Estresse no trabalho: 6 técnicas da neurociência para gerenciar melhor

Em 2024, segundo dados do Ministério da Previdência Social, quase meio milhão de brasileiros pediram afastamento do trabalho por problemas de saúde mental, um aumento de 68% em relação a 2023. O estresse consta como o principal motivo de afastamento, com 28,6% dos casos.

A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) foi atualizada, exigindo que as empresas avaliem e gerenciem riscos psicossociais no ambiente de trabalho, sob risco de multas. Entretanto, a aplicação da medida foi adiada para 2026.

Enquanto isso, apenas 46% dos municípios brasileiros possuem programas de atendimento para pessoas com transtornos mentais, segundo pesquisa divulgada peloMinistério Público do Trabalho e pelo Escritório da Organização Internacional do Trabalho para o Brasil.

O desafio de gerenciar o estresse ocupacional

De acordo com o psicólogo Rafael Nunes, mestre em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor de Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral (FDC), no Grupo ANIMA, na faculdade Unisinos e na PUC Paraná; os líderes de hoje são desafiados por dilemas decisórios e complexos.

“O cenário atual impõe a necessidade de assumir riscos, lidar com incertezas e, ao mesmo tempo, manter a agilidade nas decisões. Nesse contexto, a capacidade de administrar pressões diárias sem comprometer a saúde mental torna-se essencial”, diz o palestrante com MBA em Gestão de Empresas e Negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Segundo ele, o gerenciamento do estresse começa com a identificação dos fatores que o provocam e, sobretudo, com o questionamento sobre o quanto eles estão sob nosso controle. “Refletir sobre onde colocar energia e foco diante dos desafios é fundamental para lidar com o estresse”, destaca Rafael Nunes.

Neurociência a favor do equilíbrio emocional

Para o consultor em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, Cultura Empresarial e Employee Value Proposition na Tailor; a flexibilidade cognitiva (ou seja, a habilidade do cérebro de se adaptar a novas situações e criar outras soluções quando tentativas anteriores falham) é uma das competências-chave para enfrentar a pressão, especialmente no ambiente corporativo.

“Estar aberto a novas ideias, aceitar diferentes formas de pensamento e valorizar opiniões diversas ampliam a capacidade de observação e de raciocínio, além de tornar mais eficiente a resolução de tarefas complexas”.

Inspirado nos conceitos das Zonas de Controle, Influência e Escolha, do escritor norte-americano Stephen Covey, Nunes sugere reflexões para gestores e profissionais que precisam gerenciar melhor o estresse:

Zona de Controle: preocupação com acontecimentos que estão ao seu alcance para resolver de forma direta, tendo o real controle sobre eles.

Pergunte a si mesmo:

Posso controlar isso? Por onde posso começar a resolver a situação? Qual será o primeiro passo para resolvê-la? Tenho recursos para agir? Falta algo? O que posso fazer de diferente para resolver essa situação? Penso em soluções concretas para atingir o que quero?

Zona de Influência: preocupação com acontecimentos que estão ao seu alcance para resolvê-los de forma indireta, tendo alguma influência sobre eles.

Pergunte a si mesmo:

Conheço a pessoa que está encarregada da situação? Posso ajudá-la de alguma forma? Tenho alguma influência sobre ela? Como posso influenciar nessa situação? Tenho alguma ideia concreta de como influenciar nessa situação? Isso está ao meu alcance?

Zona de Escolha: preocupação com acontecimentos que não estão ao seu alcance para resolvê-los, ou seja, não há nada que você possa fazer.

Pergunte a si mesmo:

Essa situação não está presente na minha Zona de Controle ou de Influência? Estou pensando ou sentindo algo que me afeta de forma negativa? Essa preocupação me leva a algum lugar? Há algo que eu possa fazer para resolver? De 0 a 10, quanto eu posso controlar ou influenciar a solução dessa situação?

“Quando tudo o que está nas Zonas de Controle e Influência já aconteceu, ainda assim, nada muda, sinal de que a questão pertence à Zona de Escolha. Reconhecer esse limite ajuda a reduzir o peso da preocupação e a direcionar energia de forma mais estratégica”, pontua Rafael Nunes.

Para ampliar sua Zona de Controle e conquistar maior domínio sobre os desafios, o especialista recomenda três frentes:

Aprimorar competências pessoais e profissionais, fortalecendo habilidades técnicas e emocionais;

Ampliar o poder de persuasão, para que sua influência seja mais efetiva e alcance mais pessoas;

Desenvolver flexibilidade cognitiva e antifragilidade. “Em resumo, é preciso se fortalecer diante das adversidades e dos estressores, aceitando o que não pode ser mudado, ao menos, por enquanto”, finaliza Rafael Nunes.