Emagrecimento: busca por métodos infalíveis gera efeito contrário Divulgação

Especialista em emagrecimento e comportamento alimentar, Aline Freitas explica por que dietas extremas fracassam e como a lógica da “perfeição” compromete saúde física e emocional.

A procura por dietas rápidas e protocolos alimentares “infalíveis” aumentou nos últimos anos, impulsionada por vídeos virais, influenciadores e aplicativos que prometem transformações aceleradas. Só em 2024, o mercado global de dietas e perda de peso movimentou mais de US$ 160 bilhões, segundo dados da Research and Markets, e segue crescendo. Nos Estados Unidos, onde mais de 70% da população adulta convive com sobrepeso ou obesidade, programas que prometem resultados imediatos se popularizam a cada nova tendência, mesmo sem respaldo científico sólido. No Brasil, o cenário não é muito diferente. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia mostrou que 4 em cada 10 brasileiros já recorreram a dietas restritivas sem acompanhamento profissional.

Ao mesmo tempo, especialistas alertam para os riscos do chamado “ciclo das dietas”: a pessoa restringe alimentos, emagrece rapidamente, recupera o peso, muitas vezes com ganho adicional, e reinicia o processo. Esse padrão, conhecido como efeito sanfona, está associado ao aumento da ansiedade, piora na autoestima e maior risco de doenças metabólicas. Nos últimos meses, a discussão ganhou ainda mais força com o avanço das canetas de emagrecimento e o uso inadequado de estratégias radicais de restrição, que reacenderam o debate sobre métodos perigosos e insustentáveis.

O mito da dieta perfeita

A especialista em nutrição e comportamento alimentar Aline Freitas, autora de Viver Sem Dietas, alerta para o mito mais persistente no universo do emagrecimento: a ideia de que existe uma dieta perfeita. O livro, que recentemente foi apresentado por ela ao Cônsul-Geral do Brasil em Orlando, Embaixador João Lucas Quental, em um encontro marcado por diálogo profundo no Consulado-Geral, reforça sua missão de promover autonomia alimentar, liberdade emocional e ruptura de ciclos que aprisionam muitas pessoas. “As pessoas acreditam que vão encontrar um cardápio milagroso que vai resolver todos os problemas. Mas o corpo humano é dinâmico, e impor uma fórmula única é justamente o que mantém muitos presos no ciclo de frustração”, afirma.

Para Aline, a busca por perfeição não apenas é ilusória, como prejudicial. “Quando alguém tenta seguir um plano rígido demais, qualquer deslize vira motivo para desistir. Isso afeta a relação com a comida e gera culpa, vergonha e autocobrança. Comer não deveria ser uma batalha diária”, explica. Ela defende que o foco do processo deve ser o desenvolvimento de autonomia, e não a obediência a regras inflexíveis.

No livro, Aline aborda como emoções, rotina e ambiente influenciam o comportamento alimentar, fatores que não cabem em tabelas ou manuais prontos. “Nenhuma dieta leva em conta que você pode estar cansado, ansioso, estressado ou com dificuldade de organização. É por isso que elas falham, porque ignoram a vida real”, diz. Segundo ela, a construção de hábitos é mais eficaz quando feita de forma gradual, realista e alinhada ao contexto de cada pessoa.

Danos psicológicos

Outro ponto que a especialista destaca é o impacto psicológico das restrições excessivas. Estudos recentes apontam que dietas muito rígidas podem aumentar compulsões alimentares e desencadear episódios de comer emocional. “O ‘tudo ou nada’ é o que mais aprisiona. Quanto mais proibido, mais desejado. Libertar-se desse padrão é essencial para ter uma relação saudável com o corpo e com a comida”, afirma Aline.

Para ela, o caminho está na flexibilidade e no autoconhecimento. Isso envolve estratégias simples: equilibrar refeições ao longo do dia, respeitar sinais de fome e saciedade, planejar a rotina sem paranoia e compreender que deslizes fazem parte do processo. “Emagrecer não é sobre perfeição, é sobre constância. O que transforma é o que você faz sempre, não o que você tenta fazer de forma impecável por uma semana”, conclui a especialista.

Ao desmontar o mito da dieta perfeita, Aline Freitas reforça uma tendência crescente na área da saúde: abandonar o discurso punitivo e adotar abordagens mais humanas, que considerem corpo, mente, rotina e emoções como partes inseparáveis. Uma mudança necessária para quem busca não apenas emagrecer, mas abandonar as dietas.