A doença é comum em adultos e tende a ser discreta no início
Uma em cada três pessoas desenvolve herpes zoster durante a vida. É o que diz um estudo do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos. E que é confirmado pela infectologista Cristiana Meirelles, da Beep Saúde. “Aproximadamente 99,5% dos adultos com mais de 40 anos de idade apresentam evidências sorológicas de infecção pelo vírus varicela zoster (exames de sangue que demonstram que já houve infecção)”, revela a médica.
O que é a herpes zoster?
A herpes zoster, também conhecida como cobreiro, é uma infecção causada pela reativação do vírus varicela zoster, o mesmo da catapora, que fica latente (“adormecido”) nas células nervosas. Ela afeta milhões de pessoas em todo o mundo e é preocupante não apenas por sua persistência. Mas também por sua capacidade de reaparecer após décadas de aparente inatividade. “Ela causa uma vermelhidão na pele com vesículas (pequenas bolhas) em cima, mais frequentemente no tronco. Mas podendo surgir na face e outros locais do corpo. A característica mais marcante é a distribuição e localização da erupção, que costumam ocorrer do mesmo lado do corpo, não atravessando a linha média.”
A infectologista explica que a doença pode se manifestar de forma branda e discreta. Mas também pode ocasionar quadros bastante graves, caso atinja órgãos importantes, como os olhos. “É sempre importante procurar atendimento médico quando há suspeita de herpes zoster, para avaliação e prescrição das medicações para alívio dos sintomas, e para a prevenção de gravidade.”
Sintomas e sinais de alerta
Os sintomas da herpes zoster, segundo a especialista, incluem: coceira, queimação e aumento da sensibilidade. “O sintoma que mais incomoda é a dor intensa, que costuma vir antes do aparecimento das lesões na pele. Também pode haver febre, fadiga e mal-estar”, pontua.
A infectologista ainda explica que, muitas vezes, é difícil aliviar a dor com analgésicos, e ela pode se tornar crônica, “com duração de muitos meses, mesmo depois que as lesões desaparecem”. Além disso, ela destaca a importância do acompanhamento médico para certos grupos de pessoas que estão mais suscetíveis às complicações da doença. “Caso a pessoa tenha mais de 60 anos ou apresente um fator de risco para complicações da doença, como alguma alteração do sistema imunológico devido a condições médicas ou medicamentos, é ainda mais necessário o acompanha mento médico.”
“Os sinais de alerta para complicações são: dor persistentepor mais de 90 dias (neuralgia pós-herpética), lesões próximas ao olho (herpes oftálmico), lesões na orelha (paralisia facial), convulsão, dor de cabeça intensa (meningite) e pus nas lesões de pele (infecção bacteriana secundária).”
Quais são as formas de transmissão do vírus?
Pessoas com herpes zoster podem transmitir o vírus para aquelas que nunca tiveram varicela (catapora) ou nunca receberam a vacina, causando varicela nestes indivíduos (e não herpes zoster). De acordo com Cristiana, a transmissão se dá por contato direto com as lesões (líquido das vesículas) e são consideradas não-infectantes após se tornarem crostas (“casquinhas”). “Também pode ocorrer por via respiratória. Embora raro, o vírus varicela-zoster pode ser liberado no ar através de pequenas partículas”, acrescenta.
“É importante destacar que herpes zoster em si não é transmitido de uma pessoa para outra por meio do contato casual, como apertos de mão ou convivência. No entanto, o vírus pode causar catapora em indivíduos suscetíveis.”
Mitos x verdades
Pedimos para Cristiana mencionar quais são os maiores mitos que ela já ouviu sobre o herpes zoster, tanto em relação aos sintomas, quanto ao contágio.
Mito: Você só pode desenvolver herpes zoster uma vez na vida.
Verdade: Embora seja raro, é possível ter a doença mais de uma vez. A reativação do vírus varicela-zoster pode ocorrer em algumas pessoas ao longo da vida, principalmente após os 60 anos de idade devido à imunossenescência (envelhecimento natural do sistema imunológico).
Mito: Herpes zoster é sempre precedido por dor intensa.
Verdade: Embora a dor seja um sintoma comum da doençar, nem todas as pessoas sentem dor intensa, podendo apresentar sintomas leves.
Mito: Herpes zoster afeta apenas idosos.
Verdade: Embora seja mais comum em adultos mais velhos, pode ocorrer em pessoas de todas as idades, especialmente aquelas com sistema imunológico enfraquecido.
Existe cura?
Infelizmente não, uma vez que a doença é causada pela reativação do vírus varicela-zoster no organismo. No entanto, a infectologista afirma que o tratamento médico pode ajudar a reduzir a gravidade dos sintomas, acelerar a recuperação e prevenir complicações. “Os medicamentos anti-virais, como aciclovir, valaciclovir e famciclovir, ajudam a combater o vírus e, reduzir a duração e a gravidade da erupção cutânea. O tratamento é mais eficaz quando iniciado o mais precoce possível após o início dos sintomas.”
Cristiana também destaca a necessidade de zelar pelos cuidados nos locais afetados, mantendo a região sempre limpa e seca – para prevenir infecções secundárias bacterianas – além de evitar coçar as lesões.
Vacina e prevenção
Já que não tem cura, a melhor opção é prevenir. “A principal estratégia de prevenção é a vacinação, sendo a medida mais eficaz para evitar a doença em adultos mais velhos e pessoas com comprometimento do sistema imunológico”, indica a médica. Hoje, existem duas vacinas disponíveis: a Zostavax (vacina de vírus vivo atenuado) e a Shingrix (vacina inativada). Segundo Cristiana, a Shingrix possui uma eficácia maior e por isso é a mais recomendada atualmente. “É aplicada via intramuscular e indicada para adultos a partir de 18 anos com risco aumentado para herpes zoster (como pessoas com HIV/Aids, transplantados, pacientes com câncer e em uso de drogas imunossupressoras); e também para adultos com 50 anos ou mais como rotina.”
Ambas as vacinas devem ser administradas em duas doses, com intervalo de dois meses entre elas. “Caso a pessoa já tenha tido a doença, pode receber a vacina, idealmente após seis meses, no mínimo, do episódio agudo de herpes zoster, já que a recorrência antes desse período é rara”, orienta a profissional. Alguns efeitos colaterais podem causar, em geral, de intensidade leve a moderada e transitórios, sendo os mais comuns: dor, inchaço e vermelhidão no local da aplicação da injeção.
Além disso, a médica cita que manter um sistema imunológico saudável também é essencial para ajudar a prevenir a reativação do vírus varicela-zoster. “Isso inclui manter um estilo de vida saudável, com dieta equilibrada, exercícios regulares e controle do estresse”, finaliza Cristiana.