
O que ensinar aos pequenos para que eles se transformem em adultos funcionais e com habilidades sociais?
Um projeto de sucesso na formação de crianças é a soma de respeito aos direitos essenciais, ensino de qualidade e pais atentos às nuances da educação recebida em casa. “Em um mundo em constantes transformações, a família permanece como sendo a mais antiga, fundamental e resistente das instituições humanas. É nesse ambiente singular que florescem as primeiras experiências de afeto, solidariedade e aprendizado”, pontua a psicóloga e professora do curso de psicologia na Universidade Guarulhos (UNG), Alessandra Chrisostomo.
Mas como garantir que as primeiras experiências sejam favoráveis e inspiradoras? Como assegurar que os pais terão êxito no desenvolvimento da autoestima dos filhos? É possível que eles contribuam para que os pequenos escolham relacionamentos saudáveis no futuro e saibam se expressar na vida adulta? Embora não seja possível firmar certezas, é válido apostar nas possibilidades. E isso significa que um adulto funcional, agregado ao seu meio e com habilidades sociais reconhecidas, pode ter assimilado valores significativos em casa.
“Além de um espaço de afeto, a família atua como o principal agente de transmissão cultural. É através dela que valores morais, éticos e religiosos são passados de geração em geração”, lembra a psicóloga. Embora esses valores possam variar de acordo com contextos culturais e sociais, alguns permanecem relevantes no século 21, de acordo com a psicóloga. Confira:
1 – Autoconfiança
Os pequenos precisam confiar em si mesmos. Também devem se sentir à vontade para conviver em sociedade. Por isso, cabe aos pais estimular novos aprendizados e elogiar esforços, mesmo diante dos insucessos nas primeiras tentativas. Na infância, a autoconfiança, que é prima-irmã da autoestima, também se consolida quando os adultos apoiam os interesses das crianças e demonstram amor incondicional.
2 – Amor
Para a psicologia, o amor é a base da segurança emocional. Portanto, esse valor é inegociável na relação entre pais e filhos. Como a criança assimila pela experiência, ela precisa ser exposta a demonstrações de afeto para se sentir valorizada e segura no seio familiar. Mas amar não significa fazer todas as concessões aos pequenos, e sim expressar carinho e comprometimento, com limites estabelecidos.
3 – Resiliência
Pais e responsáveis devem explicar aos filhos que as frustrações fazem parte da vida. Como nos games, algumas vezes, ganhamos uma partida; outras vezes, perdemos. Não é demérito perder, porque estamos sempre descobrindo lições novas e testando soluções diferentes. Cada vez que algo não dá certo, temos a chance de aprender. Isso é resiliência. Por isso, os desafios representam oportunidades de crescimento.
4 – Responsabilidade
É importante incentivar a criança a assumir responsabilidades: ela deve participar das tarefas domésticas e ser incentivada a cuidar dos próprios pertences. Quando abraçam responsabilidades, os pequenos selam uma relação de confiança com os adultos. E desenvolvem noções de coletividade, a raiz da convivência harmoniosa. Por isso, também devem ser cobrados caso não cumpram as obrigações já acordadas.
5 – Honestidade
Não basta defender a honestidade na teoria: é preciso praticá-la no dia a dia. Se os pais falam sobre a importância das atitudes honestas, mas agem de forma oposta em situações cotidianas, a criança se confunde diante das mensagens contraditórias. Daí a importância da coerência. “A transmissão de valores acontece principalmente por meio dos exemplos dos pais”, sustenta a psicóloga e professora Alessandra Chrisostomo.
6 – Inteligência emocional
Os filhos devem ser encorajados a compreender as próprias emoções e a comunicar seus sentimentos aos pais e responsáveis. Isso é o que sedimenta a inteligência emocional na vida adulta. Quando a criança estiver triste, vale a pena pedir a ela para exteriorizar o que sente, despertando sua habilidade de lidar com essa carga emocional. Dica: aposte em jogos com figuras humanas retratadas com expressões faciais que denotam sentimentos, como medo, raiva, mágoa, vergonha, etc.
7 – Alteridade
Chama-se alteridade a capacidade de se colocar no lugar do outro. E também de reconhecer e respeitar as diferenças entre as pessoas. Desde cedo, os pequenos devem aprender a se familiarizar com essas diferenças: ninguém é melhor do que ninguém por causa da raça ou da religião, por exemplo. “A alteridade desenvolve a empatia, combate o preconceito e a discriminação, fortalece os vínculos e prepara para o futuro”, destaca Alessandra Chrisostomo.
Livros, filmes e games comunicam valores
Pais que não sabem por onde começar podem recorrer aos livros, animações, brinquedos e games. “As crianças aprendem muito por meio da observação e da vivência de situações simbólicas. Livros e filmes trabalham com narrativas que apresentam personagens enfrentando dilemas éticos, fazendo escolhas, aprendendo sobre respeito, empatia, cooperação e responsabilidade”, reforça a psicóloga Alessandra Chrisostomo. Da mesma forma, os games, desde que ajustados a cada faixa etária, também são ferramentas positivas, sobretudo se os pais quiserem ensinar sobre resolução de conflitos, trabalho em equipe e gestão de frustrações.
Sugestões de animações para crianças
Moana (2016) e Moana 2 (2024)
Nas aventuras da princesa polinésia, as crianças identificam conexões familiares e o poder da autoconfiança. Moana é destemida e confia nas próprias competências para salvar o seu povo e, depois, o mundo.
Divertidamente 1 (2015) e Divertidamente 2 (2024)
Nessa animação, em que as emoções têm vida própria, os pequenos são apresentados à diversidade: cada emoção tem uma natureza singular e reage de forma específica aos acontecimentos.
O menino, a toupeira, a raposa e o cavalo (2022)
Ao fazer amizade com esses animais, o menino do título acaba oferecendo lições comoventes sobre a força do afeto, a importância do companheirismo e o enfrentamento do medo.