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Desapegar não é sobre esvaziar armários, é sobre abrir espaço dentro de si. “Tudo o que guardamos em excesso, seja em casa ou no coração, ocupa o lugar do novo”, afirma a psicoterapeuta Daniele Caetano, fundadora da Caminhos da Terapia.
Segundo ela, o que realmente pesa não são os objetos, mas as emoções não resolvidas. “A desordem externa costuma ser o espelho da bagunça interna. Quando limpamos um espaço físico, também reorganizamos pensamentos e sentimentos.”
Para Daniele, deixar ir é um ato de coragem. “Nem sempre é fácil abrir mão do que nos acompanhou por tanto tempo, mas é justamente nesse gesto que mora a liberdade. Cada vez que soltamos algo, reafirmamos: ‘eu confio no fluxo da vida’.” Ela explica que o processo de desapego não precisa começar com grandes mudanças. “Escolha uma área da casa, uma bolsa, uma gaveta, e observe o que sente ao tocar em cada objeto. O desapego consciente é sobre se escutar: o que isso representa para mim hoje? Ainda faz sentido?”
Presentes, fotos e lembranças de antigos relacionamentos tendem a carregar uma energia emocional intensa. “O medo de se desfazer vem da crença de que, ao jogar fora o objeto, perdemos a história. Mas o que realmente importa não está nas coisas, está nas vivências que já fazem parte de quem somos”, diz. Ela conta o caso de uma paciente que guardava o colar dado por um ex-namorado, mesmo após anos do término. “Um dia, ela decidiu deixar o colar ir. Disse que foi como soltar uma parte da dor que ainda prendia. A partir dali, começou a se abrir para novas experiências, inclusive um novo amor.”
Doar é um gesto de amor e autocuidado
Para a psicoterapeuta, o ato de doar ou descartar não é sobre perda, mas sobre autocuidado. “Doar é devolver ao mundo algo que cumpriu sua missão conosco. É um gesto de amor, por si e pelo outro.” Para quem quer começar a praticar o desapego, ela propõe uma reflexão simples: “Isso ainda me faz bem? Representa a pessoa que sou hoje? Carrega uma lembrança feliz ou um peso? Se duas dessas respostas forem negativas, o melhor é agradecer e deixar ir.”
Criar pequenos rituais também ajuda a manter a energia da leveza. “Abrir as janelas pela manhã, acender uma vela, colocar uma música que desperte alegria… são gestos simbólicos que sinalizam ao inconsciente que o novo é bem-vindo.” Outra sugestão é praticar o que ela chama de “desapego de estação”: a cada mudança de clima, revisar o que pode ser doado, recomeçado ou transformado, dentro e fora de casa.
“Desapegar é aceitar o movimento da vida. Tudo muda e nós também. Quando entendemos isso, parar de resistir se torna o primeiro passo para recomeçar com leveza”, conclui.