Você sabe o que é fome emocional? Descubra agora! Atividades físicas podem reverter os hábitos dos chamados comedores emocionais (Foto: Freepik)

Por que comemos mesmo sem fome? Entenda a relação entre a necessidade de consumir alimentos, o cérebro e as emoções

No meio da tarde, você para o que está fazendo para provar uma fatia de bolo. O sabor agrada e você pega mais uma fatia. Ou abre uma caixa de bombons para experimentar apenas duas unidades, só duas! Mas se distrai e devora meia caixa. Após o consumo, a sensação imediata é de prazer ou de alívio, mas o arrependimento não demora para bater. Afinal, por que comemos quando não estamos exatamente com fome? E o que fazer para modificar esse hábito?

A resposta pode ser a fome emocional. Comedores emocionais representam um perfil alimentar já identificado pela ciência (os outros são hiperfágicos, beliscadores e queimadores lentos). Porém, há uma particularidade entre os comedores emocionais: esse perfil, de acordo com os pesquisadores, atinge mais as mulheres.

Outra característica reveladora é que a fome emocional tem tudo a ver com a saúde mental. Isso porque, o estudo em questão aplicou um questionário aos pacientes investigados para tabular seus níveis de ansiedade e depressão. Conhecido como HADS (Hospital Anxiety and Depression Scale), esse questionário pontua esses dois distúrbios em escalas. Resultado: os comedores emocionais são mais ansiosos do que os pacientes enquadrados nos demais perfis.

“Isso sugere que a fome emocional está fortemente associada a estados emocionais negativos, como a ansiedade, o que pode influenciar o comportamento alimentar desses indivíduos”, analisa a endocrinologista Fabiana Mandel Cyrulnik.

Comida reconfortante

Comedores emocionais são afetados pela fome emocional, e não pela fome fisiológica. Fisiológica é a fome que sentimos depois de um período de privação de alimentos: o corpo pede uma reposição alimentar, porque precisa de nutrientes para continuar funcionando.

A fome emocional é diferente: a necessidade de comer é uma resposta às próprias emoções, seja o estresse ou a tristeza. É comum que os comedores emocionais prefiram alimentos conhecidos como “comida reconfortante” (“comfort food”). Ricos em açúcar, carboidratos e gorduras, esses alimentos podem variar entre pizzas, lanches, massas, doces, biscoitos, sorvetes e batatas fritas, entre outros. 

Mas por que essa preferência? Em geral, além de ser mais apetitosa ou ter uma aparência mais estimulante aos olhos, a comida reconfortante pode atenuar emoções negativas. Isso porque, o açúcar, o carboidrato e a gordura são grupos alimentares que liberam substâncias no cérebro capazes de melhorar o humor. É claro essa escolha é totalmente intuitiva, embora seus efeitos possam ser percebidos na prática. Quando uma amiga sofre uma decepção, nossa primeira reação é animá-la com um chocolatinho, e não com um prato de repolho cozido, certo?

Sistema de recompensa

O fato é que o controle da fome e da saciedade é um processo complexo no cérebro. O sistema de recompensa tem uma atuação decisiva nesse processo e, por esse motivo, influencia diretamente as escolhas que fazemos em relação aos alimentos e a urgência que sentimentos, em determinados momentos, para encontrar opções gratificantes ao paladar.

“Essas mesmas vias de recompensa também controlam comportamentos de prazer mais primitivos, como atividade sexual, memória afetiva e vícios, como cigarro e álcool”, pontua Fabiana Cyrulnik. Por isso, não é raro encontrar pacientes com obesidade que também são dependentes de nicotina ou álcool. “Isso ilustra como os sistemas de recompensa e controle de impulsos estão interligados e como a interrupção de um comportamento pode afetar outros aspectos da saúde”, destaca a médica.

O sistema de recompensa e o controle de impulsos estão tão relacionados que é comum observar a seguinte situação: ao decidir parar de fumar, a pessoa começa a engordar. Se ela for obesa, pode ganhar ainda mais peso ao eliminar o cigarro. 

Tem solução?

Tem, sim. Quem apresenta fome emocional pode quebrar esse hábito se adotar uma mudança no estilo de vida. Essa mudança abrange várias frentes. O primeiro passo é buscar um médico especializado para receber o diagnóstico e a terapêutica individualizada, envolvendo plano alimentar, medicamentos e/ou procedimentos complementares, além de atividades físicas.

Dentro desse combo, a psicoterapia é muito importante, porque vai ajudar o paciente a administrar melhor as próprias emoções. Também é recomendável adotar práticas capazes de abrandar a ansiedade e escapar do estresse, como meditação e yoga. 

“É fundamental o estabelecimento de um tripé composto por plano alimentar, atividade física e tratamento medicamentoso”, reforça Fabiana Cyrulnik. Segundo ela, somente uma nova dieta e a adoção de exercícios físicos são insuficientes para a perda de peso. “O tratamento medicamentoso se torna uma ferramenta muito útil e segura, pois, além de proporcionar uma maior potência na perda de peso, oferece uma maior chance de manutenção do peso perdido”, explica ela.

Qual é o seu perfil? 

Hiperfágico: esse perfil alimentar reúne os indivíduos que ingerem grandes quantidades de comida no almoço e no jantar, e raramente no café da manhã. É mais comum entre os homens. 

Beliscador: nesse perfil, estão enquadradas as pessoas que não consomem quantidades significativas de comida nas refeições, mas estão sempre com fome e, por isso, habituam-se a ingerir petiscos (“beliscar”) ao longo do dia.

Queimador lento: engloba os indivíduos que têm metabolismo lento ou baixo gasto energético. Algumas doenças podem explicar o metabolismo lento, como diabetes, insuficiência cardíaca e até síndrome dos ovários policísticos.

Comedor emocional: reúne as pessoas que enxergam a comida como uma forma de recompensa emocional. Mesmo sem fome, elas comem além do necessário para administrar melhor as próprias emoções. Atinge mais as mulheres.