TDAH em adultos O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, TDAH, tem manifestações diferentes em cada fase da vida, e pode passar despercebido

O transtorno tem manifestações diferentes em cada fase da vida, e pode passar despercebido por muitos anos

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, o famoso TDAH, tem gerado muitos debates e atraído cada vez mais atenção, principalmente entre crianças e adolescentes, mas também entre adultos. Apesar de os conteúdos on-line não serem o suficiente para bater o martelo para o diagnóstico, o acesso à informação é muito importante, pois além de reduzir estigmas e preconceitos, contribui para que mais indivíduos decidam procurar ajuda especializada para uma melhor qualidade de vida.

Sim, tem diferença

Em primeiro lugar, devemos entender que o TDAH se manifesta de forma diferente na criança e no adulto. “Nos pequenos, a hiperatividade é mais evidente. Observa-se uma criança que não consegue parar quieta, não consegue parar de fazer barulho e, muitas vezes, gera dificuldades na sala de aula”, explica Jéssica Martani, médica psiquiatra especialista em TDAH.

Já nos adultos, de acordo com a profissional, o transtorno causa uma sensação de inquietude interna, que muitas vezes é confundida com sintomas de ansiedade. “Sinais comuns são desatenção, falta de planejamento, dificuldade de organização, e incapacidade de cumprir as responsabilidades diárias”, completa.

Atenção aos sintomas

Jéssica define os principais sintomas do TDAH:

  1. Hiperatividade: embora menos pronunciado no adulto, a pode ser expressada pela necessidade estar sempre se mexendo, como balançar os pés com frequência;
  2. Desatenção: dificuldade em se manter focado, se distrair mesmo com pequenos estímulos, maior dificuldade de planejamento e sinais de desatenção e esquecimento;
  3. Impulsividade: não consegue se expressar de maneira assertiva – o que pode ocasionar conflitos-, e se mostra impaciente, não sabe esperar sua vez.

Sem neura!

Mas nada de autodiagnóstico, ok? Apesar de esses serem, sim, os principais e mais comuns sinais manifestados pelo transtorno, é preciso uma avaliação médica para definir se é TDAH ou não. Até porque, como reforça a médica, os sintomas podem ser múltiplos. “Eles variam de acordo com a personalidade, e também como foi a vida dessa pessoa em relação a estímulos, vida escolar e desenvolvimento”, destaca.

Além disso, o transtorno pode passar despercebido por muitos anos. “Os sintomas podem aparecer apenas quando a pessoa tem um maior desafio na vida. É comum na idade adulta devido ao aumento das demandas do dia a dia no trabalho, na vida familiar, etc”, exemplifica a psiquiatra. Nessas circunstâncias, a procrastinação, a dificuldade nos relacionamentos, a impulsividade e baixa tolerância à frustração são, erroneamente, vistos como o “jeito de ser” da pessoa.

Impacta o profissional, as relações e autoestima

Quando o indivíduo inicia a vida profissional, por exemplo, é comum que haja dificuldade em estabelecer planejamentos, bem como seguir certas regras. “As pessoas costumam ver a pessoa como esquecida e desorganizada, o que pode levá-la a desistir do curso na faculdade, sair de trabalhos – seja por conta própria ou por decisão da empresa – ou então enfrentar mais dificuldade para subir de cargo”, comenta Jéssica.

E claro, não podemos ignorar tudo que afeta a vida pessoal, onde é comum enfrentar mais conflitos, como brigas, divórcios e dificuldades em manter um relacionamento, além de sobrecarregar o parceiro. “Também ocorrem frequentemente dificuldades financeiras devido à má gestão do dinheiro e baixa autoestima causada por fracassos anteriores”, aponta a médica.

E como é o diagnóstico?

De acordo com Jéssica, não existe um teste específico para apontar o diagnóstico de TDAH, e sim uma avaliação meticulosa de toda a infância, vida escolar e desenvolvimento neuropsicomotor. “Por isso, é necessário uma boa anamnese e avaliar a história clínica do paciente. Questionários também são muito utilizados para entender e caracterizar melhor esses sintomas”, esclarece.

“Além disso, é necessário excluir outras condições, como ansiedade, depressão, transtorno de personalidade borderline, transtorno afetivo bipolar, entre outros”, conclui a especialista.