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Segundo o sacerdote Pai Olavo, o calendário espiritual tradicional que vem das culturas africanas organiza o mês de acordo com as energias que atuam em cada dia
No mês da consciência afro-brasileira, cresce o interesse por entender de forma mais fiel as tradições espirituais africanas que influenciam nossa cultura. Uma delas é o calendário espiritual original, que segue um ciclo de quatro tipos de energia que se repetem por todo o mês. Isso significa que o dia 1 tem a mesma energia do dia 5, que se repete no dia 9, no dia 13 e assim por diante.
Pai Olavo, primeiro Líṣà Ògbóni coroado no Brasil, explica que o primeiro dia do ciclo está ligado a forças de criação, memória ancestral e proteção feminina. O segundo reúne energias de sabedoria, movimento, amor, maternidade e equilíbrio espiritual. O terceiro dia é relacionado ao trabalho, à coragem, à fartura da terra e ao impulso para conquistar objetivos. Já o quarto dia traz energias de justiça, fogo, transformação e ventos, e, depois disso, o ciclo começa novamente.
A energia diária na tradição africana
De forma simples, esse calendário funciona como um mapa espiritual do mês. “Quando a pessoa entende qual energia está atuando naquele dia, ela consegue se alinhar melhor espiritualmente, sem complicação, do jeito que cada um achar mais natural”, afirma Pai Olavo. Ele explica que algumas pessoas usam essas informações para escolher momentos de oração, agradecimento, pedidos ou introspecção. Outras apenas gostam de entender a vibração do dia para se conectar consigo mesmas e com sua ancestralidade.
O modelo mais conhecido no Brasil, que associa cada dia da semana a uma divindade ou força específica, surgiu com o tempo como forma de organizar a rotina dos terreiros e das festas religiosas. Ele tem sua importância cultural e faz parte da nossa história. Porém, não corresponde ao sistema tradicional africano, que segue ciclos naturais e não os dias da semana. “Muita gente cresceu acreditando que segunda, terça ou sexta têm uma energia própria, mas isso é uma adaptação brasileira. O calendário original funciona de outro jeito”, explica o sacerdote.
Durante o mês da consciência afro-brasileira, aprender sobre o calendário tradicional é uma forma de honrar e respeitar essa ancestralidade. Como diz Pai Olavo, “conhecer a origem das coisas é uma maneira de combater preconceitos e valorizar a raiz que formou o Brasil”. Para ele, o objetivo não é substituir práticas brasileiras, mas oferecer informação correta para quem deseja entender a essência dessa tradição espiritual. “Quando a gente olha para a fonte, tudo fica mais claro”, completa.