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Seis obras que dialogam com memória, estética, território e identidade
O dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, é um momento de reafirmação da memória, do legado e da luta da população negra no Brasil. Também é uma data para celebrar quem cria, quem narra e quem abre caminhos dentro do audiovisual. Para marcar a data, dois nomes que vêm contribuindo para a presença negra nas telas, Igor Verde e Renata Di Carmo, selecionaram seis filmes que ajudam a pensar e sentir a cultura afro-brasileira, por diferentes perspectivas.
Antes de apresentar suas indicações, vale destacar que ambos vivem fases de grande reconhecimento no audiovisual. Igor Verde, além de uma trajetória que passa por Globo, Netflix e Max, acaba de lançar a série “Reencarne”, apresentada na 11ª edição do Berlinale Series Market, e dirige “Capoeiras”, produção original da Disney lançada em agosto deste ano. Seus trabalhos partem da ancestralidade e da força das narrativas negras para questionar identidade, memória e futuro.
Já Renata Di Carmo, pioneira entre mulheres negras em salas de roteiro e com uma carreira que passa pela Globo, Max, Netflix, Prime, Disney e SBT, além de transitar pela literatura, cinema e teatro, atualmente celebra o sucesso do reality “No Jogo” no Canal E!, que selecionou atrizes negras para a série ainda inédita do Universal + “(in)vulneráveis”, também criada e dirigida por ela. A produção, que destaca o protagonismo da enfermagem e narrativas da zona oeste do Rio, reforça seu compromisso com histórias plurais e sensíveis.
Nesse sentido, antes de chegar às telas, Igor e Renata foram espectadores atentos e é dessa vivência que nasce as indicações que apresentam agora.
As escolhas de Renata Di Carmo
Nascida em Campo Grande, zona oeste do Rio, atravessada pelo universo das escolas de samba por conta das avós, e tendo uma trajetória que une rigor artístico e compromisso com a pluralidade das narrativas negras, Renata escolheu filmes que tratam de afeto, memória, estética e legado, a partir da força das personagens e de realidades diversas:
1. Kaza Branca (2024), de Luciano Vidigal
O filme acompanha relações familiares e afetivas dentro de um território marcado por disputas, encontros e vínculos profundos. “É um filme que fala sobre pertencimento de um jeito muito verdadeiro, sensível e poético. O Luciano coloca no centro temas que atravessam a experiência humana à partir da perspectiva dos afetos, do amor e das amizades. É um filme simples e profundo, realizado de uma forma inteligente e cativante. Há política articulada de forma muito engenhosa ali. A premissa é simples, mas há profundidades que emocionam e que falam sobre lugar no mundo, sobre ruptura de padrões, sobre periferia de uma jeito único. Não à toa o filme conquistou importantes prêmios internacionais”, aponta Renata.
2. Alfazema (2019), de Sabrina Fidalgo
Neste curta, acompanhamos o dia de uma artista negra no Rio de Janeiro. Cor, gesto, ritmo e cidade se misturam em uma narrativa que discute autonomia e identidade.
“Alfazema é uma crônica metalinguística. Um filme que faz parte de uma trilogia da Sabrina sobre a festa. É uma narrativa sobre a preparação para o carnaval e também sobre a espontaneidade, nossa marca de brasilidade, e a espetacularização dela. Tem uma galhofa, um abuso, e ao mesmo tempo um comprometimento. Esse lugar de autoralidade, de provocação e ao mesmo tempo de compromisso com a linguagem e a pesquisa estética são lugares importantes de abertura para o olhar”, comenta Renata.
3. Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo (2022), de Juliana Vicente
O documentário revisita a história do grupo que transformou o rap brasileiro e marcou a vida de diversas gerações. Nas palavras de Renata, o filme fala sobre a história do país. “O documentário reconhece a trajetória do grupo como parte essencial da nossa história cultural e política. A articulação vida-sociedade-arte está muito presente. Ele destaca a força desse legado, a luta que o sustenta e tudo o que o grupo representa para diferentes gerações, inclusive para as de hoje. O filme é muito rico, traz cenas inéditas referentes aos mais de 30 anos de carreira, entrevistas exclusivas e revela a importância não apenas musical do grupo, mas seu impacto social e estético desde os primeiros shows nas ruas de São Paulo”, destaca.
As escolhas de Igor Verde
Igor cresceu no Complexo Alemão dentro de um terreiro onde ouviu as primeiras histórias. Sua carreira atravessa televisão, cinema e streaming, sempre com um olhar que mistura ancestralidade, política, estética e corpo.
1. Alma no Olho (1973), de Zózimo Bulbul
Considerado um marco do cinema negro brasileiro, o curta combina performance, expressão corporal e silêncio para refletir sobre a experiência da população negra desde a escravidão até a busca por liberdade. “Um filme essencial pra se estudar uma nova estética do corpo negro no audiovisual, a fundação de um olhar sobre esse corpo e a possibilidade de ver o corpo negro em um lugar que não seja o da dor, em um lugar de potência. Uma grande celebração do ser negro.”, destaca Igor.
2. Café com Canela (2017), de Glenda Nicacio e Ary Rosa
O longa acompanha a relação entre duas mulheres negras que, ao se reencontrarem, constroem um espaço de cuidado e escuta. “De alguma forma esse filme tem seu alicerce no filme de Zozimo. Na medida em que estuda a importância de olhar para uma outra pessoa com quem você se identifica e que, através desse olhar, se encontra muita cura para a alma. Isso acontece no encontro entre as duas protagonistas do filme, uma jovem e uma mulher madura, as duas negras, que se verão no olhar uma da outra. Além da linda cena em que um cabelo crespo é penteado em todo seu esplendor. Bela forma de celebrar”, aponta Igor.
3. Marte Um (2022), de Gabriel Martins
Um retrato sensível de uma família negra mineira que sonha e constrói futuro. “Um filme que dispensa apresentações. Um dos mais doces olhares sobre a família brasileira dos últimos tempos. Celebração preta na certa”, destaca Igor
As indicações de Igor e Renata mostram como o cinema pode ser uma forma de lembrar, celebrar e fortalecer a presença negra, cada filme, à sua maneira, fala sobre história, afeto, resistência e futuro.