Chefes tóxicos são pessoas más? Psicólogo ensina a lidar com maus gestores, ou os famosos chefes tóxicos, e esclarece: é possível reverter esse quadro!

Psicólogo ensina a lidar com maus gestores e esclarece: é possível reverter esse quadro!

Você já imaginou uma pessoa preferir sofrer um acidente de carro ao ter que chegar no próprio emprego? Esse desejo chocante foi confessado ao psicólogo Lucas Freire, que trabalha há 18 anos com
cultura corporativa, por uma pessoa que estava sofrendo em seu trabalho com um chefe tóxico.

Para Lucas, este tipo de liderança pode impactar, sim, negativamente na saúde mental dos colaboradores. Porém, ele alerta: nem sempre os chefes são o problema. Às vezes, o que acontece é que as próprias empresas valorizam pessoas com este perfil. Em entrevista exclusiva à Malu, o profissional ensina como lidar com este tipo de situação e explica como podemos começar a
driblar esta situação. Confira:

Como podemos identificar chefes tóxicos?

“Primeiro, é importante ressaltar que, muitas vezes, a gente atribui essa ideia de líder tóxico ou chefe tóxico a uma pessoa ruim, a uma pessoa do mal, mas não é assim necessariamente. Temos que
entender que durante muito tempo as próprias empresas adotaram culturas tóxicas, muitas vezes usando modelos gerenciais de coerção e diminuição dos outros, com foco em resultados que atropelam as pessoas. Isso fez com que fossem contratadas pessoas que assumissem funções de liderança com perfis muito característicos disso, objetificando as pessoas, atropelando-as. Então, a gente vai ver perfis autoritários, pessoas muito narcisistas, aquele perfil de pessoa que só pensa em si, só olha o resultado, mesmo que isso cause danos aos outros. Às vezes, até o contrário: pessoas que são vistas por toda comunidade como pessoas boas, mas no trato individual são perversas. Então, muito mais do que a gente falar sobre um chefe tóxico, é importante pensar em ambientes tóxicos que vão dar vazão e
oportunidade de pessoas com certos traços perversos para assumirem posição de liderança.”

Quais os impactos deste tipo de liderança na saúde mental dos colaboradores?

“O que acontece com esse modelo de gestão é que a gente coloca cargas de estresse, de diminuição de autoestima muito maiores que o esforço já necessário para realizar o trabalho, então, isso estabelece um potencial muito maior de adoecimento mental. Ambientes tóxicos vão fazer as pessoas terem fobia, pânico, vão aumentar toda carga de ansiedade e estresse que o trabalho já tem, e isso é altamente
adoecedor. Eu me lembro de um dos relatos mais difíceis e duros que já vi de uma pessoa, que me disse uma vez que pensou em bater o carro para não ir ao trabalho, para não chegar até ao escritório. Olha o tipo de reação física que alguém pode ter contra um ambiente tóxico, isso é algo que a gente infelizmente vê com muita frequência.”

É possível que chefes tóxicos melhorem ou não?

“Sem dúvidas. Agora, se for uma pessoa já naturalmente perversa, com traços de narcisismo muito altos, é mais fácil mudar a cultura organizacional. Estes perfis ficarão muito evidentes e a empresa vê que isso não faz mais sentido para o seu cenário. É muito importante pensar isso estrategicamente, porque a empresa não vai mudar, a pessoa não vai mudar se não houver uma mudança de cultura. Em geral, as pessoas podem, sim, mudar traços de personalidade ao longo da vida, isso depende muito da intencionalidade do cenário e do contexto.”

Como devemos dar um feedback à uma pessoa com este tipo de comportamento?

“Eu acredito muito que feedbacks precisam ser constantes, genuínos e que de fato contribuam com a evolução das pessoas. Muitas vezes, o indivíduo precisa de uma jornada grande de autoconhecimento, precisa se perceber causando sentimentos negativos nas pessoas. O problema é que a gestão do medo gera o silêncio, então é muito difícil dar um feedback para um chefe assim, porque a consequência de um líder tóxico é as pessoas terem medo de falar, então para fazer isso é preciso que a organização reconstrua a confiança das pessoas, criem fóruns para as pessoas falarem com mais frequência.”

De que maneira as empresas podem mudar suas culturas para evitar este tipo de liderança?

“Cultura organizacional está, muitas vezes, ligada à maneira de como os líderes decidem ao longo do tempo, então, o primeiro passo é formar lideranças, mudando a consciência dos líderes. É fazer uma jornada para que os líderes sejam pessoas melhores. Hoje, os programas de liderança têm tido muito
esse caráter de “não dá para o liderar bem se eu não for uma pessoa melhor”, ou seja, o primeiro passo é ajudar esses líderes que constroem a cultura da empresa a serem pessoas melhores, a entenderem seus gatilhos, suas frustrações. Muitos chefes tóxicos, na verdade, são pessoas frustradas em suas carreiras ou em suas vidas pessoais e depositam essas frustrações em seus liderados na empresa. Precisamos trabalhar as pessoas.”