O transtorno de personalidade antissocial (TPAS) gera falta de empatia e torna muito difícil construir relações sólidas
Os antissociais, também conhecidos como portadores do transtorno de personalidade antissocial (TPAS) sofrem de uma desordem neuropsiquiátrica que, segundo estudos acadêmicos mais recentes, atinge por volta de 1% a 2% da população mundial. Isso significa que uma a cada cem pessoas convive com o transtorno. E, de acordo com estes dados, no Brasil teríamos por volta de 2 a 4 milhões dessas pessoas. Tomando aqui uma liberdade com as palavras, podemos chamá-los de ‘daltônicos emocionais’.
O que é o TPAS
Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da Infância e Adolescência, pesquisadora e supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), o transtorno de personalidade antissocial acompanha a pessoa ao longo da vida. “Basicamente, o indivíduo sente dificuldade de se relacionar e ter empatia com as outras pessoas”, explica a médica.
“O que mais chama a atenção é essa falta de empatia que nós, como seres humanos, que convivemos em sociedade, obrigatoriamente precisamos ter.”
A falta de empatia dos antissociais
Assim, quem é portador do TPAS opta por fazer tudo em sua vida para benefício próprio, mesmo que isso signifique ‘passar por cima’ de outras pessoas e machucá-las, às vezes até fisicamente. “É como se ela fosse o centro do universo e os outros estivessem ali em função dela”, acrescenta Danielle.
Segundo a psiquiatra, algumas pessoas com o transtorno de personalidade antissocial são muito inteligentes e conseguem conviver em sociedade, mas, na verdade, não têm relações sólidas, sejam afetivas ou de amizade. “Às vezes podem até acabar cometendo crimes, para justificar o que elas acham certo, tudo em benefício próprio”, aponta.
Traumas do lar
Ainda de acordo com Danielle, não há estudos suficientes que definam, de fato, a possível causa do TPAS nos indivíduos, o que existem são algumas teorias. “Sabemos que se você tem pai ou mãe com transtorno de personalidade, tem uma chance maior de ter também. Ou se sofreu algum trauma importante de infância, como um abandono, uma violência muito grave, uso de substâncias na gestação, mas ainda não há nada muito definido.”
“O que sabemos é que essas pessoas dificilmente vêm de famílias funcionais e amorosas, em geral têm uma história familiar na infância bastante difícil.”
Não é TEA!
Há uma confusão bastante equivocada do senso comum que relaciona o transtorno de personalidade antissocial com o transtorno do espectro autista. A psiquiatra especialista explica que são condições completamente diferentes. “A pessoa com espectro autista tem uma cognição social alterada do outro, podendo haver dificuldade em compreender as emoções alheias. Mas é bem diferente do antissocial, porque no primeiro caso existe ali uma empatia, não é alguém que justifica as coisas apenas dentro do que ela acredita”, detalha.
“Uma coisa é o transtorno de personalidade antissocial, onde não existe empatia em relação ao outro, e outra é o transtorno do espectro autista, onde existe empatia, mas há uma dificuldade de compreensão do outro”, reforça Danielle. (BOX)
Existe cura para os antissociais?
Infelizmente, não há cura para o transtorno de personalidade antissocial, que pode acompanhar a pessoa durante toda a vida. Mas tem, sim, como alcançar algum tipo de melhora, como orienta a profissional. “É importante buscar psicoterapia, a terapia analítica, TCC, e a orientação familiar. As pessoas têm que aprender a lidar com essa pessoa, mas não há uma cura, é algo que acompanha a pessoa ao longo da vida”, conclui.