A seletividade alimentar das crianças com autismo A seletividade alimentar pode ser sensorial ou mental, mas é preciso investigar e adotar estratégias respeitosas

A causa pode ser sensorial ou mental, mas é preciso investigar e adotar estratégias respeitosas

A seletividade alimentar não é uma regra, mas o Transtorno do Espectro Autista pode, sim, afetar a alimentação. Quando falamos em crianças com TEA, esse tópico costuma ser uma das queixas mais frequentes dos pais e cuidadores, não apenas pela angústia da rejeição à comida, mas também pelo risco de deficiência nutricional que ela pode causar.

Psicóloga especialista em terapia comportamental e autora do livro A Casa de Pedro, Cecília Rocha afirma que essa seletividade pode ser parcialmente explicada porque muitas crianças possuem o que chamamos de Transtorno de Processamento Sensorial, e o ato de se alimentar é extremamente sensorial. “Vemos crianças que não comem nada de certa cor, por exemplo, ou que só querem comer um único alimento, ou apenas alimentos pastosos e afins”, detalha.

Riscos reais da seletividade alimentar

A seletividade alimentar pode ser leve ou mais severa, e é preciso estar atento aos prejuízos que essa restrição pode estar causando. “Uma criança que aceita poucos alimentos provavelmente não tem suas necessidades nutricionais satisfeitas, e isso pode ter diversas implicações e afetar o funcionamento do organismo como um todo”, alerta Cecília.

Por essas e outras razões, a especialista enfatiza que o acompanhamento médico é imprescindível. Pois ele é quem vai avaliar a parte orgânica e orientar como agir para que a criança esteja segura e saudável – o que é o mais importante de tudo!

O apego à rotina

Um outro ponto importante, segundo a especialista, é que, além da questão sensorial, existem outros fatores associados à seletividade alimentar em pessoas com TEA. “Há o que chamamos de dificuldade de flexibilização mental. É como se a pessoa precisasse de uma certa rigidez na rotina e na apresentação das coisas, e isso acaba refletindo, também, na alimentação.”

É preciso tentar e persistir

Analisando esse cenário, a psicóloga explica algumas estratégias para lidar com esse desafio na criação de um filho autista, que devem ser estudadas e adotadas de acordo com a singularidade, ritmo e necessidade de cada criança. “Comece deixando o alimento na mesa durante algumas refeições para que a criança tolera sua presença. Gradualmente, aproxime-o, coloque-o no prato e encoraje a criança a tocá-lo na boca”, orienta a profissional.

Uma outra estratégia legal, segundo a psicóloga, é dar opção para a criança escolher o que terá no almoço. Por exemplo, restringindo algumas opções: “você quer arroz com cenoura ou batata com mandioca?”. Permitir que a criança participe da preparação dos alimentos também pode ser útil, pois proporciona exposição a diferentes alimentos e texturas. O ambiente da alimentação deve ser calmo, tranquilo e com o mínimo de estímulos sensoriais possíveis. Lembrem-se: muita paciência e amor, esses são os melhores ingredientes para progressos respeitosos e efetivos.