Burnout Digital: somos mais afetados do que parece Foto: Stock Foto ID 2284558213

Além de causar danos à saúde e bem-estar, o uso excessivo das telas pode distorcer sua visão sobre a realidade

Não podemos negar que a tecnologia facilitou, e muito, a rotina de muitas pessoas, mas será que estamos indo pelo caminho certo? O adoecimento cada vez mais frequente das pessoas mostra que o burnout digital é um mal a ser combatido.

Ficamos on-line praticamente 24 horas, olhamos o celular ao acordar, antes de dormir e em qualquer oportunidade de tempo livre que tivermos no dia. A sensação é de sempre estarmos conectados com o mundo. Mas, na verdade, esse vício faz com que nos afastemos cada vez mais de uma vida saudável. Sim, o excesso de telas traz malefícios à saúde, e não são poucos. 

O termo que já conhecemos, mas com outro ponto-chave

Você já ouviu falar em burnout, certo? Mas, e o burnout digital, do que se trata? Bom, o termo significa um excesso mal gerenciado. Ou seja, pode ser um esgotamento motivado por uma sobrecarga no trabalho, por um relacionamento, ou, como no caso que vamos abordar hoje, por passar muito tempo numa rede social. “O burnout digital é o esgotamento mental decorrente do uso excessivo das mídias sociais. Ele afeta pessoas que ultrapassam os limites no uso das plataformas”, pontua a psicóloga Sirlene Ferreira. 

Sinais de esgotamento

E o resultado disso é bem parecido com o burnout ‘clássico’, aquele relacionado ao fenômeno ocupacional. Segundo a profissional, os principais sintomas incluem:

  • Cansaço excessivo e persistente;
  • Dificuldade de concentração;
  • Sintomas de depressão e ansiedade;
  • Insônia;
  • Isolamento social;
  • Dores de cabeça;
  • Problemas na visão;
  • Irritabilidade.

“Os efeitos de longo prazo incluem depressão, isolamento social, ansiedade, exaustão e até mesmo o suicídio”, alerta Sirelene.

”Preciso ver tudo, de todo mundo, o tempo todo”. Esse pensamento gera burnout digital

Essa condição também pode ser conhecida como Síndrome de FOMO (fear of missing out). Traduzido como ‘medo de perder’, e que faz com que a pessoa se sinta na obrigação de estar sempre conectado e absorvendo uma enxurrada de informações. Quando se desconecta, sente angústia por não estar ‘no mundo’, mesmo que esse não seja de fato o mundo real. 

Nesse fluxo, as pessoas acabam deixando de lado a própria vida, muitas vezes se dissociando do que é real ou não, e nem sequer conseguem tirar um tempo livre para descansar. Não precisa ser nenhum especialista para entender que isso não é nada saudável!

Algo que já era de se esperar

Um relatório publicado em 2023 pela agência We Are Social, em parceria com a empresa de monitoramento de mídia on-line Meltwater, mostrou que os brasileiros passam, em média, nove horas e meia conectados à internet. Isso nos coloca em segundo lugar do ranking de países que mais utilizam os dispositivos de tela, ficando atrás somente da África do Sul. Não à toa, junto com esses dados, cresce também o número de pessoas com bem-estar prejudicado. Em seu último mapeamento de transtornos mentais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que o Brasil possui a população com maior prevalência de transtorno de ansiedade do mundo.

“As redes sociais promovem uma visão distorcida da realidade, filtrando problemas e dificuldades, o que pode levar a uma sensação de fracasso e frustração em quem as utiliza. Essa percepção distorcida pode intensificar o ciclo de exaustão do burnout digital”, explica Sirlene, que completa: “As redes sociais impõem padrões baseados em um mundo virtual irreal”.

As fake news nadam de braçada nessa tendência

Se o alto volume de conteúdo já causa essa confusão, imagina isso combinado com milhares de informações falsas: um caos, na certa. E é exatamente isso o que estamos vivendo atualmente, não só no Brasil, mas no mundo. Por ser um ambiente ‘livre’, a internet dá espaço para que usuários mal intencionados a usem para espalhar mentiras, discursos de ódio e preconceitos, além de distorcer todo tipo de fato para benefício da própria ideologia.

Esse é outro fator que, sem dúvidas, colabora com o quadro de esgotamento emocional. “A disseminação de fake news e desinformação pode causar confusão e desconfiança, afetando a saúde mental das pessoas e contribuindo para o aumento do burnout digital”, aponta a psicóloga.

Como reduzir danos  causados pelo burnout digital

Não estar conectado é praticamente impossível nos dias de hoje, seja para manter as interações sociais, se informar e até mesmo trabalhar – tendo em vista o alto número de pessoas que atuam em home office. Mas é possível, sim, estar atento para driblar alguns perigos desse excesso, como priorizar as pausas durante o dia para realizar alguma atividade que não envolva telas – pode ser caminhar, se alongar ou beber água. Também podemos criar hábitos de redução de danos como bloquear notificações enquanto não estiver cumprindo seu horário, e separar períodos para trabalhar de forma focada, sem checar mensagens ou e-mails 

“Estratégias como exercícios físicos, meditação, leitura e encontros com amigos podem auxiliar na recuperação do equilíbrio saudável em relação à tecnologia e redes sociais”, orienta a profissional. E, claro, caso isso esteja trazendo prejuízos para sua saúde mental, bem-estar e vida pessoal, é essencial buscar ajuda profissional de médicos e psicólogos qualificados.