Especialista indica formas de amenizar a tristeza pelo luto quando perdemos um animal de estimação
A vida ao lado de um pet é muito mais que educá-los ou levá-los para passear. São anos de convivência, momentos marcantes, dedicação e criação de um laço tão especial quanto com outros membros da família. Mas como lidar com o luto animal e a dor de perder um bichinho que esteve ao seu lado por tantos anos? Como aceitar e se curar da dor de se despedir de uma companhia que nos despertou amor incondicional e alegria? Malu conversou com um profissional para entender mais sobre esse processo e tentar tornar a perda menos dolorosa.
O luto animal é um processo e pode demorar…
Lidar com o luto envolve se adaptar à perda de alguém muito importante para nós. Por isso, devemos enxergar a aceitação como um processo e que, como toda evolução, não se concretiza de um dia para o outro – é preciso tempo, paciência e amparo. Ao se deparar com o sentimento de extrema tristeza, é comum que muitas pessoas se sintam perdidas e desesperançosas, e é neste momento que se deve ter cuidado para não desenvolver transtornos emocionais como ansiedade e depressão.
Para Fabiano de Abreu Agrela, mestre em psicologia, pós-doutor em neurociências pela Universidade da Califórnia e membro da Society for Neuroscience e da APA (American Philosophical Association), a perda de um animal de estimação pode ser dolorosa a ponto de prejudicar diferentes áreas da vida do tutor. “Dependendo da pessoa e dos problemas emocionais que ela tem, assim como a inteligência emocional, o luto pode afetar a vida como um todo e pode até revelar um possível transtorno. Saber fazer a manutenção emocional faz parte de um processo plástico no cérebro que exige inteligência.”
“Quando temos um animal, precisamos ter consciência que ele morre antes de nós, dependendo da nossa idade, a não ser que tenha uma tartaruga ou um papagaio. Ter consciência do tempo é uma maneira inteligente de alcançar a plenitude”, aconselha Agrela.
Ainda segundo o especialista, não existe um padrão para a forma com que se deve ou não reagir à perda do pet. É preciso compreender as particularidades e contexto de cada situação. “Temos que analisar o comportamento sempre de acordo com o indivíduo e suas vertentes baseando-se no histórico e personalidade”, explica. “Também é importante entender se a pessoa tem, além do animal de estimação, um membro na família como filhos, por exemplo, para compartilhar a emoção. Assim, um sentimento se sobrepõe a outro”, detalha o profissional.
Apego às memórias
Por mais que saibamos que a vida de todos é finita, assim como a dos pets, é difícil aceitar que ele não estará mais ao nosso lado, especialmente quando ele já se tornou parte da família e da rotina. Nesses momentos, o nosso cérebro é estimulado a buscar conforto nas lembranças e pode acabar originando ainda mais tristeza. “Uma morte faz com que o nosso cérebro busque memórias similares. Quando acionamos a amígdala com memórias negativas, trazemos mais memórias negativas”, explica o especialista, que conta que essa reação é, na verdade, um mecanismo de defesa para lidar com o sofrimento. “É um sistema que chamo de leque de opções para melhores saídas. Você busca essas memórias como forma de alerta.”
Quando adotar outro pet?
E quando é o momento de adotar outro pet? Será que a presença de um novo animal de estimação pode aliviar a dor da perda ou trazer ainda mais dor ao processo? O psicólogo afirma que essa resposta depende de fatores individuais e emocionais de cada tutor. “O momento certo é aquele que se sinta confortável e com vontade de fazê-lo. Se pensa que não é a hora de adotar um outro animalzinho, ok. Não faça nada sob pressão, mas se acha que isso pode amenizar a dor da perda, adote outro.”
O mais importante é respeitar os próprios sentimentos e o próprio tempo. Não existe momento ideal para a adoção, mas sim o momento com que cada um estará preparado para acolher um novo ser com muito amor, comprometimento e senso de responsabilidade. “As pessoas precisam ‘ouvir’ mais o que está dentro de si, assim como acreditar mais no ‘sexto sentido’, pois na realidade essas ações são relativas ao instinto que existe para nos protegermos”, aconselha Agrela.
“Entenda que as boas memórias duram mais que a vida de um animalzinho e elas os mantêm vivos. Seprecisa de apoio emocional, procure um profissional da saúde ou escolha pessoas que te façam ter conforto. Ou então, viva o luto no seu próprio tempo e consigo mesmo”, indica.
Se livre da culpa
A eutanásia é um assunto pra lá de delicado, e não é por menos. Se já é difícil se despedir do companheiro ao perdê-lo por um acidente, doença ou velhice, imagina a dor de ter em suas mãos a decisão de quando deve ser a hora do animal partir. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina Veterinária é o órgão responsável pela regulamentação da eutanásia de cachorros e outros animais, que é indicada apenas em casos de doenças incuráveis e a pets que estejam em grande sofrimento.
Mas a verdade é que, apesar de ser doloroso, é nossa obrigação saber quando o sofrimento do bichinho precisa acabar. De acordo com Agrela, é preciso ser racional e não se culpar por tomar a melhor decisão. “Nesse caso em específico, deve-se usar a razão, a inteligência emocional e fixar-se no conceito e na decisão. Se precisou sacrificar, é para o animalzinho não sofrer, logo, a decisão foi para o bem. Amar é não ser egoísta”, tranquiliza o profissional.