Pós-parto: vida íntima deve ser retomada sem pressa, diz médica Freepik

A ginecologista Maria Carolina Dalboni explica como lidar com as mudanças após o parto

Amamentar, cuidar do bebê, lidar com o novo corpo e, ao mesmo tempo, reencontrar o próprio desejo sexual: para muitas mulheres, o pós-parto é um período de descobertas e também de desafios. A ginecologista, obstetra e sexóloga Maria Carolina Dalboni conversou com a reportagem e explicou como as alterações hormonais, emocionais e físicas dessa fase podem impactar a vida sexual, e o que fazer para resgatar o prazer.

O tempo recomendado pelos obstetras para a retomada da vida sexual é de, no mínimo, 45 dias após o parto, período também conhecido como resguardo ou puerpério. Mas essa regra pode (e em alguns casos, deve) ser estendida: o melhor momento para voltar é quando a mulher se sentir bem e segura, sem desconfortos ou dores.

Amamentação, hormônios e lubrificação

Segundo a médica, é natural que a amamentação provoque mudanças importantes no corpo. “Com a prolactina elevada, a produção de estradiol diminui, e isso leva a uma redução da lubrificação vaginal. Além disso, há queda no desejo sexual. E a lubrificação tem muito a ver com a vontade, se a mulher está cansada, insegura ou com medo, tudo isso prejudica”, orienta.

Corpo e autoestima: um novo espelho

Para além dos hormônios, o espelho também pode ser um desafio. “Algumas mulheres ganham peso, não voltaram às atividades físicas, percebem mudanças no abdômen. Quem está amamentando ainda lida com o peito cheio e até com o cheiro do leite. É comum que a autoestima não esteja 100%”, diz.

O lado emocional também pesa: “Hoje temos menos filhos, gestações muito planejadas. Quando o bebê chega, a dedicação é total, e o desejo sexual acaba ficando em segundo plano.”

Para essas mulheres, a médica recomenda apoio psicológico ou terapias comportamentais. “Às vezes, é preciso esse espaço para entender que tudo volta ao normal, e, em muitos casos, pode até ficar melhor que antes.”

Conversar com o parceiro é essencial

Dra. Maria Carolina reforça que diálogo e paciência são fundamentais. “Cada mulher tem um tempo para se recuperar, seja após parto normal ou cesariana. É importante que o parceiro entenda, tenha carinho e compreensão. Se houver dor ou medo, podemos lançar mão de lubrificantes e hidratantes vaginais.”

O acompanhamento médico no puerpério, segundo ela, deve ser próximo e acolhedor. “O profissional precisa orientar e respeitar o tempo dessa paciente.”

Mitos e o medo de “não ser como antes”

Entre os receios mais comuns, está a dúvida se o sexo vai “voltar a ser como era”. “Eu sempre explico que o sexo é multifatorial, não depende só de hormônios ou do corpo. Há aspectos emocionais e comportamentais que também contam”, diz.

E, mesmo que não seja exatamente igual, pode ser ainda melhor. “Tenho pacientes que dizem: ‘Doutora, agora quero voltar a ser mulher! Passei meses sendo só mãe’. E esse é um passo importante , retomar o olhar para si, sem culpa”, finaliza.