Etarismo: Como promover o respeito e valorizar profissionais 50+ Embora nem sempre explícito, o preconceito com base na idade — conhecido como etarismo — ainda afeta muitos profissionais

Executivo de cultura organizacional explica como combater o etarismo e promover colaboração entre gerações no ambiente corporativo

O perfil etário da população brasileira está mudando rapidamente. Dados mais recentes do IBGE mostram que o número de pessoas com 60 anos ou mais quase dobrou entre 2000 e 2023, passando de 8,7% para 15,6% da população total. E essa tendência deve se acentuar nas próximas décadas: por volta de 2042, os idosos devem se tornar o maior grupo etário do país, superando a faixa entre 40 e 59 anos, que hoje representa a maior parcela (26,2%). Já em 2070, estima-se que quase 4 em cada 10 brasileiros (37,8%) estarão nessa faixa etária. Com o envelhecimento da população economicamente ativa, a diversidade geracional tornou-se uma realidade no mundo do trabalho.

Em muitas empresas, profissionais de diferentes idades e trajetórias compartilham metas, projetos e decisões. Essa convivência, embora desafiadora em alguns aspectos, representa uma das maiores riquezas que uma organização pode ter, desde que seja encarada com consciência, preparo e intenção. Para Rennan Vilar, diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional, o papel do RH, neste contexto, é criar uma cultura que reconheça o valor de cada profissional, independentemente da idade.

“A diversidade geracional é uma potência. Mas para que ela funcione na prática, é essencial que a empresa promova uma cultura de respeito mútuo, escuta ativa e troca de experiências”, afirma o executivo.

Convivência entre gerações exige escuta e adaptação

A gestão de equipes multigeracionais pode esbarrar em diferenças de comunicação, expectativas profissionais e estilos de trabalho. Segundo Vilar, o desafio está em transformar essas diferenças em pontos de conexão. “Cada pessoa, em qualquer fase da vida, pode trazer contribuições relevantes. O que o RH precisa fazer é garantir que todos tenham espaço para expressar ideias, aprender e ensinar”, destaca.

Entre os principais obstáculos para essa convivência saudável, o especialista aponta:

  • Falta de empatia e abertura entre gerações;
  • Estereótipos e suposições baseadas na idade;
  • Gestão pouco flexível ou padronizada;
  • Exclusão de determinados perfis em decisões estratégicas.

Etarismo ainda é um desafio invisível

Embora nem sempre explícito, o preconceito com base na idade — conhecido como etarismo — ainda afeta muitos profissionais. Ele pode aparecer em processos seletivos, no acesso a promoções ou até na forma como certos colaboradores são ouvidos (ou não) nas equipes. “Precisamos tratar o etarismo com a mesma seriedade que qualquer outra forma de discriminação. Isso começa por reconhecer sua existência e rever processos que excluem, ainda que de forma inconsciente”, afirma Vilar. O especialista recomenda medidas como:

  • Capacitações sobre diversidade etária;
  • Revisão dos critérios de recrutamento e avaliação de desempenho;
  • Estímulo à convivência e à troca entre pessoas de diferentes idades.

Profissionais 50+ têm papel estratégico nas empresas

Longe de estarem ultrapassados, os profissionais com mais de 50 anos têm competências valiosas que fazem diferença nas organizações. Experiência acumulada, capacidade de análise, senso de responsabilidade e visão de longo prazo são apenas algumas delas. “Profissionais seniores são fundamentais para o equilíbrio das equipes e para o desenvolvimento de outros talentos. Quando há espaço para que compartilhem sua trajetória, todos ganham”, observa Vilar.

Além disso, muitos profissionais 50+ estão em constante atualização, aprendendo novas tecnologias e se reinventando profissionalmente, o que derruba o mito de que não acompanham as mudanças do mercado.

Como incentivar a colaboração entre gerações?

Para transformar a diversidade etária em vantagem competitiva, é preciso criar oportunidades de convivência e aprendizado mútuo. Algumas ações sugeridas pelo especialista incluem:

  • Programas de mentoria reversa, que promovem trocas entre colaboradores mais jovens e mais experientes;
  • Projetos intergeracionais, com equipes formadas intencionalmente por profissionais de diferentes idades;
  • Espaços de escuta ativa, onde todos possam contribuir com ideias e perspectivas;
  • Trilhas de desenvolvimento personalizadas, respeitando os momentos de carreira de cada colaborador.

Atração e retenção de talentos seniores

Para que profissionais 50+ se sintam acolhidos desde o processo seletivo, as empresas precisam revisar sua estratégia de gestão de pessoas. Segundo Vilar, alguns caminhos são:

  • Divulgar vagas com linguagem inclusiva e sem exigências etaristas;
  • Oferecer planos de carreira que considerem diferentes ritmos e prioridades;
  • Incluir profissionais mais experientes em programas de desenvolvimento e liderança;
  • Valorizar conquistas individuais e coletivas ao longo do tempo.

“Inclusão etária é uma questão de justiça, diversidade e também uma decisão estratégica. Quando diferentes gerações atuam juntas com respeito e colaboração, os resultados são mais consistentes, criativos e sustentáveis”, conclui Vilar.