Apesar do alto índice de brasileiros que sofrem com transtornos, assunto ainda é cercado de preconceito

Cerca de um bilhão de indivíduos apresentam pelo menos um problema relacionado à saúde mental, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Brasil lidera o ranking de casos de ansiedade e depressão na América Latina, somando quase 19 milhões de pessoas nessas condições até o final de 2022. Mesmo com esses números, o cuidado com a saúde mental ainda é um tabu para grande parte da população.

Ainda falta informação

Para a psicóloga Alana Anijar, o estigma e a falta de entendimento sobre transtornos mentais e sofrimento emocional são alguns dos motivos para o preconceito ainda se perpetuar. “Por muitos anos, as doenças mentais foram mal interpretadas, associadas a fraquezas de caráter ou espiritualidade. A desinformação gera medo e discriminação, perpetuando o ciclo de estigma”, explica.

“Transtornos mentais são condições de saúde, como qualquer outra, que requerem tratamento e compreensão.”

Terá consequências

É importante dizer que negligenciar o cuidado com a saúde mental por medo ou vergonha de procurar um tratamento, pode trazer sérias consequências. “Sofer em silêncio pode agravar os sintomas e levar a complicações sérias, como o iso- lamento social, a incapacidade de trabalhar ou estudar e, em casos extremos, o risco de suicídio”, alerta a profissional.

Isso acontece, principalmente, por medo do julgamento alheio, que impede que as pessoas busquem a ajuda de que precisam e resulta em uma piora na qualidade de vida. “É fundamental criar um ambiente acolhedor e sem julgamento, onde as pessoas se sintam seguras para buscar apoio profissional”, orienta a psicóloga.

Houve um avanço

Um outro levantamento, feito pela consultoria Alvarez & Marsal, apontou um crescimento anual de 12% a 15% nos últimos quatro anos em atendimentos de saúde no Brasil devido a transtornos mentais. Mesmo assim, o país ainda tem o 3o pior índice de saúde mental do mundo, conforme dados do relatório global anual Estado Mental do Mundo 2022.

Ao traçar um paralelo com o passado, Alana reforça que assuntos relacionados ao bem-estar psicológico sempre foram vistos como algo a ser escondido. A maioria das pessoas com transtornos mentais eram, muitas vezes, isoladas ou institucionalizadas. Apesar de ainda não ser o ideal, houve um avanço significativo na forma como a sociedade enxerga a saúde mental. “A ciência e a medicina evoluíram, permitindo diagnósticos mais precisos e tratamentos eficazes. Hoje, há uma maior abertura para discutir esses temas, e campanhas de conscientização têm ajudado a reduzir o estigma e promover a aceitação”, aponta.

A internet pode seguir dois caminhos

Alana conclui, então, que as redes sociais e a mídia têm um papel duplo nessa jornada, que, por um lado, ajudam a ampliar a discussão, permitindo que as pessoas compartilhem suas experiências e encontrem apoio em comunidades on-line. Por outro, podem também propagar desinformação e fomentar o preconceito, especialmente quando usadas para espalhar estereótipos ou simplificar questões complexas. “É importante consumir conteúdo de fontes confiáveis e incentivar o diálogo aberto e informativo”, adverte a profissional.

Educação é o caminho

O que as pessoas precisam entender é que passar por períodos de sofrimento ou vulnerabilidade emocional é tão normal quanto sofrer por uma doença física, e deve ser tratado com a mesma naturalidade. Uma alternativa poderosa para combater o preconceito, de acordo com Alana, é a educação. “Conversas abertas sobre saúde mental devem ser incentivadas em casa, nas escolas e no trabalho. Podemos compartilhar informações precisas, desafiar estigmas e oferecer apoio àqueles que estão lutando. Além disso, apoiar políticas que incentivem o acesso a cuidados de saúde mental pode fazer a diferença”, conclui a psicóloga.

“Promover a empatia e a compreensão, ouvir sem julgamento e estar presente para as pessoas em nossas vidas são alguns dos passos para derrubar esse tabu.”

LIGUE CVV: 188

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e Skype. 24 horas todos os dias da semana.

Ajuda na rede pública

As pessoas em situações de crise podem ser atendidas em qualquer serviço da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS. A RAPS é formada pelos seguintes pontos de atenção: Unidade Básica de Saúde/Estratégia de Saúde da Família (UBS/ESF), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades de Acolhimento (UA), Serviços Residências Terapêuticos (SRT), Programa de Volta para Casa (PVC), Unidades de Pronto Atendimento (UA), SAMU, Hospitais Gerais e Centros de Convivência e Cultura.