
Condição ganhou destaque após o diagnóstico de Preta Gil, que faleceu aos 50 anos após batalha contra a doença
O número de casos de câncer colorretal têm crescido em pessoas jovens. Segundo dados da American Cancer Society1, desde a década de 1990, a taxa de incidência da doença em pessoas entre 20 e 39 anos aumenta entre 1 e 2% a cada ano. No Brasil, esse tipo de tumor, caracterizado por se desenvolver no intestino, é o terceiro tipo mais prevalente de câncer, tendo sido estimados mais de 45 mil diagnósticos para o período entre 2023 e 2025, segundo a Revista Brasileira de Cancerologia2.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA)3, o diagnóstico precoce favorece a realização de tratamentos menos invasivos, além de aumentar a qualidade de vida e a sobrevida do paciente. Quando é detectado em estágios iniciais, o tumor é tratável, e, na maioria dos casos, pode ser curado. Para que seja possível, é necessário se atentar tanto a possíveis sintomas quanto aos fatores de risco.
O Dr. Thiago Kaique, oncologista clínico da Rede Mater Dei de Saúde, conversou com exclusividade com a MALU e esclareceu as principais dúvidas sobre a doença. Confira!
Como se define o câncer colorretal?
“O câncer colorretal é um tumor maligno que se desenvolve no intestino grosso (cólon) ou no reto, a partir de alterações genéticas que levam ao crescimento descontrolado das células da mucosa intestinal. Na maioria dos casos, ele surge a partir de pólipos adenomatosos — pequenas lesões benignas na parede do intestino que, com o tempo, podem sofrer mutações e evoluir para câncer.”
Quais são os primeiros sintomas da doença?
“Nos estágios iniciais, o câncer colorretal pode ser silencioso. Quando aparecem, os sintomas mais comuns incluem: sangue nas fezes (vermelho vivo ou escuro); alteração do hábito intestinal (diarreia ou constipação persistente); sensação de evacuação incompleta; dor abdominal ou desconforto; perda de peso não explicada e fadiga.”
Os sintomas se intensificam com o tempo? Surgem novos?
“Sim. Com a progressão da doença, os sintomas tornam-se mais evidentes e frequentes. Podem surgir sinais de obstrução intestinal (distensão abdominal, dor intensa, vômitos), anemia devido à perda crônica de sangue nas fezes, e perda significativa de peso.”
Como é possível diferenciar os sintomas de outras condições intestinais?
“A confirmação diagnóstica só é possível com exames complementares. Muitas doenças, como hemorroidas, síndrome do intestino irritável ou diverticulite, podem apresentar sintomas semelhantes. A colonoscopia é o exame padrão-ouro, pois permite visualizar diretamente o interior do cólon, detectar pólipos e realizar biópsias para análise.”
A que se deve o aumento do número de casos da doença em jovens?
“Vários estudos apontam para fatores relacionados ao estilo de vida moderno, como: dieta pobre em fibras e rica em ultraprocessados e carnes vermelhas; sedentarismo; obesidade; consumo excessivo de álcool e tabaco. Além disso, predisposição genética e síndromes hereditárias, como a polipose adenomatosa familiar, também explicam parte desses casos.”
Quais são os fatores de risco?
- Idade (maior risco após os 50 anos, embora esteja aumentando em jovens);
- Histórico familiar de câncer colorretal ou pólipos; doenças inflamatórias intestinais (como retocolite ulcerativa e doença de Crohn);
- Estilo de vida inadequado (sedentarismo, obesidade, dieta rica em gordura e pobre em fibras);
- Consumo de álcool e tabaco.
Quando é recomendado ir ao médico e qual especialidade médica deve ser consultada?
“Qualquer pessoa que apresente sangue nas fezes, alteração persistente do hábito intestinal ou dor abdominal inexplicada deve procurar um médico. O gastroenterologista é o especialista indicado para investigação inicial, podendo encaminhar para o oncologista em caso de confirmação do diagnóstico.”
Como se dá o tratamento?
“O tratamento depende do estágio da doença e geralmente combina cirurgia para remoção do tumor e parte do intestino afetado, quimioterapia, indicada principalmente nos casos com risco de metástase, radioterapia, comum em tumores de reto, terapias-alvo e imunoterapia, em casos selecionados, especialmente na doença metastática.”
É possível prevenir a doença?
“Sim, grande parte dos casos pode ser prevenida com mudanças de estilo de vida e rastreamento precoce: colonoscopia a partir dos 45 anos (ou antes, se houver histórico familiar), com retirada de pólipos; alimentação saudável, rica em fibras, frutas, legumes e cereais integrais; prática regular de atividade física; controle do peso, redução do álcool e abandono do tabagismo.”
Referências:
1 – What Is Colorectal Cancer? American Cancer Society, 29 jan. 2024. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/types/colon-rectal-cancer/about/what-is-colorectal-cancer.html. Acesso em: 29/07/2025.
2 – SANTOS, M. de O.; LIMA, F. C. da S. de; MARTINS, L. F. L.; OLIVEIRA, J. F. P.; ALMEIDA, L. M. de; CANCELA, M. de C. Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil, 2023-2025. Revista Brasileira de Cancerologia, [S. l.], v. 69, n. 1, p. e–213700, 2023. DOI: 10.32635/2176-9745.RBC.2023v69n1.3700. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/3700 . Acesso em: 29/07/2025.
3 – LUSTOZA, Larissa. Câncer colorretal cresce entre jovens e acende alerta para prevenção no DF. Secretaria de Saúde do Distrito Federal, 23 jul. 2025.