Apneia acomete maioria dos bebês com menos de 28 semanas

Apneia em recém-nascidos prematuros exige tratamento adequado e atenção redobrada

No Brasil, 1 a cada 10 nascimentos acontece antes das 37 semanas de gestação, colocando o país entre os 10 com maior índice de partos prematuros no mundo. Essa realidade aumenta a demanda por cuidados essenciais logo nos primeiros dias de vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) chamou atenção para o tema ao escolher como mote da campanha de 2025 o lema “cuidados seguros para cada recém-nascido e cada criança”, dentro da iniciativa do Dia Mundial da Segurança do Paciente, celebrado em 17 de setembro.

Apneia da prematuridade

A imaturidade pulmonar está entre as principais causas de internação em UTIs neonatais, principalmente em bebês prematuros. “Entre as complicações mais comuns está a apneia da prematuridade, caracterizada pela suspensão do fluxo de ar por 20 segundos ou mais. O episódio também pode ocorrer por menos tempo, quando vem acompanhado de bradicardia (queda da frequência cardíaca) ou hipoxemia (redução dos níveis de oxigênio no sangue). Além da apneia, condições como a Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) e a displasia broncopulmonar (DBP) também afetam prematuros e exigem tratamento especializado”, explica a pediatra neonatologista Marta David Rocha de Moura, doutora em ciências da saúde pela UnB e docente do curso de medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde de Brasília/DF.

Medicação e riscos na UTI neonatal

Mesmo com os avanços da medicina, a internação em UTI neonatal expõe os bebês a riscos importantes. De acordo com a especialista, a prescrição de medicamentos deve ser feita em doses extremamente precisas, o que dificulta a manipulação em pequenas quantidades. A pediatra neonatologista também alerta que a manipulação de medicamentos pode comprometer a eficácia e até colocar a vida do bebê em risco. “Pequenas variações podem gerar subdosagem, prejudicando o tratamento da apneia, ou superdosagem, aumentando o risco de toxicidade”, explica.

Tratamento da apneia

O tratamento adequado da apneia da prematuridade pode salvar vidas. “O manejo clínico de pacientes recém-nascidos prematuros frequentemente requer intervenções específicas, como a administração de surfactante pulmonar, o uso criterioso de antibióticos frente a risco infeccioso e a introdução do citrato de cafeína como estratégia eficaz para tratamento da apneia. Tais medidas constituem pilares fundamentais para a estabilização clínica e a melhoria dos desfechos neonatais”, afirma a especialista.

No caso da apneia, o citrato de cafeína atua como estimulante do sistema nervoso central, melhorando a atividade elétrica diafragmática e aumentando a força muscular respiratória. Esse medicamento não apenas ajuda a prevenir os episódios de apneia, como também está associado à redução de complicações graves, como displasia broncopulmonar, paralisia cerebral e atrasos cognitivos. Estudos indicam ainda possível efeito neuroprotetor no cérebro em desenvolvimento do recém-nascido prematuro.

Conscientização e segurança do paciente

A conscientização sobre os riscos e benefícios dos tratamentos é fundamental para garantir a segurança dos bebês. “Familiares e profissionais da saúde informados podem participar mais ativamente das decisões sobre o tratamento dos bebês. Aqueles que compreendem os efeitos adversos de um medicamento podem estar mais atentos a qualquer sinal ou sintoma incomuns no bebê. Isso pode ser vital para a detecção precoce de problemas”, explica Marta.

Dados mostram que 1 em cada 10 pacientes sofre danos durante o atendimento médico e que 50% desses eventos poderiam ser evitados. Em UTIs neonatais, os erros de medicação são até oito vezes mais frequentes do que em adultos, sendo os mais comuns relacionados à dose, frequência e via de administração.

Dia Mundial da Segurança do Paciente 2025

Neste ano, a OMS reforça a importância de garantir segurança desde o início da vida. A campanha global busca destacar cuidados durante o parto, no pós-parto, além da segurança da medicação, imunização, diagnóstico precoce e prevenção de infecções. Karina Pires, diretora executiva do Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente, resume o desafio. “Essa é uma grande oportunidade de direcionar os holofotes para um problema que merece toda a dedicação e atenção. Os riscos e a redução de danos evitáveis em serviços de neonatologia e pediatria.”