Adultização nas redes sociais: entenda exposed feito por Felca O influencer Felca. Reprodução: Youtube

O assunto ganhou destaque nas redes após o influenciador digital Felca publicar um vídeo em denúncia aos conteúdos de pedofilia

O advento da tecnologia e da internet das coisas serviu para ganhos e atribuições que modificaram a história muito positivamente. No entanto, não é de hoje que o meio digital vem ocupando o posto de intermediário, ao acabar viabilizando uma rede de conteúdos duvidosos e mascarados para expor o público infantil sem que o telespectador perceba a real intenção. Manipulação nas redes sociais por pessoas que surfam no hype jovem, descontraído e, infelizmente, pouco democrático.

Recentemente, o youtuber e influenciador digital Felca, conhecido por seus vídeos de reação e sátiras de tendências da internet, denunciou o crescimento de conteúdo e nicho de pedofilia nesse ambiente, que muitos negligenciam e raramente discutem. Ele, que também já havia se colocado contra as chamadas “bets”, gravou um vídeo intitulado “Adultização”. Nele, expõe perfis que exploram a imagem de crianças online e revela, ainda, a falta de segurança no interior digital.

Vídeo provocou debate

O vídeo oferece alerta de gatilho e evidencia, na prática, como o algoritmo funciona para entregar esse tipo de conteúdo para pedófilos. O Projeto de Lei nº 3.066, de 2022, alterou a Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990, voltada ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e previa como crime contra a criança a superexposição nociva nas redes sociais e páginas da internet. Somente na noite desta segunda-feira (11), cerca de 13 outros projetos foram protocolados na Câmara determinando a adultização e penalização da pornografia, dos quais o de nº 3.852 sugere abertamente a criação de uma “Lei Felca”.

O advogado especialista em segurança cibernética e direito digital, Ricardo Vieira, afirma que a educação digital raramente alcança os adultos. Por isso, é preciso redobrar a segurança entre as crianças. “Este é mais um caso em que se reacendeu o debate sobre a regulamentação das redes sociais, diante da grande falha das Big Techs em bloquear conteúdos nocivos a crianças e adolescentes. As redes sociais devem exercer maior controle sobre as contas de crianças e adolescentes e atuar de forma preventiva para impedir a postagem de conteúdos inadequados em perfis e o compartilhamento com outros usuários, já que dispõem de tecnologia capaz de inibir essas situações. Diuturnamente, têm sido noticiados casos em que menores de idade são vítimas de cyberbullying, racismo, homofobia e violência sexual, todos cometidos por meio da internet. Tais fatos não podem ser tolerados nem permitidos.”

Cuidado com excesso de estímulos

Algo que ainda pontua uma preocupação, para além do dinamismo da participação do público infantil nas redes como membros ativos em um canal ou perfil adulto, é justamente a idade cognitiva que permite o acesso desses jovens e que faz com que eles saibam equilibrar vida digital e vida real. Segundo o professor e consultor especialista em Inteligência Artificial André Barcaui, o resultado da internet para todas as faixas etárias é de um ambiente que oferece utilidade real. Porém, empurra com frequência estímulos que pouco contribuem para a formação intelectual.

“Há um debate legítimo sobre limites etários. Se sociedades estabelecem idade mínima para dirigir, por que não pensar em marcos para o primeiro celular e para a entrada gradativa em redes sociais? Com prerrogativas que aumentem ao longo do tempo, como acontece com a carteira de motorista provisória e definitiva em alguns países. O ponto não é proibir, e sim diferenciar acesso, configurar proteções e ensinar responsabilidade digital em ciclos, de acordo com a maturidade e o contexto familiar”, pontuou.

Exposed

Na lista dos influenciadores citados no vídeo-denúncia de Felca estavam Bel para Meninas, Hytalo Santos e Kamylinha, que também faz parte da “Turma de Hytalo Santos”. No caso de Bel, os internautas levantaram uma corrente de comentários e especulações sobre a criação da menina, que hoje tem 18 anos. Mas na época dos casos, era apenas uma criança e teve a infância exposta em um canal do YouTube.

Já Hytalo Santos, que ganhou notoriedade nas redes sociais por produzir conteúdos voltados ao público jovem, com a participação de Kamylinha, que hoje tem 17 anos, segue investigado pelo Ministério Público da Paraíba por suposta exposição inadequada de adolescentes em suas redes sociais. Alguns vídeos envolvem festas com bebidas alcoólicas, cenas de topless e diversos episódios com teor sexual.

“Para a Fundação Abrinq, a sociedade adultiza crianças ao expô-las precocemente a comportamentos, responsabilidades e expectativas que deveriam ser dos adultos. Portanto, há um período mínimo de exposição e consciência própria para certas práticas. Pois, a pressão para agir de maneira mais madura os priva de desenvolver aspectos importantes para um crescimento saudável. Como brincar ao ar livre, o que estimula a criatividade, o aprendizado e o equilíbrio emocional. Entre os impactos, estão problemas emocionais e psicológicos, como ansiedade e depressão. Além de apresentarem dificuldades na socialização e na formação de uma identidade própria”, destacou a psicóloga Juliana Barbato.