeno silencioso: a pressão social invisível. Redes sociais, grupos de família e ambientes de trabalho alimentam a ilusão de que é preciso “encerrar o ano em alta”, mesmo que isso custe meses de aperto depois.
“O excesso de imagens de celebração nas redes sociais pode distorcer a percepção de normalidade financeira, fazendo parecer que todos conseguem, quando isso nem sempre reflete a realidade”, comenta Simone.
No fim das contas, dezembro revela mais sobre sua mente do que sobre seu salário. O poder de consumo está menos na sua conta e mais no seu estado emocional. Se o seu dinheiro desaparece no fim do ano, talvez o problema não esteja no extrato.