
Número de brasileiros com mais de 60 anos ocupados saltou de 5,1 milhões para 8,6 milhões, mas a maioria está na informalidade
O Dia Nacional da pessoa idosa, celebrado nesta terça-feira, 1º de outubro, evidencia uma transformação silenciosa, mas significativa, no mercado de trabalho brasileiro: a crescente participação da chamada “geração prateada”. Nos últimos 12 anos, o número de brasileiros idosos (com mais de 60 anos) ocupados profissionalmente cresceu 68,9%, saltando de 5,1 milhões em 2012 para 8,6 milhões em 2024, o que representa um aumento de 3,5 milhões de pessoas.
Os dados são de um estudo da pesquisadora Janaína Feijó, da FGV/Ibre, com base na PNAD Contínua do IBGE, e revelam que esse grupo não apenas cresce em número, mas também em participação ativa na economia nacional.
Informalidade marca a inserção de pessoas idosas
Apesar do crescimento expressivo, a realidade do trabalho na terceira idade está longe de ser ideal. Em 2024, 53,8% dos ocupados com mais de 60 anos estavam na informalidade, um índice de 15,2 pontos percentuais superiores à média nacional de 38,6%.
Essa disparidade revela que, embora mais idosos estejam trabalhando, a maioria está em postos precários, sem carteira assinada e, consequentemente, sem acesso aos direitos trabalhistas básicos como férias remuneradas, 13º salário e FGTS.
Serviços e comércio lideram contratações
A análise dos setores que mais absorvem a mão de obra idosa mostra uma concentração em duas áreas principais:
- Trabalhadores dos serviços e comércio: 26,75%
- Operários qualificados, artesãos e mecânicos: 21,20%
Juntos, esses dois segmentos representam quase metade (47,95%) de todas as pessoas idosas ocupados no país, indicando onde estão as principais oportunidades e também os maiores desafios para essa faixa etária.
Apesar do avanço, cenário ainda preocupa
Para a gerontóloga Cláudia Alves, autora do livro “O Bom do Alzheimer”, a permanência das pessoas idosas no mercado de trabalho pode trazer benefícios significativos quando realizada em condições adequadas.
“O trabalho, quando exercido de forma digna e respeitosa, pode ser um grande aliado do envelhecimento saudável. Ele mantém a pessoa ativa, com propósito e inserida socialmente”, explica Alves.
A especialista, no entanto, alerta para os riscos da precariedade: “Quando falamos de informalidade e falta de proteção trabalhista, estamos diante de um cenário preocupante. A pessoa idosa precisa de condições especiais de trabalho, não de exploração”.
Necessidade financeira impulsiona permanência
Segundo a especialista, diversos fatores explicam o crescimento da geração prateada no mercado de trabalho. “Temos uma combinação de necessidade financeira, uma vez que muitos idosos precisam complementar a aposentadoria, com o desejo de se manter ativo e produtivo”, analisa.
A gerontóloga destaca, ainda, que “a sociedade está começando a reconhecer o valor da experiência e da maturidade profissional que esses trabalhadores trazem”.
Desafios e perspectivas
O fenômeno da geração prateada no mercado de trabalho reflete tanto o envelhecimento populacional brasileiro quanto as inadequações do sistema previdenciário nacional. Com o aumento da expectativa de vida e a necessidade de complementação de renda, a tendência é que esses números continuem crescendo.
Segundo projeções da ONU e do IBGE, o Brasil continuará a envelhecer nas próximas décadas. A tendência é que a população com 50 anos ou mais ultrapasse a de crianças e adolescentes por volta de 2029. Além disso, a estimativa é que o grupo com 60+ siga crescendo até, pelo menos, 2070. Esses números evidenciam uma inversão histórica da pirâmide etária e, com ela, uma transformação social e econômica sem precedentes.
“Precisamos urgentemente de políticas públicas que protejam esses trabalhadores e empresas que compreendam o potencial dessa mão de obra experiente”, conclui Cláudia Alves.