A automedicação pode desencadear efeitos colaterais diversos e até o desenvolvimento de transtornos alimentares
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em 2023 o uso de semaglutida, conhecido popularmente como Ozempic. O foco do remédio é o controle do peso em pacientes adultos obesos e com sobrepeso, com pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso. Entre elas, pré-diabetes ou diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono ou doença cardiovascular.
Desde a aprovação, a demanda pelo medicamento aumentou vertiginosamente no Brasil, causando, inclusive, o risco de sumir das prateleiras das farmácias. Mas especialistas apontam que a automedicação para a perda de peso em curto prazo para pessoas saudáveis pode provocar efeitos colaterais, como náusea, vômito, diarreia, entre outros problemas gastrointestinais. Além disso, há o risco de desenvolvimento de transtornos alimentares.
Semaglutida não é para todo mundo
Por conta dos efeitos adversos, o uso da substância não é para todos. Distúrbios gastrointestinais (geralmente náusea, diarreia, vômito e constipação) de gravidade leve a moderada, transitória e resolvida sem interrupção permanente do regime foram os eventos relatados por pessoas que usaram a semaglutida. Portanto, quem já sofre de problemas no trato intestinal não deve seguir com o tratamento. O médico Victor Lamônica, especialista em Medicina Esportiva do Instituto Pacileo, alerta que grávidas ou pessoas que estejam amamentando não devem usar o medicamento. “Além disso, o uso deve ser interrompido ao menos dois meses antes de uma gravidez planejada.”
Eduardo Rauen, médico nutrólogo e do esporte e cofundador da healthtech Liti, reforça: “Estudos apontam que 50% de todas as medicações compradas no Brasil são utilizadas de forma irregular, ou seja, diferente do que é recomendado pelo fabricante, simplesmente pelo fato de terem acesso sem receita, prescrição ou orientação profissional, o que aumenta o uso inadequado em pacientes com contraindicações. No Brasil existem muitas farmácias em que é possível comprar remédios sem receitas, não só do princípio ativo semaglutida, mas de todas as outras classes”.
O médico que acompanha o paciente com sobrepeso ou obesidade é o profissional indicado para orientar de forma segura o uso da semaglutida. “O medicamento é para o paciente que mudou o estilo de vida, que se alimenta de forma adequada e pratica atividade física, mas não perde peso. Nesse caso, é preciso avaliar a prescrição do remédio que atua em diferentes áreas do organismo, tanto no sistema nervoso central para inibir a fome e a sensação de saciedade quanto na velocidade do esvaziamento gástrico”, afirma o médico nutrólogo e do esporte.
Como a semaglutida age no organismo?
A semaglutida é um análogo ao hormônio GLP-1, que induz o corpo a produzir mais insulina e reduz o esvaziamento gástrico, causando a sensação de saciedade e, consequentemente, a redução do peso corporal. “Entretanto, o uso do medicamento deve ser aliado a outras medidas, como alimentação saudável, prática de atividades físicas, controle emocional, realização regular de consultas e exames e condições presentes nos estudos que demonstraram bons resultados para perda de peso por meio do remédio”, ressalta Lamônica. Os médicos ainda salientam que a prescrição e acompanhamento médicos para uso da semaglutida são estritamente necessários.
Pandemia da obesidade
A obesidade é uma doença complexa que requer tratamento. “É imprescindível que o paciente reorganize seus hábitos alimentares diários e use, conforme orientação médica quando necessário, algum remédio para ajudá-lo nesse processo. Caso o tratamento medicamentoso e a mudança do estilo de vida não surtam efeito, é indicada a cirurgia bariátrica. Mas apenas o médico pode avaliar cada paciente e indicar a melhor técnica”, pontua Rauen.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade atingiu proporções epidêmicas em todo o mundo. Cerca de 3 milhões de pessoas morrem a cada ano com sobrepeso ou obesidade. “Antes associada a países de alta renda, ela também é prevalente em países de baixa e média rendas”, complementa a OMS.