O filme Meu Amigo Pinguim está chegando ao streaming, disponível para aluguel no Prime Video e já liberado na assinatura da Apple TV+. Em setembro, foi a vez do circuito cinematográfico do longa nos cinemas brasileiros, com uma premissa que não poderia ser mais fofa: um pescador, João (Jean Reno/Pedro Urizzi), salva um pinguim ferido no mar e cuida dele por alguns meses. Após soltar a ave de volta para a natureza, ela surpreendentemente passou sete anos retornando anualmente para visitá-lo. Inspirado numa história real brasileira, o filme foi gravado em língua inglesa e dirigido pelo também brasileiro David Schurmann. Pedro, que também é diretor audiovisual, estava há anos afastado da carreira de ator quando um convite do próprio David, seu amigo, o fez reconsiderar. Ele conversou com a Guia da TV sobre essas e outras histórias. Confira!
Como você foi escolhido para o papel?
“Primeiramente, já ter trabalhado como ator com David Schurmann lá em 2010 e ter inglês fluente foram itens importantes. Além disso, houve coincidências. Conheço o David há 15 anos, e ele sempre comentava sobre minha semelhança com o Jean Reno, e brincava: ‘Se um dia eu fizer um filme com o Jean Reno, você fará a versão jovem’. E não é que deu certo? O curioso é que isso era só especulação, já que ele foi convidado para dirigir o filme muitos anos depois. A magia das coisas, o momento e o filme certo se alinharam. O resultado final me enche de orgulho. Fiquei muito surpreso com a minha atuação, mas isso é reflexo de o filme ser excepcional também. Tudo entra em harmonia.”
O que mais te atraiu no personagem? Chegou a conversar com o João da vida real sobre o que ele achou?
“A oportunidade de interpretar um personagem muito distante da minha realidade foi desafiadora: dar vida a um pescador e pai de família no Brasil de 40 anos atrás. Além de construir o personagem, precisei incorporar o estilo de atuação de Jean Reno, protagonista do filme, para criar uma continuidade entre as duas interpretações do mesmo personagem, separadas por quatro décadas. Já o Sr. João, o conheci durante nossa viagem a Los Angeles, a caminho da pré-estreia.
Conversamos muito, e ele se emocionou profundamente com o filme, quase sem acreditar no que via. O David prestou uma linda homenagem durante toda a campanha, demonstrando respeito e ternura admiráveis. O Sr. João sentia isso todos os dias e se emocionava a cada sessão. Ele se tornou um astro, querido pelo público. Em um momento, comentou como algo tão simples (mas igualmente poderoso) o levou até Hollywood. Sua bondade de coração criou uma amizade improvável que durou anos e se transformou em cinema.”
Alguma história preferida nos bastidores do filme?
“No dia em que conheci Jean Reno, participamos da primeira leitura do roteiro com todo o elenco e a equipe do filme, em Ubatuba. Ao final, o diretor David Schurmann nos apresentou, e ele me convidou para almoçar. Passamos a tarde inteira conversando. Falamos sobre o personagem, mas também discutimos temas como teatro, cinema e literatura. Em certo momento, Jean compartilhou um pesadelo que o atormentou por anos: ‘Eu, Jean Reno, era demitido pelo diretor da peça na frente de todo o elenco por ser um péssimo ator’. Esse sonho só desapareceu após o lançamento de O Profissional (1994). Saber disso me aproximou ainda mais dele e me ajudou a aceitar a insegurança como parte do processo criativo. Foi um dia memorável. Ali caiu minha ficha: eu estava pronto.”
A responsabilidade de ser sua primeira atuação internacional pesou muito?
“Meu nervosismo foi inevitável. Mas, felizmente, quando assisto ao filme, não me vejo na tela; vejo o personagem, e isso é essencial. Preparei-me intensamente. Acredito que a zona de conforto pode ser inimiga da entrega e da criatividade, e isso se repete em cada novo projeto. Neste caso, as variáveis eram muitas, e eu precisava incorporar o estilo de Jean, um artista de altíssimo calibre. Ele atua de forma mais econômica, transbordando emoções com os olhos das palavras não ditas, o que foi um enorme desafio para mim: desenvolver o personagem, espelhar o estilo do Jean e atribuir essas camadas artísticas ao alto nível técnico exigido pelo set.”
Quem veio primeiro: o Pedro diretor de cinema ou o Pedro ator?
“Pedro, o ator. Sempre fui apaixonado pela palavra dita. Comecei com leituras de poesia na escola, o que me levou ao teatro. Depois, passei a fazer pequenas participações no cinema e, quando percebi, já tinha encontrado minha turma. Tornar-me diretor foi uma consequência natural da minha vontade de atuar. Assim, comecei a produzir e dirigir curtas-metragens para criar oportunidades de interpretar papéis. Com o tempo, esse eixo foi se transformando, e a direção acabou ganhando mais força. Um trabalho foi puxando o outro, e, quando vi, já estava há 10 anos como diretor. Em 2022, retornei à atuação, graças ao convite do David.”
Agora, com o filme lançado, quais são seus novos projetos?
“Como diretor, tenho dois lançamentos para 2025: a série documental Arquitetura Hoje!, sobre a arquitetura contemporânea do sul global e seu diálogo entre África e Brasil, e o documentário Vlavianos, a Razão e o Impulso, sobre o escultor grego Nicolas Vlavianos, que realizava suas obras em metais. Como ator, estou no elenco do longa Por Um Fio, também dirigido por David Schurmann.”