Fome emocional: será que a comida alivia os sentimentos?

Sabe quando sabemos que já estamos satisfeitos, mas parece que a vontade de comer nunca passa? Isso pode ser fome emocional. Trata-se de um fenômeno bastante comum, mas muitas vezes ignorado ou até mesmo confundido com a fome física. Segundo a psicóloga Valeska Bassan, especialista em transtornos alimentares, a fome emocional se manifesta quando usamos a comida como uma válvula de escape para lidar com sentimentos como estresse, tristeza, ansiedade ou tédio. Mas como distinguir essa fome da necessidade física real?

Definição de fome emocional

“A fome emocional não é uma necessidade fisiológica do corpo, mas sim uma resposta emocional,” explica Valeska. Ela descreve que, enquanto a fome física surge de forma gradual e qualquer alimento pode saciá-la, a fome emocional aparece repentinamente, geralmente com uma ânsia por alimentos específicos, como doces ou comidas ricas em carboidratos. Ao comer por fome emocional, a pessoa busca um certo conforto. Mas a saciedade não é atingida da mesma forma, e o ato ainda pode vir acompanhado de culpa por comer demais.

Causa e efeito da fome emocional

A especialista aponta que entre as principais causas da fome emocional estão o estresse e sentimentos negativos. “Comer pode parecer uma solução rápida para aliviar a angústia, o vazio ou o tédio”, diz a psicóloga. Essa lista de razões também inclui fatores sociais e culturais. Aqui podemos citar o uso da comida para comemorações ou como recompensa, além de certos hábitos aprendidos na infância. Emocionalmente, o estresse, a ansiedade e a tristeza são os gatilhos mais comuns. Mas sentimentos como solidão e frustração também estão entre os grandes motivadores do fenômeno.

É importante dizer que os efeitos da fome emocional vão além do desconforto momentâneo. No plano psicológico, ela pode causar sentimentos de vergonha, culpa e baixa autoestima, além de reforçar comportamentos compulsivos. Já fisicamente, o consumo excessivo de alimentos ricos em calorias e pobres em nutrientes pode levar ao ganho de peso, obesidade e até problemas metabólicos, como diabetes tipo 2. “É um ciclo difícil de romper”, alerta Valeska. “As pessoas entram em um padrão de comer para lidar com as emoções, seguido por culpa, o que perpetua o comportamento.”

Como me livrar?

Para romper esse ciclo, que pode ser considerado um tipo de vício, Valeska recomenda estratégias como manter um diário alimentar e emocional para identificar padrões e gatilhos. Assim como desenvolver formas alternativas de lidar com as emoções, como praticar exercícios físicos, meditação ou buscar apoio em amigos. Além disso, praticar a alimentação consciente, ou seja, estar presente no momento da refeição e reconhecer os sinais de fome e saciedade, ajuda a evitar o ‘comer automático’, comportamento típico da fome emocional.

Se houver descontrole, é preciso procurar ajuda

Valeska ressalta ainda que, se a fome emocional se tornar recorrente e vier acompanhada de sentimentos de perda de controle ou culpa, é um sinal de que a situação pode estar se agravando. “O isolamento social e o desenvolvimento de comportamentos compensatórios, como dietas extremas ou indução de vômitos, são sinais claros de que a relação com a comida precisa de atenção profissional.”

Para não cair na cilada, os passos recomendados pela psicóloga são: criar uma rotina alimentar equilibrada e praticar atividades físicas regulares. “Dormir bem também é crucial, pois a privação de sono pode aumentar a fome e os desejos por alimentos calóricos,” aconselha Valeska. Outro ponto importante para estar atento é identificar e trabalhar os gatilhos emocionais por meio da terapia, pois esse cuidado pode prevenir episódios de fome emocional.