Identidade de gênero x sexualidade Foto: Pixabay

Desde que as discussões sobre diversidade de gênero se intensificaram, há muita confusão sobre o que esse conceito realmente significa. Um dos erros mais comumente cometidos sobre esse assunto é a má interpretação do que é identidade de gênero, e o que é orientação sexual. Quem nos ajuda a desmistificar esse assunto hoje é Claudia Petry, terapeuta e educadora sexual com especialização em Ginecologia e Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). 


Definições dos termos

De forma sucinta, Claudia define a identidade de gênero como a percepção interna que uma pessoa tem sobre seu próprio gênero, que pode ser masculino, feminino ou outro. “Já a orientação sexual”, ela acrescenta, “refere-se à atração que a pessoa sente por outros, podendo ser por pessoas do mesmo gênero, de gêneros diferentes ou de todos os gêneros”. 

Claudia também difere como podemos definir gênero, sexo biológico e sexualidade. 

  • Gênero refere-se às características e papéis sociais que a sociedade atribui a homens e mulheres, como comportamentos e expectativas;
  • Sexo biológico é a classificação física e biológica de uma pessoa como masculino, feminino ou intersexo, baseada em características como genitais e cromossomos;
  • Sexualidade envolve a atração emocional, romântica e sexual que uma pessoa sente por outras, incluindo a orientação sexual. 

Como cada definição é expressada

Seguindo essas definições, as principais expressões de identidade de gênero e de orientação sexual, “incluem masculino, que é a identificação e expressão como homem. Feminino, que é a identificação e expressão como mulher. Não-binário, que se refere à identificação fora do sistema tradicional masculino/feminino. Gênero fluido, que envolve mudanças na identidade de gênero ao longo do tempo. E agênero, que é a não identificação com nenhum gênero”, epecifica Claudia Petry. Essas expressões, segundo a especialista, demonstram a diversidade na forma como as pessoas vivenciam e manifestam sua identidade de gênero.

Ainda há muita confusão sobre identidade de gênero

Algo que ainda é cercado de dúvidas e gera bastante confusão e equívocos sobre o assunto identidade de gênero, é de que forma as pessoas que se identificam com um gênero que não corresponde ao sexo atribuído ao nascimento vivenciam a descoberta da identidade de gênero, independentemente da sexualidade. A terapeuta e educadora sexual explica que isso acontece através de um processo de autodescoberta, que pode contar com sentimentos de desconforto ou dissociação em relação ao seu corpo e às expectativas sociais. “Esse processo pode envolver reflexão interna, pesquisa sobre identidade de gênero e busca de apoio em comunidades ou grupos afins. A descoberta da identidade de gênero é única para cada pessoa e pode levar a uma jornada de aceitação. E, em muitos casos, à transição social ou médica, independentemente da orientação sexual.”

Reflexos das crenças enraizadas

Ainda de acordo com Cláudia, essa frequente confusão entre os conceitos de gênero e sexualidade é influenciada por vários fatores culturais e históricos. “A educação tradicional muitas vezes apresenta o gênero e a sexualidade de maneira binária, limitando a compreensão das diversidades”, esclarece a profissional. “Muitas culturas têm normas rígidas sobre papéis de gênero e expectativas. O que pode levar a mal-entendidos sobre a identidade de gênero e a orientação sexual”, completa.

Além disso, ela também cita a falta de representação adequada de identidades diversas na mídia e na sociedade como um fator que contribui para a perpetuação de estereótipos. “O histórico de discriminação e estigmatização contra pessoas LGBTQIA+ também desempenha um papel, dificultando discussões abertas sobre esses temas. Por fim, a linguagem e a terminologia em constante evolução podem criar barreiras para a compreensão clara dos conceitos”, comenta.

Cuidado com a saúde mental precisa de atenção

Quando falamos sobre saúde mental das pessoas em relação a suas próprias identidades de gênero, é preciso mensurar o impacto que a aceitação – tanto a própria, quanto a do mundo externo – tem um impacto positivo bastante significativo na autoestima e bem-estar. “Quando indivíduos são aceitos, eles tendem a experimentar menor ansiedade, depressão e estigma, levando a uma melhor qualidade de vida e bem-estar emocional”, pontua Claudia Petry.

E por isso, o papel das famílias e escolas é fundamental para apoiar crianças e jovens ao promover um ambiente de respeito e inclusão. “Isso pode ser feito através de educação sobre diversidade de gênero e sexualidade, além de incentivar a empatia e o diálogo aberto. Abordagens que incluem treinamento para educadores e workshops para pais têm mostrado ser eficazes”, afirma a especialista.

Os profissionais de saúde também têm responsabilidade sobre isso. E precisam oferecer aos pacientes um ambiente acolhedor e sem julgamentos, usando linguagem inclusiva e respeitando pronomes. “É fundamental que eles estejam informados sobre questões de gênero e sexualidade para fornecer cuidados apropriados e sensíveis.”

Ainda falta proteção legal

Porém, a terapeuta e educadora sexual alerta e lamenta sobre as lacunas nas políticas públicas que visem proteger as pessoas LGBTQIA+ e garantir que elas possam expressar livremente suas identidades de gênero e orientações sexuais. “Faltam leis específicas que protejam contra discriminação, além de haver insuficiência de serviços de saúde mental adequados e a ausência de programas educacionais que abordem a diversidade de gênero e sexualidade nas escolas. Essas lacunas dificultam a livre expressão das identidades de gênero e orientações sexuais”, conclui a profissional.