
A hipospádia é uma condição congênita que afeta o sistema urinário e genital masculino. Caracteriza-se por uma abertura anômala da uretra, canal responsável pela saída da urina, na parte inferior do pênis, ao invés de sua posição natural na glande. Pode variar desde um leve deslocamento até casos mais severos. Se não tratada da forma adequada, ela pode ocasionar micropênis e até mesmo gerar uma curvatura no órgão.
Cirurgia para Hipospádia
Novas técnicas cirúrgicas, assim como o uso da oxigenioterapia hiperbárica, estão melhorando o tratamento e reduzindo as complicações.
A cirurgia para correção da hipospádia é um procedimento delicado. Ele visa reposicionar a abertura uretral na glande, garantindo uma relação anatômica correta entre glande e uretra, além de corrigir eventuais curvaturas penianas. O procedimento é, na maioria dos casos, realizado em regime ambulatorial, permitindo que a criança receba alta hospitalar no mesmo dia.
De acordo com o urologista Dr. Ubirajara Barroso Jr., chefe de cirurgia reconstrutiva de uretra de crianças e adultos do Hospital da Universidade Federal da Bahia, a experiência do cirurgião é um fator determinante para o sucesso da intervenção. “Os hipospadiologistas são cirurgiões especializados na correção da hipospádia, eles possuem uma abordagem específica que diminui riscos e aprimora os resultados da cirurgia. A experiência do cirurgião desempenha um papel vital na redução das complicações cirúrgicas”, explica o médico.
Melhores técnicas para cirurgia para Hipospádia
Entre as técnicas avançadas, o uso do enxerto de mucosa oral em formato de “U” invertido vem sendo adotado para reduzir a retração do enxerto e melhorar a eficácia da reconstrução uretral. A autoria da técnica de “U” invertido pertence ao Dr. Ubirajara Barroso e foi publicada no Journal of Pediatric Urology. “Essa técnica consiste em retirar tecido da mucosa da face interna da boca em forma de “U” dobrando a quantidade de enxerto para a cirurgia. O que contribui para melhores resultados e melhor eficácia no tratamento da hipospádia”, descreve Dr. Ubirajara Barroso Jr., que também atende em São Paulo.
Além disso, estudos indicam que a oxigenioterapia hiperbárica pode trazer benefícios para a recuperação pós-cirúrgica. Como aumento da oxigenação dos tecidos, melhora na aderência do enxerto e redução das complicações.
“Pode utilizá-la após a cirurgia e em alguns casos antes e após o procedimento cirúrgico. Para pacientes ainda não operados, podem oferecer 10 sessões nos pós-operatório. Para pacientes que irão passar por uma segunda intervenção são ofertadas 10 sessões antes da cirurgia e 20 sessões depois. Em pacientes multioperados as sessões de hiperbáricas são realizadas 1 mês antes e 1 mês depois da cirurgia”, explica Dr. Barroso Jr.
Incidência: 3 a 8 casos para cada mil nascidos
Segundo Dr. Barroso Jr., a incidência da condição varia entre 3 e 8 casos para cada 1.000 nascidos vivos. Além disso, o urologista destaca que quando um filho nasce com hipospádia, há uma chance de 20% de outro membro da família também apresentar a condição.
O único tratamento para essa condição é a cirurgia, que deve ser realizada ainda na infância, preferencialmente até um ano de idade. Isso para minimizar impactos psicológicos e garantir melhores resultados funcionais.
A hipospádia é classificada de acordo com a localização da abertura uretral:
- Glandar: o meato uretral está localizado na base da glande.
- Subcoronal: a abertura está logo abaixo da glande.
- Médio-peniano: a uretra se abre no corpo do pênis, entre a glande e a base.
- Proximal ou peniano inferior: o meato está na parte inferior do pênis, próximo à base.
- Escrotal: a abertura se encontra no escroto, tornando-se um caso mais severo.
- Perineal: forma mais grave, em que a uretra se abre na região entre o escroto e o ânus.
Hipospádias proximais
As hipospádias proximais correspondem a cerca de 5-10% dos casos. Elas são mais raras e complexas, exigindo reconstruções cirúrgicas avançadas com o uso de enxertos retirados do prepúcio ou da mucosa oral. Em alguns casos, exames laboratoriais específicos podem ser necessários para avaliar possíveis condições intersexuais. Alguns estudos apontam que achados combinados de hipospádia e criptorquidismo (testículos não descidos) geralmente indicam a existência de um estado intersexual.
Embora a cirurgia seja idealmente realizada na infância, muitos homens que não puderam corrigir a hipospádia quando crianças têm receio de buscar o procedimento na vida adulta. No entanto, a correção é possível e recomendada especialmente para aqueles que enfrentam dificuldades na função urinária ou sexual.
Além do estético
Além das questões estéticas, a correção pode ser essencial para melhorar a fertilidade. Uma vez que, em casos mais graves, a abertura uretral pode estar próxima ao escroto, dificultando a fecundação.
Em mais de 90% dos casos, a correção pode ser feita em uma única intervenção. Enquanto casos mais complexos podem exigir cirurgias em dois tempos, com um intervalo mínimo de seis meses entre os procedimentos. A evolução das técnicas médicas trouxe avanços como a utilização de oxigenoterapia hiperbárica no pós-operatório, contribuindo para a melhor cicatrização e redução de complicações.
Entre as complicações que podem ocorrer estão estenose de uretra (obstrução do canal urinário), fístulas (vazamento de urina), persistência da curvatura peniana e deiscência da uretra. O pós-operatório requer cuidados específicos, incluindo a manutenção de uma sonda uretral por um período entre 5 e 14 dias, dependendo da gravidade da cirurgia.