A saúde e bem-estar das crianças é uma pauta com muitos argumentos conflitantes. Especialmente quando falamos sobre o uso de dispositivos eletrônicos durante o processo de aprendizagem. Afinal, os games são benéficos ou maléficos ao desenvolvimento infantil?
Existe um balanço entre o que é bom e o que é ruim
Caio Silveira Schweller, Coordenador Administrativo da Ctrl+Play, escola de programação e robótica para crianças e adolescentes, afirma que, como quase tudo na vida, os jogos podem ter efeitos tanto positivos quanto negativos. “Muitas vezes, os problemas tipicamente relacionados aos jogos (vício, violência, isolamento social, sedentarismo, etc.) são fruto de excessos e de problemas sociais e familiares. Há, no entanto, o fato de que videogames, como atividades sociais que, podem sim desempenhar um papel importante no desenvolvimento moral e de caráter das crianças que os jogam”, esclarece.
Ainda segundo o profissional, é o contexto específico da criança que dirá, se os videogames são benéficos ou maléficos para ela. “Se não são uma forma de lazer saudável, que não ocorre em detrimento da integração social, da performance escolar e do relacionamento familiar, os jogos podem, inclusive, ajudar no desenvolvimento”, pontua. A mecânica e a narrativa dos jogos escolhidos também são fatores decisivos nesse sentido.
Há resistência dos pais?
De acordo com Schweller, é comum que pais e educadores tenham a preocupação de que o uso de jogos na educação possa trazer possíveis distrações e reforçar vícios e comportamentos negativos (como violência, excesso de competição, etc.). “Outro questionamento comum é como a gamificação pode ser aplicada em um contexto educacional que muitas vezes não é padronizado – por exemplo, quando falta acesso a computadores e/ou à internet”, aponta o Coordenador.
Portanto, para bater de frente com uma possível resistência, o profissional explica que a Ctrl+Play conta com metodologia baseada em três pilares: divertir, ensinar e desenvolver. “Esses pilares são essenciais porque, lidando com jovens de sete a 17 anos, o simples entretenimento não justifica o investimento, assim como apenas focar na parte técnica dos jogos não proporciona um aprendizado completo sobre tecnologia”, completa.
Com monitoramento, os frutos dos games serão positivos
Já Augusto Jimenez, CMO da Minds Idiomas, reforça a importância do controle dos pais sobre o tempo em que as crianças passam jogando e se o conteúdo do game é apropriado para a idade delas. “Além disso, estabelecer horários é fundamental para conciliar essa atividade com outras saudáveis, como escolares e atividades ao ar livre”, orienta.
Mas ele afirma que os jogos, quando equilibrados com o tempo adequado, podem trazer muitos benefícios às crianças, tais como:
- Aprimoramento em um idioma: pela maioria dos jogos serem em inglês, é possível que a criança vá desenvolvendo um novo idioma, através dos comandos, da repetição das palavras e pelos sons como da música do jogo;
- Desenvolvimento cognitivo: Muitos jogos exigem raciocínio estratégico, o que contribui para o desenvolvimento cognitivo das crianças;
- Habilidades sociais: Jogar videogame on-line pode influenciar que as crianças desenvolvam habilidades sociais, trabalhem em equipe e interajam com outros jogadores;
- Melhora da coordenação motora: Alguns jogos requerem movimentos rápidos e precisos, despertando essa habilidade;
- Entretenimento: Os jogos, ao envolverem histórias de fantasia, têm a capacidade de transportar o jogador para dentro do enredo.
Caso contrário…
… Ou seja, caso os pequenos exagerem nas horas de jogo, Jimenez alerta para os perigos que podem afetar a saúde física e mental, como por exemplo:
- Isolamento social: É preciso verificar se as crianças passam muito tempo jogando videogame em vez de interagir com outras pessoas ou participar de atividades ao ar livre, por isso a importância do monitoramento dos pais e/ ou responsáveis;
- Problemas de saúde: Passar muito tempo sentado jogando videogame pode levar a problemas de saúde, como obesidade, má postura e problemas de visão.
- Vício: Alguns indivíduos podem ter dependência de jogos, o que pode afetar negativamente sua saúde mental.
Há embasamento científico
E nada de achar que esses benefícios são uma mera teoria dos profissionais da área de tecnologia. O CMO da Mind Idiomas reafirma as teses com base em estudos que comprovam esses benefícios, e cita alguns abaixo:
Desenvolvimento Cognitivo: “Uma pesquisa publicada na revista Nature em 2014 sugere que jogar videogames pode melhorar a flexibilidade cognitiva e a habilidade de aprendizado.”
Social: “Uma pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra, constatou que jogar videogames com conteúdo pró-social pode aumentar a generosidade e o comportamento pró-social em crianças.”
Emocional: Um estudo publicado no Journal of Adolescence em 2016 descobriu que jogar videogames pode ser uma forma eficaz de lidar com o estresse e melhorar o bem-estar emocional dos adolescentes.
A criança pode escolher o que jogar?
Até pode, mas é preciso que haja a orientação dos pais para garantir que ela se divirta com jogos adequados para sua faixa etária. “A maioria dos jogos possui classificação indicativa, que orienta sobre a idade recomendada para o público-alvo. As crianças devem contar com uma comunicação aberta com os pais para que possam sugerir jogos, e com a orientação deles, verificar se são apropriados”, indica Jimenez.
Os games mais indicados
Papel e caneta na mão? Anote aí quais são os games que proporcionam maiores benefícios para o processo de desenvolvimento infantil, listados por Caio Silveira Schweller, Coordenador Administrativo da Ctrl+Play:
Crash Bandicoot, Ratchet & Clank, Sonic e todos da franquia LEGO®: podem ajudar a desenvolver habilidades como resolução de problemas, imaginação, persistência, pensamento estratégico e storytelling.
Overcooked e Rayman Legends: são jogos com conteúdo mais cooperativo. “Além do trabalho em equipe, estão presentes a criatividade, a velocidade de processamento, a coordenação motora e a competitividade saudável”, conta Schweller.
Série de jogos Unravel: uma pedida muito legal para crianças. “Tem uma narrativa bastante profunda e tocante, e trata com sutileza e com sensibilidade sobre vínculos afetivos, símbolos e resiliência.”
Tetris: um clássico, ótimo para desenvolver o raciocínio lógico
Games de RPG (Role-Playing Game): podem ajudar a treinar habilidades sociais e a desenvolver empatia e liderança.
“Os pais devem colocar numa balança as necessidades, os interesses e os padrões de aprendizagem das crianças versus os riscos atrelados ao uso. Por exemplo, chat on-line com desconhecidos. Assim como as regulamentações legais. Por exemplo, classificação indicativa. E o conteúdo geral do jogo (se é mais violento, ou se tem uma natureza educativa e mais descompromissada, etc.)”, acrescenta o Coordenador da Ctrl+Play.
O papel dos games na sala de aula
Augusto Jimenez, CMO da Minds Idiomas, diz que a integração de videogames nas aulas oferece uma oportunidade emocionante para os alunos expandirem seu vocabulário em inglês e se envolverem em experiências imersivas. “Criar salas temáticas baseadas em jogos permite que os alunos explorem sua criatividade enquanto aprendem de forma divertida”, justifica.
“Com o suporte dos professores, os jogos educacionais podem complementar e enriquecer ainda mais o processo de aprendizagem, tornando as aulas mais envolventes e eficazes. Essa abordagem demonstra um compromisso genuíno com a inovação e a qualidade do ensino.”