
Especialista diz que perda de peso proporcionada por canetas restaura ciclos menstruais, aumentando o risco de engravidar sem planejar
Desde 4 de agosto, o laboratório brasileiro EMS está vendendo as primeiras canetas injetáveis produzidas no país para tratar obesidade e diabetes tipo 2. Os lançamentos Olire (obesidade) e Lirux (diabetes) usam liraglutida, análogo de GLP‑1, mesmo princípio ativo de marcas como Saxenda e Victoza. A estreia coloca no varejo uma opção nacional entre os GLP‑1 e deve pressionar os preços: estimativas indicam doses a partir de R$ 307.
Análogos de GLP-1 são medicamentos que imitam o hormônio GLP-1, produzido pelo intestino. Eles dão sensação de saciedade e retardam o esvaziamento do estômago, o que contribui para o emagrecimento.
Gravidez e amamentação
Embora a produção do medicamento no Brasil o torne mais acessível à população em geral, profissionais vêm se preocupando com seu uso indiscriminado, que pode trazer consequências negativas, principalmente para mulheres. “O uso das canetas emagrecedoras deve ser suspenso assim que a mulher descobre a gravidez, por exemplo, e também não é recomendado durante a amamentação”, comenta Vamberto Maia Filho, ginecologista especializado em reprodução humana.
O especialista endossa que estudos em animais mostraram riscos de efeitos adversos para o desenvolvimento fetal, “incluindo reabsorção embrionária, retardo no crescimento e até malformações”. Em humanos, ainda não há dados suficientes. “Mas, pela via de ação do GLP-1 e seus impactos hormonais, a recomendação é suspender assim que se confirmar a gestação”, frisa o médico.
Aumento da fertilidade
Ele também chama a atenção para um efeito pouco discutido: a perda de peso decorrente do tratamento com as canetas pode restaurar ciclos menstruais em mulheres com sobrepeso, aumentando a fertilidade e o risco de gravidez não planejada se não houver contracepção adequada. “Ao reduzir peso e melhorar a resistência à insulina, parte das pacientes retoma a ovulação e a regularidade dos ciclos, elevando a chance de engravidar”, reforça. Daí, a importância de a paciente conversar com seu médico sobre planejamento reprodutivo e métodos contraceptivos.
O que mudou?
Desde 23 de junho deste ano, para comprar as canetas emagrecedoras, é necessário apresentar a receita médica, que fica retida na farmácia. A medida busca coibir a automedicação.
Vamberto Maia ressalta que as pessoas devem ficar atentas: GLP‑1 não é um medicamento estético, e nunca deve ser usado, portanto, sem prescrição médica. A automedicação pode trazer riscos sérios, especialmente para gestantes e lactantes. Caso a paciente descubra uma gravidez durante o uso, deve procurar auxílio médico imediatamente a fim de fazer a suspensão de forma segura. O acompanhamento profissional é essencial para garantir eficácia, ajuste correto das doses, além de monitoramento de possíveis efeitos adversos.
Edição: Fernanda Villas Bôas