Especialista elenca três dicas valiosas para se livrar desse peso
Você já deve ter conhecido alguém que se sobrecarregou em uma tarefa, doou o que não podia e até comeu algo que não gostava só para não magoar a avó. Ela pode sofrer da Síndrome da Boazinha, uma compulsão por agradar. Sabrina Amaral, psicóloga especialista em neurociência aplicada ao comportamento humano, detalha como essa condição pode afetar negativamente e como podemos driblá-lo no dia a dia.
Primeiro, devemos contextualizar
A compulsão é um comportamento impulsivo e automático, que é motivado por emoções intensas e padrões de pensamento repetitivos. Como consequência, isso leva a pessoa a desenvolver uma dificuldade crônica em dizer “não”. Além disso, o termo “Síndrome da Boazinha” foi cunhado pela doutora em psicologia Harriet B. Braiker, em seu livro de mesmo nome. Portanto, esse conceito descreve a tendência de muitas pessoas de priorizarem o desejo de agradar aos outros, mesmo em detrimento de suas próprias necessidades.
O lado de quem vive com a Síndrome da Boazinha
A analista de importação, Izabella Rocha Ramos, de 21 anos, se identifica com a Síndrome da Boazinha, que a coloca no papel de se comprometer com tarefas demais e que poderiam ser distribuídas de uma forma melhor, se ela conseguisse verbalizar.
A analista conta que certa vez foi abordada por um vendedor de serviços odontológicos e acabou sendo levada para uma enorme clínica. “Ele me mostrou todo o local, as salas e passei por uma avaliação. Depois de muito tempo me passaram um orçamento para colocar aparelho e eu finalmente consegui dizer que não era uma prioridade. Então me informaram que eu só poderia ir embora se o gerente liberasse, e ele me chamou de desleixada”, descreve a jovem, que foi embora com vontade de chorar.
“A condição atinge ambos os sexos, porém, devido ao modelo educativo feminino voltado a ajudar, a cuidar e a ser devoto ao outro, é mais comum em mulheres”, destaca Sabrina Amaral.
Principais sintomas da Síndrome da Boazinha
Segundo a psicóloga, são eles:
Dificuldade em dizer ‘não’
“Dizer não é uma habilidade social importante e que, infelizmente, é pouco incentivada na educação das crianças, especialmente na cultura latina. O motivo disso pode ser o medo de rejeição ou conflitos, de perder amizades, prejudicar relacionamentos ou criar atritos. É fundamental reconhecer a importância de estabelecer limites saudáveis em relacionamentos pessoais e profissionais”, afirma Sabrina.
Baixa autoestima
Acontece quando há uma visão negativa de si e busca pela validação e aprovação externa para se sentir valorizada. É comum a crença de que a autoestima está diretamente ligada à capacidade de agradar aos outros, por isso se associa o ‘não’ ao risco de ser menos amada ou valorizada. “A falta de limites adequados pode levar a uma diminuição da autoestima. A pessoa começa a se sentir desvalorizada, como se suas próprias necessidades e desejos não fossem importantes”, lembra.
Auto exigência exacerbada
A necessidade de ser perfeita cria uma pressão interna gigantesca, que é constantemente alimentada por padrões elevados e, muitas vezes, quase impossíveis de serem alcançados. Como resultado, a crença de que “eu tenho que ser perfeita” acaba gerando sofrimento e ansiedade. Dessa forma, a busca pela perfeição torna-se uma fonte contínua de frustração, já que, na maioria das vezes, esses padrões são inalcançáveis e contribuem para um ciclo de insatisfação.
Sacrifício das próprias necessidades
O hábito de colocar as necessidades dos outros acima das suas, chegando a se sacrificar emocionalmente, fisicamente ou financeiramente para agradar ou a dificuldade em estabelecer limites, pode resultar em relacionamentos desequilibrados e desgastantes, nos quais uma pessoa acaba assumindo o papel de cuidadora e provedora de suporte constante, enquanto a outra pode se tornar dependente ou exploradora.
Dificuldade em expressar emoções negativas
Há uma tendência a evitar conflitos e reprimir emoções negativas, como raiva, frustração ou tristeza, com receio de rejeição e julgamento, ou até mesmo medo de perder o amor e aprovação dos outros.
Associam o fato de dizer não a serem egoístas ou inadequadas, mesmo quando precisam cuidar de si mesmas.
A importância do ‘NÃO’
Quando uma pessoa constantemente coloca as necessidades dos outros acima das suas próprias, ela pode se sentir sobrecarregada, ressentida e frustrada. Esses sentimentos vão se acumulando e, ao longo do tempo, trazem uma sensação de desequilíbrio nos relacionamentos e prejudicam o bem-estar emocional.
Como negar?
Aprender a dizer não de maneira assertiva e respeitosa é um processo gradual. É importante ser gentil consigo mesma e celebrar cada pequeno progresso. Com o tempo, você ganhará confiança em estabelecer limites saudáveis e construir relacionamentos mais equilibrados e gratificantes. Para começar, aqui vão três dicas da psicóloga.
Pratique
Existem algumas formas de dizer não sem precisar se justificar, como agradecer e apenas dizer que não pode, ofereça uma alternativa ou diga que precisa pensar sobre o assunto. Isso dará tempo para processar a solicitação para responder de maneira mais assertiva posteriormente. Aprenda a se posicionar, expressando suas necessidades e desejos de forma clara, direta e respeitosa. Use linguagem afirmativa e evite justificar excessivamente suas decisões. Por exemplo, troque: “Eu não posso ajudar porque tenho outros compromissos”, por: “Que legal você me convidar, agradeço, mas não posso”.
Defina limites
Trabalhe o autoconhecimento para identificar seus limites pessoais e profissionais. “Considere o que se dispõe a fazer e o que está fora dos seus limites. Além disso, observe qual é a motivação interna para fazer algo por alguém, se há uma compulsão em agradar, conseguir aprovação ou fugir de conflitos.”
Exercite a auto afirmação
Reconheça, em primeiro lugar, que suas necessidades e desejos são válidos e importantes. Além disso, pratique afirmações positivas regularmente, pois isso ajudará a fortalecer sua autoestima e autoconfiança. É fundamental lembrar que dizer “não” não te torna egoísta; pelo contrário, é uma parte importante do autocuidado. Ademais, tenha em mente que é normal sentir-se desconfortável ao começar a estabelecer limites, especialmente se for a primeira vez que você o faz. Afinal, a mudança é um processo que exige tempo e prática contínua. Por fim, esteja preparado para lidar com possíveis reações negativas dos outros, lembrando sempre que cuidar de si é essencial para o seu bem-estar.
“Pessoas generosas têm a capacidade de equilibrar suas próprias necessidades com as dos outros e estabelecer limites. Já aquelas com a Síndrome da Boazinha negligenciam suas necessidades em detrimento dos outros, levando a um desequilíbrio prejudicial para sua própria saúde e bem-estar.”