Ozempic e Mounjaro: queda capilar é mais um efeito colateral Diante desse cenário, a principal recomendação é observar os sinais durante o uso do Mounjaro e do Ozempic e manter o acompanhamento

Após a “magreza hollywoodiana” tomar conta das redes sociais, médicos relatam aumento de queixas de alopecia entre usuários dos medicamentos para emagrecimento

A volta da magreza extrema, impulsionada por celebridades e influenciadores, reacendeu debates sobre estética e saúde nas redes sociais. No centro dessa tendência estão medicamentos como Ozempic® (semaglutida) e Mounjaro® (tirzepatida), originalmente indicados para o tratamento do diabetes tipo 2. Mas amplamente adotados para emagrecimento acelerado.

No entanto, um novo efeito colateral tem ganhado os consultórios e grupos de discussão: queda de cabelo significativa.

Alopecia tem relação com Ozempic e Mounjaro?

Segundo o dermatologista Dr. Gustavo Novaes, “a alopecia não é um efeito colateral clássico listado nas bulas desses medicamentos. Mas há um número crescente de relatos clínicos e notificações em sistemas de farmacovigilância que sugerem uma possível associação em determinados contextos clínicos”.

De acordo com o médico, a maioria dos casos registrados está ligada a um tipo específico de queda capilar conhecido como eflúvio telógeno agudo, em que há um aumento abrupto da proporção de fios na fase de queda. “Os principais gatilhos observados nesses pacientes são a perda de peso rápida, os déficits nutricionais, o estresse fisiológico e, em menor grau, alterações hormonais ou inflamatórias induzidas pelos próprios agonistas de GLP-1”, explica.

Dados recentes apontam aumento de notificações

Ainda que os ensaios clínicos iniciais com semaglutida e tirzepatida não tenham identificado a alopecia como um evento adverso relevante, estudos recentes têm mudado esse cenário. Uma análise publicada no medRxiv, em fevereiro de 2025, avaliou dados do sistema de farmacovigilância da FDA (FAERS) e encontrou centenas de relatos de queda de cabelo relacionados a esses medicamentos, com destaque para pacientes que perderam mais de 10% do peso corporal nos primeiros meses de uso.

Em outro estudo retrospectivo citado pelo Dr. Novaes, a prevalência de eflúvio telógeno entre usuários de Mounjaro® chegou a 6%, especialmente entre aqueles que passaram por perdas de peso acentuadas em pouco tempo.

Além disso, um levantamento feito pela clínica canadense Donovan Medical, especializada em saúde capilar, também reforça a tendência: “A associação ainda carece de ensaios clínicos controlados, mas já há uma base significativa de casos clínicos que justificam atenção médica e acompanhamento”, pontua o blog especializado.

Como orientar os pacientes que usam Ozempic e Mounjaro?

Diante desse cenário, a principal recomendação é observar os sinais e manter o acompanhamento multidisciplinar. “A queda de cabelo costuma surgir entre 2 e 4 meses após o início do tratamento ou após uma perda de peso mais acelerada. Em geral, é autolimitada e tende a regredir com o tempo”, afirma o dermatologista.

Além disso, o médico orienta atenção a pontos-chave:

  • Avaliar e corrigir deficiências nutricionais, como ferro, zinco, proteínas e vitaminas do complexo B.
  • Discutir com o médico a possibilidade de desacelerar a perda de peso, quando clinicamente viável.
  • Manter o acompanhamento com endocrinologistas, nutricionistas e dermatologistas.
  • Evitar automedicação ou suplementações sem orientação.

“É importante que os pacientes saibam que a queda capilar, quando ocorre, parece estar mais ligada às mudanças metabólicas causadas pela perda de peso do que ao efeito direto do medicamento. Mas são necessários mais estudos para entender completamente esse mecanismo”, finaliza o Dr. Novaes.