
Cada medicamento tem uma ação diferente no organismo; saiba como as canetas emagrecedoras agem na luta contra a obesidade
Medicamentos para favorecer o emagrecimento são tão importantes para uma pessoa com obesidade como um remédio vasodilatador para um hipertenso. Os vasodilatadores aumentam o calibre dos vasos sanguíneos, inibindo as consequências da pressão alta. No caso dos farmácos contra a obesidade, as ações são mais diversas: alguns turbinam a sensação de saciedade; outros dificultam a digestão de gorduras. De qualquer forma, o objetivo é um só: ajudar o paciente a perder peso.
“A obesidade não tem cura. Por isso, se a intervenção cessar, a doença volta. Isso acontece da mesma forma com todas as doenças crônicas, como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia, por exemplo”, explica a endocrinologista Fabiana Mandel Cyrulnik. Dislipidemia é a presença anormal de gordura no sangue.
Há outra particularidade na obesidade: qualquer movimento que o paciente faz pró-emagrecimento é interpretado pelo organismo como uma ameaça. É como se o corpo humano ativasse mecanismos biológicos para preservar o próprio peso, incluindo fome mais exacerbada e queda do metabolismo. “Portanto, não se trata de falta de vontade ou preguiça: o corpo luta contra a perda de peso”, frisa a médica.
Nossos ancestrais
Mas por que o corpo se blinda contra os esforços para a eliminação de quilos extras? A explicação para isso está na questão evolutiva. Há milhares de anos, muito antes da revolução agrícola, nossos ancestrais desenvolveram técnicas de preservação do peso corporal para lidar com as adversidades e assegurar a sobrevivência num ambiente hostil. Para isso, optavam, instintivamente, por alimentos altamente calóricos e pelo consumo intenso de comida disponível, independentemente da fome.
A evolução avançou, o homem dominou a natureza, mas essa necessidade contínua de aumento ou manutenção do peso corporal permaneceu em nós. É como se o cérebro não tivesse assimilado a rapidez desse progresso evolutivo. Por isso, deduz que a adoção de uma dieta alimentar restritiva é um risco à sobrevivência e precisa ser banida. Essa resposta do cérebro ao emagrecimento é mais uma razão para considerar a importância dos medicamentos nesse processo.
Auxiliares em ação
No Brasil, os medicamentos utilizados para o emagrecimento são sibutramina, orlistate, combinação oral fixa de bupropiona com naltrexona, análogos de GLP-1 injetáveis (liraglutida, semaglutida) e análogo de GLP-1 e GIP (tirzepatida), também injetável. Liraglutida, semaglutida e tirzepatida são as chamadas canetas emagrecedoras. Cada um desses medicamentos age de forma diferente no organismo.
Para o médico integrativo Cleugo Porto, pessoas com obesidade devem sempre procurar um especialista caso desejem emagrecer. Segundo ele, só um médico tem condições de fazer as prescrições adequadas, administrar medicamentos coadjuvantes (por exemplo, contra a ansiedade) e definir a evolução do tratamento, incluindo doses de manutenção ou eventuais substituições de fármacos, dependendo das condições e necessidades de cada paciente.
Importante: a partir deste mês, farmácias e drogarias de todo o país passaram a reter receitas das canetas emagrecedoras, cuja venda, anteriormente, era livre. A decisão por um controle mais rigoroso na prescrição desse tipo de medicamento foi feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em abril deste ano, entrando em vigor somente agora. A validade das receitas, segundo a Anvisa, é de 90 dias a partir da data de emissão.
Como cada medicamento age?
– Sibutramina: reduz o apetite e aumenta a saciedade ao inibir a receptação dos neurotransmissores serotonina e noradrenalina no cérebro;
– Orlistate: diminui a absorção de gorduras no intestino. É capaz de impedir a digestão de 30% das gorduras ingeridas;
– Análogos de GLP-1: são as canetas emagrecedoras. Imitam o hormônio GLP-1, que é produzido pelo intestino. Dão sensação de saciedade e retardam o esvaziamento do estômago. O fármaco tirzepatida imita não só o GLP-1, como também o hormônio GIP;
– Bupropiona + Natrexona: Essa combinação reduz o apetite. Enquanto a bupropiona eleva a dopamina e a noradrenalina, a naltrexona age contra a dependência química.