Impactos da Inteligência Artificial no desenvolvimento das crianças Freepik

Especialistas alertam para os riscos da desinformação. O papel da escola e da família na formação crítica diante dos avanços da IA e de deepfakes

Com o avanço acelerado das tecnologias de Inteligência Artificial (IA), especialmente o uso de deepfakes — vídeos e áudios manipulados digitalmente com aparência real —, cresce a preocupação sobre o impacto dessas ferramentas na formação das crianças. À medida que se torna cada vez mais difícil distinguir o que é real do que é criado por algoritmos, escolas e famílias preparam as novas gerações para consumir informações de forma crítica e usar a tecnologia de maneira ética.

Um levantamento da SaferNet Brasil, com apoio do UNICEF, identificou mais de 70 vítimas de deepfakes em 10 estados brasileiros. Todas, com menos de 18 anos. O estudo registrou 16 dessas ocorrências em escolas. É urgente discutir o tema no ambiente educacional e de fortalecer políticas de proteção digital voltadas à infância e à adolescência.

Um novo mundo

A educadora e especialista em infância e adolescência Priscilla Montes explica que a IA está transformando profundamente a forma como as crianças percebem o mundo e interagem com ele. “As crianças estão crescendo em um ambiente digital onde o real e o simulado se misturam o tempo todo. Se antes histórias e brincadeiras estimulavam a imaginação, hoje conteúdos gerados por IA, muitas vezes indistinguíveis da realidade, a acompanham no dia a dia. Isso exige um novo tipo de alfabetização — não apenas tecnológica, mas emocional e crítica”, afirma.

Além da dificuldade em identificar manipulações digitais, Priscilla alerta que o excesso de exposição a conteúdos produzidos por IA pode interferir na construção da identidade e da percepção de verdade das crianças. “Elas começam a duvidar da própria capacidade de discernir o que é autêntico. Por isso, o diálogo com os adultos e a orientação sobre o que consomem online são fundamentais.”

Já chegou nas escolas

João Victor Almeida, professor de Digital Life na Rio International School (RIS), compartilha que o tema já faz parte das discussões em sala de aula. Segundo o professor da instituição, a educação deve preparar os estudantes não apenas para usar as novas ferramentas, mas também para questioná-las. “A tecnologia é uma aliada poderosa, mas precisa ser usada com propósito e consciência. Ensinamos nossos alunos a refletir sobre o impacto ético das criações digitais, a identificar manipulações e a compreender que a inteligência artificial não substitui valores como empatia, verdade e responsabilidade”, explica.

João Victor destaca que o desafio é ainda maior porque as crianças de hoje serão os profissionais e cidadãos de um mundo cada vez mais automatizado. “Não basta dominar as ferramentas. É preciso entender o que está por trás delas, as intenções de quem as produz e as consequências do seu uso. A escola tem o papel de formar jovens capazes de pensar criticamente, questionar e agir de forma responsável no ambiente digital.”

Entre os especialistas, há consenso de que o caminho passa pela parceria entre escola e família. Especialistas apontam o diálogo aberto, a supervisão de conteúdos e a criação de espaços para debate sobre ética digital como estratégias essenciais para preparar as novas gerações para um futuro em que realidade e ficção caminham lado a lado.