O perfeccionismo causa um estado de insatisfação constante, que não é nada saudável
Você já deve ter ouvido afirmações como: “ser perfeccionista é qualidade, o perfeccionismo leva a perfeição, é evolução”. Segundo a psicóloga Sirlene Ferreira, isso não passa de um mito. Afinal, precisamos entender que, uma coisa é a busca por excelência, e outra, completamente diferente e nada saudável, é o perfeccionismo.
Qual a diferença?
“A excelência impõe limites, estabelece processos e ao mesmo tempo permite inovação, portanto é uma qualidade”, aponta a profissional. Já o perfeccionismo, segundo ela, é uma rigidez que engessa e é castradora, “não permite inovação e nem criatividade, é um pensamento que muitas vezes desqualifica”.
E nada disso é saudável pois estamos falando de um modelo idealizado. Ou seja, que não existe na vida real e não é viável de ser colocado em prática. O indivíduo denominado perfeccionista vive em um estado constante de insatisfação, nunca encontra a perfeição e, por isso, torna a busca por ela insana e descontrolada. “É uma neurose crônica, a pessoa não consegue viver sem construir barreiras contra a felicidade, ou seja, o simples, o corriqueiro e o básico não são bem-vindos”, pontua Sirlene.
“A manifestação do perfeccionismo é sempre a mesma: insatisfação plena, a pessoa sempre acredita que tudo poderia ser melhor.”
Principais sinais do perfeccionismo
•Alto nível de exigência;
•Procrastinação;
•Dificuldade de concluir tarefas;
•Inflexibilidade para erros ou mudanças
repentinas;
•Detalhismo extremo;
•Dificuldade em trabalhar em equipe;
•Insônia;
•Irritabilidade;
•Ansiedade;
•Resistência a críticas.
Nada está bom…nunca
Ao passo que isso piora, a consequência mais comum é a dor de viver uma vida sem satisfação, o que caminha para o desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão. “O ansioso precisa o tempo todo ser lembrado que o agora é o máximo a ser vivido e que o amanhã está por acontecer, e não o inverso. O depressivo tende a acreditar que tudo que está longe dele é melhor do que tudo que está ao seu alcance”, explica a psicóloga, que completa: “são essas características que tendem a desqualificar o real, e é esse comportamento enrijecido que define o perfeccionista.”
O perfeccionismo não surge do nada
O perfeccionismo é uma predisposição de nossa personalidade, ou seja, tende a ser estável e permanecer ao longo da vida. Mas isso não significa que não houve nada por trás da manifestação desse comportamento. Afinal, somos o reflexo da atmosfera em que fomos nascidos e criados e, portanto, pode ter origens genéticas e ambientais. “O ambiente determina padrões. Para um indivíduo que vive num lar onde as exigências são rígidas, é esperado que esse padrão de cobrança fará parte do seu perfil”, afirma Sirlene.
A pressão social, em ambientes competitivos que incentivam comparações, também contribui para a busca da perfeição. Além disso, eventos traumáticos, como bullying e abusos emocionais, podem aumentar a busca pela perfeição. Especialmente quando a pessoa se sente excluída por não atender às expectativas de um grupo.
Não é fácil conviver
Como resultado, tudo isso obviamente impacta a vida social, profissional e também as relações interpessoais. “Os perfeccionistas têm dificuldades para se socializar, pois as cobranças passam a fazer parte de sua vida como um todo e nem todas as pessoas estão dispostas a lidar com isso”, pontua a psicóloga. “Conviver com uma pessoa perfeccionista é penoso, frustrante e muito triste. Haja vista que o perfeccionista está o tempo todo apontando defeitos e não consegue usufruir da simplicidade do dia a dia”, conclui.
Sempre ouça a palavra de um profissional
Portanto, é recomendado procurar avaliação psicológica e psiquiátrica se o perfeccionismo causar sofrimento e prejudicar a vida pessoal ou profissional. O tratamento envolve psicoterapia, focando na melhora da autoestima e no enfrentamento de frustrações. Em casos mais graves, especialmente quando há transtornos psiquiátricos associados, o uso de medicamentos pode ser indicado.