Adolescente neurodivergente: desafios e caminhos possíveis

Como apoiar, renegociar limites e construir autonomia em conjunto de adolescentes neurodivergentes?

A adolescência já é, por natureza, um período de grande transformação: novas emoções, dúvidas sobre identidade, impulsividade, busca por autonomia e mudanças no relacionamento familiar. Para jovens neurodivergentes, essas transições podem ser ainda mais complexas, principalmente quando há diagnóstico de Transtorno Opositor Desafiador (TOD), Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Impulsividade e conflitos

Segundo a psicopedagoga e orientadora parental Andreia Rossi, especializada em TOD e em relações entre pais e filhos, o apoio no dia a dia precisa evoluir conforme o adolescente cresce. “É uma fase que exige renegociação constante: regras, combinados, responsabilidades e autonomia precisam ser revisitados, ou a relação vira um cabo de guerra”, explica.

A impulsividade típica da adolescência pode se intensificar nos jovens neurodivergentes. Decisões rápidas, dificuldade em prever consequências, interrupções e conflitos são comuns, e muitas vezes mal interpretados pelos adultos.

Outro ponto delicado é a rotina. “A transição para o fim da adolescência, quando começam vestibular, escolha profissional, estudo mais intenso e responsabilidade da vida adulta, costumam ser um divisor de águas para famílias de jovens neurodivergentes”, afirma Andreia. A organização do tempo, o manejo das emoções e a própria construção da identidade exigem atenção redobrada.

O papel das telas na vida do adolescente neurodivergente

Além de Instagram e TikTok, o consumo de conteúdos em Youtube, games e plataformas de streaming impacta diretamente o comportamento, o humor e o ritmo dos adolescentes. Para neurodivergentes isso pode significar hiperfoco, perda da noção de tempo, frustração intensa ao interromper atividades e dificuldades de transição entre tarefas.

Andreia reforça que a solução não está em proibir, mas em coparticipar. “Quando pais e adolescentes constroem combinados reais, horários, limites, pausas, alternativas, há muito mais adesão e menos conflito”.

Se para muitos jovens o fim da adolescência representa escolhas e liberdade, para os neurodivergentes marca um período de grande vulnerabilidade. A vida universitária, o primeiro emprego e a gestão da própria rotina podem gerar ansiedade, sobrecarga e, sem acompanhamento, até isolamento.
O olhar da família e de profissionais especializados é fundamental para garantir que esse jovem chegue à vida adulta com autonomia, autoestima e repertório emocional.