
Autora do livro “O bom do Alzheimer” explica como identificar os sinais de alerta e por que é essencial mudar o olhar sobre o diagnóstico
Com o avanço da idade, é comum que pequenos esquecimentos passem a fazer parte do cotidiano, como não lembrar onde guardou as chaves, esquecer o nome de uma pessoa conhecida ou ter dificuldades para lembrar o que ia dizer em uma conversa. Esses lapsos geralmente não são motivo de alarme. A chamada “falha de memória benigna” é um processo natural do envelhecimento e também pode estar relacionada a fatores como estresse, ansiedade, noites mal dormidas, excesso de tarefas e até carências nutricionais.
“É importante entender que o cérebro também envelhece. Com o tempo, nós perdemos agilidade física e também esperamos que a agilidade mental diminua. O que não pode acontecer é esse esquecimento interferir na autonomia ou nas atividades básicas do dia a dia”, explica a gerontóloga Cláudia Alves, autora do livro O bom do Alzheimer.
Dados importantes
Segundo a Associação Internacional de Alzheimer (ADI), mais de 55 milhões de pessoas vivem com demência no mundo, e a estimativa é que esse número chegue a 139 milhões até 2050. No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas enfrentam a doença, e ainda não diagnosticamos muitos casos.
A especialista destaca que o esquecimento do envelhecimento natural tende a ser pontual e reconhecido pela própria pessoa. “Ela pode demorar a lembrar o nome de um ator ou onde colocou os óculos, mas geralmente se recorda depois. Já no Alzheimer, a pessoa não apenas esquece com frequência, como também nega ou não percebe que esqueceu”, esclarece Cláudia.
Para ela, é fundamental romper com o tabu em torno do diagnóstico. “Muita gente evita procurar ajuda por medo da confirmação. Mas o diagnóstico precoce pode garantir melhor qualidade de vida, além de permitir que a pessoa participe ativamente das decisões sobre seu futuro.”
Emoções importam
Outro ponto importante é observar o comportamento emocional, e não apenas as falhas de memória. “Mudanças de humor, apatia, agressividade ou desorientação são sinais tão relevantes quanto o esquecimento. O Alzheimer é uma doença do cérebro como um todo, não só da memória”, afirma.
Conforme dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), é importante buscar avaliação médica quando os esquecimentos se tornam frequentes e impactam tarefas do dia a dia, quando a pessoa repete histórias ou perguntas várias vezes sem perceber, apresenta confusão em lugares conhecidos ou com datas, tem dificuldades com palavras ou para seguir instruções simples, ou quando surgem mudanças bruscas de comportamento ou personalidade sem explicação.
Embora o Alzheimer ainda não tenha cura, profissionais tratam a doença com medicamentos, terapias cognitivas e apoio psicossocial, o que ajuda a retardar a progressão dos sintomas. E quanto antes for identificado, melhor.
Cláudia Alves propõe também uma nova forma de encarar a doença. Em seu livro, ela aborda como é possível encontrar vínculos, afeto e até redescobertas no convívio com quem foi diagnosticado. “O Alzheimer pode ser cruel, mas também pode ser um convite para desacelerar e viver o presente com mais presença e empatia”, diz. E conclui: “Mais importante que lembrar tudo é não esquecer de olhar com carinho e paciência para quem está passando por esse processo.”