Com história de superação e resiliência, empresária cria projeto que incentiva mais de 50 mil mulheres a alcançarem independência emocional e financeira por meio do empreendedorismo
O empreendedorismo feminino foi base de um estudo recente realizado pela Secretaria de Estado da Mulher do Rio de Janeiro que traçou o perfil de mulheres empreendedoras. A pesquisa ouviu 1.844 mulheres de todo o estado e apontou que, além de quase 80% serem mães, 49% delas são as principais provedoras financeiras de seus lares. Muitas dessas mulheres, além de liderar, também precisam equilibrar responsabilidades familiares e são criticadas por se dedicarem tanto tempo ao trabalho.
Uma pesquisa do Sebrae 2024, aponta que o público feminino responde atualmente por 54,6% do empreendedorismo potencial no Brasil. Ou seja, as mulheres protagonizam cada vez mais o mercado e desafiam estereótipos sobre os papéis que devem ocupar. No entanto, o cenário ainda é desfavorável para a população feminina.
Tirou forças da maternidade
Uma dessas histórias é a da Kenia Gama. Nascida na periferia de Brasília, filha de pais nordestinos batalhadores, Kenia sempre soube que a vida exigiria dela força e determinação. A jornada empreendedora, no entanto, começou de forma inesperada: aos 17 anos, com uma gravidez não planejada. “Nasce um filho, nasce uma empreendedora. Você precisa dar o melhor para seu filho”, reflete Kenia.
Um ecossistema de apoio ao empreendedorismo feminino
Kenia é responsável pelo Mulher Brilhante, um ecossistema de apoio ao empreendedorismo feminino, presente em 57 cidades e com quase 40 mil alunas em sua plataforma digital. “Eu quero que elas deixem de ser MEI e cresçam. Elas não têm um negocinho, para poder comprar uma coisinha. Precisam entender que são donas do próprio negócio e precisam fazer ele crescer”, enfatiza Kenia.
A iniciativa busca oferecer conhecimento em gestão, marketing e inteligência emocional. “A mulher muitas vezes empreende por necessidade. Muitas começam um negócio pelo instinto… Não sabem qual o cliente ideal, não fazem análise de mercado. Para ser empreendedor, você precisa estudar conceitos de liderança, ter um mentor para dizer qual o caminho a seguir”, enfatiza a especialista.
Diversos obstáculos no caminho
Kenia relembra o primeiro negócio que surgiu ao lado do marido, André Gama, com a abertura de uma agência de turismo. O início foi difícil, com meses distribuindo panfletos em prédios comerciais até conquistar o primeiro cliente. O empreendimento cresceu, e Kenia passou a atuar com eventos, atendendo até instituições. Mas um calote do Ministério da Justiça a levou à falência, depressão e ao fim do casamento.
“Eu estava cega pelo trabalho e tive de enfrentar um calote do Ministério da Justiça. Por brigas políticas, os novos integrantes não queriam assinar as notas que nós tínhamos acordado com a gestão anterior. Fiquei sem receber R$ 4 milhões, não tinha como pagar os impostos, os fornecedores, me vi sem chão”, lembra.
“Tomava remédio para dormir, como se fosse só um pesadelo que iria passar. Era 2012 e tudo estourou”, relembra Kenia. O que a fez reagir foi sua filha, que, ao lhe oferecer um prato de miojo, fez com que ela percebesse que precisava recomeçar. Com coragem, renegociou dívidas, retomou o casamento e decidiu transformar sua experiência em conhecimento para outras mulheres.
Hoje, o Mulher Brilhante movimenta R$ 500 milhões e impacta a vida de milhares de mulheres, gerando renda e autonomia. “Empreendedorismo é solução para ter mais dignidade, cidadania, além de poder, conquistar o próprio dinheiro”, conclui Kenia.