HPV é uma epidemia “invisível” Considerada a infecção sexual mais comum do mundo, a manifestação do HPV pode ser silenciosa e oferecer risco de câncer

Considerada a infecção sexual mais comum do mundo, sua manifestação pode ser silenciosa e oferecer risco de câncer

54,4% das mulheres e 41,6% dos homens. Esse era o número de pessoas atingidas por HPV em dezembro de 2023, segundo uma pesquisa nacional sobre o tema, encomendada pelo Ministério da Saúde por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). Em muitos casos, o organismo é capaz de erradicar naturalmente a infecção. Mas em algumas situações, ela persiste, tornando-se crônica ou de longa duração, especialmente quando associadas a certos tipos de HPV de alto risco. A longo prazo, quando não tratada, tem o potencial de desencadear o desenvolvimento de câncer.

Extremamente recorrente

O HPV é a infecção sexualmente transmissível mais comum no mundo e está associada a mais de 90% dos casos de câncer de colo do útero e de ânus e a mais da metade dos casos de câncer na vulva, pênis e orofaringe, também de acordo com o Ministério da Saúde. Além disso, 90% das verrugas genitais são provocadas pela doença.

A vacina HPV quadrivalente, disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), previne contra essas complicações e está disponível, gratuitamente, em cerca de 38 mil postos de vacinação pelo Brasil.

Nem sempre há sinais visíveis

Maria Carolina Dalboni, ginecologista e obstetra, destaca alguns sinais que costumam ser percebidos pelos indivíduos. “Alguns tipos de HPV causam lesões verrucosas, que aparecem como pequenas verrugas na região genital, e o próprio paciente normalmente vai procurar o médico quando percebe essa alteração.”

Porém, muitas vezes esse ferimento não se manifesta e permite que o vírus atinja outras partes do corpo sem nenhum sintoma inicial. “Pode causar lesões diretamente no colo do útero ou pré-cancerígenas, no ânus, pênis, vagina e garganta”, alerta a médica. E é aí que entra a importância dos exames preventivos.

“O vírus pode ser latente, então, às vezes, o paciente pode tê-lo por anos sem manifestar a lesão.”

Exames, para já!

Como pode evoluir sem apresentar maiores sintomas, é essencial que o acompanhamento médico seja constante. O Papanicolau em mulheres, por exemplo, é o exame preventivo mais importante para o diagnóstico precoce, uma vez que detecta alterações nas células do colo do útero.

É importante lembrar que o HPV não se transmite exclusivamente por via genital, podendo ocorrer também por contato oral e anal. Nesses casos, médicos indicam outros testes, como a captura híbrida para HPV, que coleta amostras no canal cervical da paciente. “Nos homens, a biópsia dessas verrugas ou lesões pode ser realizada no pênis e na garganta, mas o diagnóstico geralmente é clínico, sendo necessário o preventivo apenas quando as lesões não são visíveis diretamente”, explica Maria Carolina.

Tipos de HPV

O papilomavírus humano (HPV) apresenta diversos subtipos e pode provocar desde verrugas na pele e mucosas até lesões que antecedem o câncer. Esses subtipos se classificam em tipos de baixo e alto risco para câncer.

Os tipos de HPV presentes nas membranas mucosas são chamados, às vezes, de HPV genital e geralmente não aparecem na pele. Não se deve confundir o HPV genital com o HIV ou o herpes. A infecção se divide em dois grupos principais:

Tipos de HPV de baixo risco

Alguns tipos de HPV podem resultar em verrugas (papilomas) nos genitais e no ânus de homens e mulheres. Nas mulheres, também podem ocorrer verrugas no colo do útero e na vagina. São considerados “baixo risco” porque tem menos chances de causar câncer.

Tipos de HPV de alto risco

Outros tipos recebem a designação de “alto risco” por causa da capacidade de causar câncer. A preocupação dos médicos, nesses casos, são as alterações celulares e os pré-cânceres associados a esses tipos, pois aumentam significativamente o risco de desenvolver câncer ao longo do tempo. Os tipos comuns de HPV de alto risco incluem o HPV 16 e o 18.

Vacinar é o caminho

Para Maria Carolina, ginecologista e obstetra, o mais importante a se frisar é a vacinação contra o HPV. “Costumo dizer que é um dos únicos, ou o único, câncer que podemos efetivamente prevenir. Sabemos que, se nos vacinarmos, a chance da paciente apresentar câncer é muito pequena e, caso ocorra, é de forma menos grave”, aponta. Atualmente, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), a Vacina Quadrivalente. Além da vacina quadrivalente disponível no SUS, o setor privado oferece a vacina nonavalente, que protege contra nove tipos de HPV.

A Vacina Quadrivalente protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero. Pode-se administrar essa vacina em meninos e meninas a partir de 9 anos. Houve uma mudança recente, antes, até os 14 anos, mas agora é até os 18 anos para aqueles que não completaram. “Pacientes com baixa imunidade, alterações do sistema imunológico, doenças autoimunes e HIV, podem se vacinar em qualquer momento da vida”, reforça a especialista.

Dose Única

Desde fevereiro, a estratégia nacional de vacinação contra o HPV mudou para uma dose única, substituindo o esquema anterior de duas doses. De acordo com informações fornecidas pelo Ministério da Saúde, essa mudança tem como objetivo reforçar a proteção contra o câncer de colo do útero e outras complicações associadas ao vírus, incluindo a papilomatose respiratória recorrente.

Nova inclusão do público-alvo

Pacientes diagnosticados com papilomatose respiratória recorrente agora foram incluídos nos grupos prioritários para receber a vacinação contra o HPV. Para esses casos, a vacinação estará disponível mediante a apresentação de uma prescrição médica. Para pacientes menores de 18 anos, será necessário também apresentar um documento que comprove o consentimento dos pais ou responsáveis.

Estou com HPV, e agora?

O tratamento para a infecção vai depender do tipo de lesão, como descreve a ginecologista. “Lesões de baixo grau geralmente são monitoradas por dois anos, sem intervenção, enquanto lesões de alto grau passam por avaliação com colposcopia, um exame mais específico para o colo do útero. Através da colposcopia, é possível realizar biópsia da lesão.” Em casos mais graves, como câncer de colo do útero, Maria Carolina pontua que pode ser necessária uma cirurgia mais extensa, “que pode incluir a retirada do útero, dos ovários e trompas, dependendo da extensão da doença”, acrescenta.

Camisinha, sempre!

Por último, mas não menos importante, é preciso ressaltar que o uso do preservativo durante as relações sexuais é indispensável. “Especialmente para pacientes com sistema imunológico enfraquecido devido a doenças autoimunes, pacientes portadores de HPV, HIV ou em tratamento para outros tipos de câncer, pois esses têm maior predisposição para adquirir o HPV”, alerta a médica.