
Comportamento masculino muda e impulsiona a criação de kits próprios com alicates, cortadores e outros itens de uso pessoal
Durante décadas, o universo do autocuidado foi associado quase exclusivamente ao feminino. Mas esse cenário vem mudando, e com força. Nos últimos cinco anos, as buscas por “autocuidado masculino” mais que dobraram no Google Brasil, com os maiores picos registrados em agosto e dezembro, datas ligadas ao Dia dos Pais e às festas de fim de ano. E os números dizem muito sobre o que está acontecendo dentro das casas brasileiras: os homens estão se cuidando mais e melhor.
Essa mudança de comportamento é percebida também no mercado. Segundo a Euromonitor International, o setor global de beleza masculina movimentou US$ 76 bilhões em 2023 e deve chegar a US$ 100 bilhões até 2028. No Brasil, o crescimento é puxado por homens entre 25 e 35 anos, mais atentos a práticas de bem-estar e prevenção.
O autocuidado masculino é repleto de novidades
A rotina de cuidados que antes se limitava, muitas vezes, ao barbeador e à colônia, agora inclui skincare, higiene dos pés, corte das unhas com atenção e até organização de kits próprios, com itens escolhidos a dedo. Sem falar nos cuidados com a barba e pelos, assim como os cortes de cabelo estilosos, que viraram moda entre eles. Cortadores, alicates, pinças, lixas e tesouras ganham espaço nas necessaires masculinas, com cada vez menos improviso e mais autonomia.
Uma pesquisa da Opinion Box confirmou a tendência: 66% dos homens brasileiros adotaram novos hábitos de autocuidado nos últimos dois anos. Além disso, 4 em cada 10 passaram a comprar seus próprios produtos de higiene e cuidados pessoais.
Mais cuidado, mais saúde
A mudança de comportamento vai além da vaidade. As pessoas, que antes viam isso como futilidade, agora associam o autocuidado ao bem-estar e, principalmente, à prevenção. Cortar as unhas corretamente evita inflamações. Cuidar dos pés pode prevenir infecções. E reservar alguns minutos do dia para si tem efeito direto na autoestima e na saúde mental.
Segundo a consultoria Mintel, 58% dos homens brasileiros já associam vaidade à saúde e bem-estar, e não mais à futilidade, uma percepção que vem moldando novos hábitos de consumo.
Esse novo olhar para o corpo e para a saúde também se reflete no discurso de quem acompanha de perto o cotidiano de clínicas e consultórios. “Historicamente, a sociedade ensinou os homens a não demonstrar fragilidade, a evitar o médico e a não falar sobre saúde mental. E isso teve consequências sérias. Ver o autocuidado masculino ganhando espaço é um avanço que vai além da estética: é sobre promover uma cultura de prevenção, incentivar o diálogo e criar um ambiente em que os homens se sintam confortáveis para buscar ajuda. É uma mudança de mentalidade que tem impacto direto na qualidade de vida e na longevidade”, afirma Jéssica Souza, gerente de Marketing do AmorSaúde, maior rede de clínicas médico-odontológicas do país.
Nova geração, novos hábitos
As marcas, que acompanham de perto os hábitos de consumo, também notam o crescimento do interesse por autocuidado. “Hoje, o homem busca produtos que funcionem bem, que durem, e que sejam só dele. É um reflexo direto dessa mudança de mentalidade”, afirma Raquel Baccin, desenvolvedora de produtos da Mundial, tradicional marca brasileira especializada em cuidados pessoais.
Ela explica que há um movimento crescente de homens que não querem mais dividir itens com a família ou com a companheira. “Eles querem um kit próprio, não emprestado. É sobre praticidade, sim, mas também sobre identidade.”
Segundo o relatório Pinterest Predicts 2024, as buscas por grooming masculino e cuidados pessoais para homens cresceram mais de 200% na América Latina, indicando que essa preocupação com o cuidado veio para ficar.
Seja no cuidado com as unhas, no corte do cabelo ou no momento de fazer a barba, os homens estão cada vez mais interessados em cuidar de si, não só por estética, mas porque entenderam que esse tempo também é sobre saúde, bem-estar e amor-próprio.