Talvez você não saiba ou nem mesmo já tenha parado para pensar sobre isso, mas as artes marciais x Defesa pessoal, como o boxe e karatê, por exemplo, e a defesa pessoal, tem diferenças significativas. Os conceitos podem até parecer semelhantes, mas cada técnica conta com suas próprias particularidades, que, por sinal, vão muito além do combate corporal.
De forma geral…
Para esclarecer essa distinção, o médico do esporte Marcial Pereira descreve cada uma das atividades:
Artes marciais – “As artes marciais ou as lutas são sistemas estruturados de treinamento. Envolvem o desenvolvimento de habilidades físicas, mentais e espirituais, com foco em técnicas de combate. Elas são, em muitos casos, praticadas como esportes ou como uma forma de arte, mas também incluem aspectos de autodefesa”, explica.
Existem vários tipos de artes marciais, cada uma com técnica, fundamentos e escolas diferentes. São exemplos de artes marciais: jiu-jitsu, judô, boxe, karatê, kung fu, muay thai, taekwondo e muitas outras.
Defesa pessoal – “Já a defesa pessoal trata de um conjunto de técnicas e estratégias destinadas a ajudar uma pessoa a se proteger e a se defender em situações de perigo ou agressão. O foco principal é a autoproteção e sobrevivência em situações reais e imprevistas, como ataques em uma rua ou em lugares públicos”, pontua.
Cada qual com seu propósito
Ou seja, além da prática em si, há uma diferença entre os objetivos buscados por cada modalidade. “No caso da defesa pessoal, é ensinar a pessoa a reagir de uma maneira eficaz em situações de risco. Isso, com o menor grau possível de lesão e com o foco em fugir ou neutralizar rapidamente o seu agressor”, explica o médico. Enquanto na luta, ou nas artes marciais, o principal objetivo pode ser a melhora da condição física, a disciplina, o autocontrole e o domínio de técnicas de luta. “Em algumas artes marciais, o objetivo pode ser o desenvolvimento pessoal e o aprendizado filosófico e o respeito a culturas e tradições”, completa.
Finalidades diferentes, métodos diferentes
Uma outra distinção também está nos procedimentos ensinados e utilizados durante os treinamentos. Marcial Pereira explica que, “como a defesa pessoal busca incapacitar o agressor da maneira mais rápida possível, para se permitir uma fuga, muitas vezes são usadas técnicas ou golpes que atuem em pontos vulneráveis, como olhos, garganta e nariz”. Métodos esses que não são permitidos na luta, mas na defesa pessoal, sim, já que o intuito é gerar um controle imediato sobre o agressor, sem regra e sem limitação, para permitir a fuga rápida.
O treinamento é físico e mental
Já em termos de preparação, tanto física, quanto mental, o que muda é a priorização do que deve ser gerenciado. O treinamento das artes marciais, por exemplo, é mais amplo e envolve aspectos técnicos mais específicos, como força, resistência, aeróbio, treinos de mobilidade e para prevenção de lesões. Por outro lado, na defesa pessoal, a preparação física é menos específica, mais geral, voltada para potência e prontidão dos golpes.
Sobre os aspectos psicológicos, o médico conta que a preparação mental para a defesa pessoal é mais focada em gerenciar o estresse, o medo e a reação em situações de risco real. “O objetivo é garantir que a pessoa tenha clareza e a rapidez necessárias para tomar decisões rápidas em uma situação inesperada”, afirma. “Já nas artes marciais, a preparação mental é muito mais ampla. Ela se volta tanto para o desenvolvimento pessoal quanto para mentalidades competitivas, o controle do desempenho sob pressão e mentalização de estratégia”, acrescenta o profissional.
A defesa pessoal pode te salvar!
Buscamos o treinamento de defesa pessoal principalmente para estarmos preparados para situações do dia a dia que exijam uma resposta rápida a riscos de agressão ou violência em contextos inesperados. “Nesses casos, a prioridade não é lutar ou vencer um combate, mas sim sobreviver e escapar”, enfatiza o médico do esporte Marcial Pereira. Aqui, podemos citar exemplos como tentativa de agressão física, violência doméstica, agressões em transportes públicos ou outros locais lotados.
Mas é de extrema importância reforçar: a técnica de defesa pessoal não vai te ensinar a entrar em conflito, e sim agir para fugir deles. “O objetivo principal não é a luta, mas preservar segurança e integridade. A ênfase está em evitar confronto, sempre que possível, através da prevenção e da percepção da situação onde você está envolvido. Quando o confronto se torna inevitável, a estratégia é neutralizar com uma ação rápida o agressor, de forma que permita a sua fuga em segurança”, descreve o médico.
“A ideia da fuga na defesa pessoal não é considerada um sinal de fraqueza, mas sim de sabedoria.”