
Doenças periodontais podem aumentar em até 20% o risco de problemas cardiovasculares
Você cuida da sua boca como cuida do resto do corpo? Escovar os dentes é rotina para a maioria das pessoas, mas a saúde bucal vai muito além desse hábito. Dados do Ministério da Saúde mostram que as doenças periodontais ainda estão entre as principais causas da perda de dentes em adultos no Brasil, resultado do acúmulo de biofilme dental — uma película invisível de bactérias que se forma entre os dentes e a gengiva. O problema é que os impactos não ficam restritos à boca: estudos apontam que infecções e inflamações periodontais podem aumentar o risco de complicações no coração.
A conexão entre saúde bucal e cardiovascular tem ganhado cada vez mais atenção da comunidade científica. Pesquisas publicadas no Journal of Periodontology e na American Heart Association demonstram que pessoas com doença periodontal têm até 20% mais chances de desenvolver problemas cardiovasculares.
A saúde dos dentes é vital
“A boca é a porta de entrada do nosso organismo. Quando temos inflamações gengivais e periodontais, criamos um ambiente propício para que bactérias patogênicas migrem para outras partes do corpo através da circulação sanguínea. Essas bactérias podem se depositar nas artérias coronárias, contribuindo para a formação de placas ateroscleróticas e aumentando significativamente o risco de infarto e AVC”, explica Bruna Conde, cirurgiã-dentista especialista em halitose.
Os sinais de alerta são mais comuns do que se imagina. Sangramento gengival, gengivas avermelhadas ou inchadas e sensibilidade dental são indicativos de que algo não está bem. “Muitas pessoas normalizam esses sintomas, mas eles podem ser o primeiro sinal de problemas cardiovasculares mais sérios”, alerta a especialista.
Prevenir sempre
O mecanismo é direto: as bactérias presentes na boca podem entrar na corrente sanguínea durante atividades simples como escovação ou mastigação, especialmente quando há inflamação gengival. Uma vez na circulação, essas bactérias podem se alojar nas paredes dos vasos sanguíneos, desencadeando processos inflamatórios que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardíacas. “As inflamações crônicas na boca produzem substâncias inflamatórias que circulam pelo corpo todo. Isso cria um estado de inflamação sistêmica que sobrecarrega o sistema cardiovascular”, esclarece Bruna Conde.
A prevenção é simples e acessível. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda escovação com pasta fluoretada pelo menos duas vezes ao dia, uso diário de fio dental e visitas regulares ao dentista a cada seis meses. “O biofilme dental se forma constantemente, por isso a higienização deve ser diária e completa. O fio dental é fundamental para remover bactérias dos espaços entre os dentes onde a escova não alcança”, orienta a especialista.
Para quem já apresenta sinais de doença periodontal, o tratamento precoce é essencial. “Quanto antes identificarmos e tratarmos essas inflamações, menores serão os riscos de complicações cardiovasculares. O tratamento periodontal pode reduzir de forma significativa os marcadores inflamatórios no sangue. Investir na saúde bucal é uma das formas mais eficazes de prevenir doenças cardíacas. Cuidar da boca é também cuidar do coração. Manter a higiene da língua e visitar regularmente o dentista, especialista em gengiva e periodontista, é fundamental para o tratamento. Além disso, o acompanhamento conjunto entre cardiologista e periodontista é indispensável”, conclui a cirurgiã-dentista.