Por que Vini Jr. perdeu a Bola de Ouro?

O brasileiro atendia a todos os critérios para levar a Bola de Ouro, e ainda assim não foi escolhido

O que é preciso para ganhar a Bola de Ouro e ser considerado o melhor jogador do mundo? Vinicius Jr. marcou 21 gols para o Real Madrid na temporada 2023/24. Foram 15 no Campeonato Espanhol, além de seis na campanha do clube na Liga dos Campeões, incluindo tentos na semifinal contra o Bayern de Munique e na decisão contra o Borussia Dortmund, que cravou a vitória por 2 a 0 sobre os alemães e coroou a equipe espanhola com o 15º título do torneio. 

Mas nada disso foi suficiente para que o brasileiro levasse a Bola de Ouro, decisão que revoltou o time madridista, a torcida, colegas de profissão, e qualquer outra pessoa que acompanhe minimamente de perto o que o atacante representa para o futebol e, principalmente, para a luta antirracista no esporte. 


A fatídica surpresa

Os amantes do futebol se preparavam para mais uma edição do Bola de Ouro no último dia 28 de outubro, quando um murmurinho começou nos veículos de imprensa: Vini Jr. não seria o escolhido para receber o prêmio da France Football. Essa notícia fez com que o próprio Real Madrid decidisse que nenhum dos seus representantes iria comparecer à premiação, realizada em Paris.
Ao menos para os brasileiros, a expectativa era alta – e praticamente unânime – para que o atacante levasse o troféu deste ano. Mas o escolhido pela votação da revista francesa na verdade foi Rodri, meio-campista espanhol que atua pelo Manchester City, e que somou oito gols na Premier League e apenas um na Liga dos Campeões. A diferença de desempenho é gritante e, por si só, já é um critério a ser questionado com força, mas a discussão pela decisão vai muito além dos números em campo.


Teve quem apoiou…

Em defesa à escolha por Rodri, o jornalista espanhol L. Miguel Sanz publicou um texto no Diário do Sport, de Barcelona, onde disse: “Decisão acertadíssima, se confirmada, de entregar o prêmio ao meio-campista. Uma lição para Vinicius: aqui não vale somente ganhar e fazer gols”.

De fato, o fair play e o comportamento extracampo também são critérios para a escolha da Bola de Ouro. Mas ao invés de isso ser um contraponto, deveria ser um tópico extra para Vini Jr, visto que, além de ser o jogador mais decisivo da temporada, ele também se tornou referência mundial na luta contra o racismo no futebol. 

A reação incomoda quem não entende

O camisa 7 do Real Madrid foi vítima de insultos racistas inúmeras vezes desde que começou a jogar na Europa, em 2018. Mas talvez o que incomoda seja o fato de o brasileiro ser uma voz potente para denunciar esse tipo de comportamento nos estádios. Seja dentro de campo, rebatendo as ofensas no calor do momento, seja fora, tomando as medidas legais cabíveis, Vini sempre bateu de frente com o preconceito sofrido. 

A verdade é que as palavras de L. Miguel Sanz resumem bem o sentimento da maioria dos europeus em relação à Vini Jr. A postura do atacante em relação ao racismo não é passiva, e talvez isso não seja visto com bons olhos por quem toma as decisões no futebol, como é o caso da votação para o prêmio da Bola de Ouro. 

Afinal, como funciona a decisão da Bola de Ouro?

O dono da Bola de Ouro é escolhido por um grupo de 100 jornalistas que representam os primeiros países do ranking da Fifa. Em um primeiro momento, eles votam em uma lista de 30 nomes. Estes, pré-definidos por membros do periódico francês L’Équipe e por dois embaixadores da UEFA, Luís Figo, no troféu masculino, e Nadine Kessler, no feminino — a escolha final do feminino reúne apenas jornalistas dos 50 primeiros países no ranking da Fifa.

Dos 30 candidatos, os jurados escolhem dez preferidos. Cada membro do colégio eleitoral dá uma nota para cada um dos jogadores selecionados, sendo as pontuações disponíveis, em ordem decrescente: 15, 12, 10, 8, 7, 5, 4, 3, 2 e 1. Quem somar a pontuação mais alta, fica com o prêmio. 

E quais são os critérios para essa pontuação? 

Para escolher o melhor, os jurados devem avaliar três aspectos: desempenho individual na temporada, títulos coletivos e imagem pública do jogador, dentro e fora do campo. Ou seja, o Fair Play e atos filantrópicos/campanhas do atleta são considerados. É aqui que a conta parece não bater. Vini Jr. atende aos três critérios estabelecidos, mas mesmo assim não ficou com o prêmio.

O que foi apontado contra Vini

Mas também não faltam críticos para apontar o porquê dessa decisão. Há quem diga que o comportamento do brasileiro em campo é provocador e que ele cai muito em campo, além de reclamar muito da arbitragem. Há também quem aponte o desempenho ruim de Vini na seleção brasileira como motivo para não ganhar o prêmio. Pórem, em números, sua atuação não foi de todo ruim. O atacante marcou dois gols em três jogos que disputou com a amarelinha na Copa América.
Por fim, outro ponto apontado como razão pela escolha de Rodri foi a concorrência de Vini Jr. dentro do próprio clube, já que Bellingham e Carvajal também integraram o Top 5. “Matematicamente, isso tirou alguns pontos dele. Isso também resume a temporada do Real Madrid, que teve entre três e quatro jogadores e os júris dividiram suas decisões entre eles. Isso acabou beneficiando Rodri”, afirmou Vincent Garcia, chefe da Bola de Ouro, logo após o evento. 


Convicto

Ao contrário do que algumas pessoas sugeriram quando Vini Jr. não compareceu à premiação em Paris, ele nunca abaixou a cabeça para o preconceito. O jogador brasileiro, que tem apenas 24 anos, foi alvo de insultos racial em várias ocasiões na Espanha. Isso levou a pelo menos duas condenações por insultos racistas em casos pioneiros no país.
E mesmo que seu ativismo tenha sido motivo para perder a Bola de Ouro, o atleta já afirmou que não vai mudar seu posicionamento. Logo após a premiação, ele publicou em seu perfil no X: “Eu farei 10x se for preciso. Eles não estão preparados”. Estaremos com você, Vini!