Para além do Mounjaro: como emagrecer com saúde? Freepik

Dra. Bruna Manes fala sobre equilíbrio, ciência e consciência no combate à obesidade

O Brasil enfrenta uma epidemia silenciosa: a obesidade. Dados do relatório Global Obesity Observatory revelam que mais de 30% dos brasileiros vivem com obesidade, e mais de 68% estão com excesso de peso. No Rio de Janeiro, a situação é ainda mais crítica: a capital fluminense lidera o ranking nacional, com 65,2% da população acima do peso. Em São Paulo, 24,3% dos adultos já são considerados obesos e precisam emagrecer.

Segundo a nutróloga e endocrinologista Bruna Manes, o estilo de vida cada vez mais acelerado, estressante e desconectado das necessidades do corpo provoca o aumento do número de pessoas com sobrepeso e obesidade. “As pessoas buscam soluções rápidas, mas o emagrecimento saudável não é um atalho — é um processo que envolve mudança de mentalidade, rotina e autocuidado”, afirma a médica.

A “moda” das canetas emagrecedoras e seus riscos

Nos últimos anos, o uso de medicamentos injetáveis para emagrecer — popularmente chamados de “canetas” — se tornou febre no Brasil. Muitas pessoas que desejam emagrecer mais rapidamente começaram a procurar amplamente a semaglutida (presente em medicamentos como Ozempic e Wegovy), a liraglutida (Saxenda, Victoza) e, mais recentemente, a tirzepatida (Mounjaro).

Com cautela, a Dra. Bruna avalia esse movimento e enfatiza a importância do acompanhamento médico no uso desses fármacos. “Esses medicamentos são aliados importantes, principalmente em casos de obesidade ou comorbidades como diabetes tipo 2, mas não são mágicos. Se usados sem acompanhamento, trazem riscos importantes, como perda de massa muscular, carências nutricionais e até queda capilar.”

A médica explica que emagrecimentos muito rápidos — especialmente sem orientação adequada — podem causar desequilíbrios hormonais e deficiências de vitaminas e minerais essenciais, como ferro, zinco e biotina, comprometendo a saúde da pele, das unhas e dos cabelos.

“Perder peso de forma acelerada sem reposição adequada pode levar à queda significativa de cabelo. Além disso, a perda de massa muscular reduz o metabolismo basal e dificulta a manutenção do peso a longo prazo.”

Ela também destaca que a Anvisa exige a retenção da receita médica para a venda dessas medicações, justamente com o objetivo de evitar o uso indiscriminado e sem supervisão profissional.

Corpo, mente e rotina: os pilares do emagrecer saudável

Muito além de medicamentos, Dra. Bruna destaca que emagrecer com saúde exige um olhar integral sobre o corpo. “Alimentação balanceada, atividade física regular, sono de qualidade e controle do estresse são a base de qualquer tratamento eficaz. Não existe fórmula que substitua o básico bem feito.”

O estresse, segundo a especialista, tem papel central na dificuldade para emagrecer. “O cortisol elevado, provocado pelo estresse crônico, favorece o acúmulo de gordura, principalmente na região abdominal. E a privação de sono desregula os hormônios da saciedade, fazendo com que a pessoa sinta mais fome e tenha mais vontade de consumir alimentos calóricos”, explica.

Individualização e consciência: a chave para resultados duradouros

Dra. Bruna reforça que cada pessoa tem um tempo, um histórico e uma trajetória únicos — e, por isso, os tratamentos precisam ser individualizados. “O plano alimentar e o uso de medicamentos devem ser personalizados, baseados em evidências científicas, mas também considerando o estilo de vida, as emoções e os hábitos de cada paciente. E sempre com o objetivo de promover saúde, bem-estar e qualidade de vida.”

Cuidar de si é um ato de responsabilidade

Para a médica, o emagrecimento saudável é também uma forma de reconexão com o próprio corpo e com escolhas conscientes. “Quando a gente começa a se ouvir, a respeitar os sinais do corpo e a colocar o autocuidado como prioridade, os resultados aparecem — não só na balança, mas na disposição, na autoestima, na saúde física e mental.”

Promessas fáceis não resolvem o desafio da obesidade no Brasil. Mas, como defende Dra. Bruna Manes, é possível enfrentá-lo com informação, apoio profissional e consistência — um passo de cada vez.