Educação sexual: ensinar é proteger! Marcos Mesa Sam Wordley-shutterstock_577318573

Incluir a educação sexual desde cedo traz consciência sobre o corpo e pode evitar que as crianças sejam vítimas de abuso

Sexo pode até não ser assunto para criança, mas sexualidade é. Apesar de ser um tema polêmico, não tem como negar que a educação sexual é extremamente determinante para o desenvolvimento saudável e seguro dos pequenos. O medo dos pais surge pelos mitos que envolvem esse assunto, como a possibilidade de erotização ou de incentivo à sexualização precoce de crianças e adolescentes. Mas nada disso é verdade. Inclusive, já foi comprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que quanto mais informações de qualidade sobre sexualidade, mais tarde os adolescentes iniciam a vida sexual.

Curiosidade natural

A orientação acerca desse tema, quando feita de maneira adequada, é essencial para que a criança conheça o próprio corpo. Até porque, além de questões pessoais, como prazer e saúde, a sexualidade também envolve tópicos sobre concepção humana. Esse assunto que traz muitas indagações e dúvidas na infância. “Falar de educação sexual é falar da própria vida. O diálogo sobre temas que envolvem sexualidade pode trazer muitos benefícios para a saúde sexual, física e emocional de crianças e adolescentes”, afirma Elaine Di Sarno, psicóloga e neuropsicóloga da USP.

“A educação é a saída para a prevenção de muitas doenças e muitas situações desagradáveis, como gravidez precoce e o contágio de doenças. Dessa forma, podem usufruir de forma gratificante e plena a sexualidade”, destaca a especialista.

Reconhecendo limites

Além disso, a educação sexual também é fundamental para gerar consciência sobre limites, o que pode evitar que a criança seja vítima de violações. “Quanto mais as crianças forem educadas a se autoconhecer, mais elas vão conseguir se proteger, reconhecer e evitar abusos. Diante da educação sexual, as crianças vão sendo instruídas a conhecer o próprio corpo e saberão reagir, ou pelo menos poderão verbalizar, sobre o que houve de errado”, explica a psicóloga. “Se não tiverem conhecimento, não entenderão o que está acontecendo nem irão pedir ajuda”, reforça.

Tudo no seu tempo

É muito importante que a orientação seja feita de acordo com a perspectiva da criança, acompanhando as curiosidades e descobertas de cada fase. Nesse sentido, Elaine elenca os principais pontos que devem ser trabalhados durante esse processo. “Os pais e responsáveis devem ensinar desde cedo e com abordagens apropriadas para cada faixa etária, conceitos de autoproteção, consentimento, sentimentos, diferença entre toques agradáveis e invasivos, protegendo as crianças e adolescentes, e possíveis violações”.

Quando começar a educação sexual?

A educação sexual deve ser incluída a partir de 18 meses, respeitando as fases de desenvolvimento infantil. Em suma, essa abordagem deve ser fortalecida na fase da puberdade, quando os desejos sexuais começam a ser manifestados. “Na adolescência é preciso falar de temas um pouco mais complexos, por conta do desenvolvimento intensificado”, conta Elaine.

Incentivo à diversidade

Além da consciência sobre limites, a educação sexual é fundamental para garantir a inclusão, promover igualdade de oportunidades e enfrentar o preconceito, discriminação e violência. Especialmente no que se refere a questões de gênero e sexualidade. Elaine aponta que a compreensão da sexualidade através de um método didático é a chave para uma sociedade mais tolerante e respeitosa. “A literatura mostra que somente uma educação que respeite a diversidade cultural, étnica e sexual, guardando as especificidades de cada ser humano, favorece o desenvolvimento das capacidades individuais, de uma autoestima saudável, de oportunidades iguais no trabalho e na vida social.”

É preciso dar nome

Recomenda-se nomear corretamente as partes íntimas durante esse processo de educação sexual. No início, é aceitável usar termos como “pipi” para o pênis. Mas assim que a criança tiver uma compreensão melhor, é importante usar os nomes corretos para cada parte. Observe como a criança interage com outras pessoas em relação a esses assuntos ou partes do corpo, e acompanhe como ela se refere às partes íntimas. Em momentos apropriados, retome o tema, reforce o aprendizado ou faça correções quando necessário.

E fora de casa, a educação sexual pode ser discutida?

Pode e deve! Definitivamente, é essencial que as crianças tenham esse suporte em outros locais além da própria casa. Principalmente porque muitos assuntos devem ser tratados por especialistas com autoridade sobre questões biológicas e de saúde pública. “Ensinar a temática da sexualidade exige uma educação teórica e científica, com uma linguagem acessível, desapegada de preconceitos e ideologismos, que oportunize serenidade aos pais e professores para debater o assunto junto às crianças e adolescentes”, explica Elaine.

Por fim, existem meios de pesquisa apropriados de se informar sobre o assunto, como livros, vídeos, websites. Mas é importante buscar conteúdo qualificado e de confiança, de instituições renomadas ou de órgãos oficiais. Afinal, a especialista reforça que ouvir outras abordagens, e falar sobre gênero e sexualidade fora do alicerce do lar é parte da construção do respeito à diferença. “Uma criança que chega em casa e só conhece uma única forma de convívio com o outro, tem na escola a oportunidade de conhecer outros modos que não envolvam a o preconceito e a violência, e isso é importante para auxiliar na compreensão de si e do outro. E isso contribui na construção de conceitos, no desenvolvimento de habilidades cognitivas, metacognitivas e emocionais”, finaliza.