Especialistas comentam a importância do leite materno para saúde e quais os desafios a amamentação ainda enfrenta no Brasil
Chegou agosto, e com ele a campanha Agosto Dourado, criada por lei em 2017 com o objetivo de promover, proteger e apoiar a amamentação. “Chamamos de dourado porque ele simboliza o padrão ouro da alimentação infantil, possuindo um valor inestimável para a saúde”, explica a pediatra e neonatologista Tatiana Cicerelli.
A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a amamentação seja capaz de diminuir em até 13% a morte das crianças menores de cinco anos por causas preveníveis. A campanha vem rendendo frutos e o índice de aleitamento vem aumentando no Brasil, embora ainda seja insuficiente. Segundo dados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) publicado em 2021, a taxa de aleitamento materno exclusivo entre crianças menores de 6 meses foi de 45,8%, e nosso país conta com uma das redes de banco de leite materno mais completas do mundo, com cerca de 225 bancos espalhados em todos os estados. Mas ainda há desafios a serem vencidos, já que muitos mitos e principalmente a falta de apoio à amamentação afetam as mães.
Desinformação ainda é um problema
Dentre um dos muitos mitos que ainda cercam o leite materno, está o do leite “fraco”, ou seja, um leite que supostamente não seria suficiente para o bebê. Ana Carolina Ferreira, consultora de amamentação e dona do perfil @bebesemformula no Instagram, reforça que isso não existe. “A sociedade toda precisa entender que não existe leite fraco, e bebês precisam de mais do que meramente engordarem. O leite materno é o melhor alimento do mundo para a criança, fornecendo todos os nutrientes necessários e auxiliando no combate a diversas doenças. Bebês aleitados exclusivamente com leite materno possuem menos chances de desenvolver diabetes, hipertensão e obesidade, por exemplo”, explica.
“Os benefícios para a própria mãe também são diversos. Pesquisas comprovam que mulheres que amamentam têm menos chances de desenvolver uma série de doenças, inclusive câncer de mama. Além disso, amamentar fortalece muito o vínculo mãe e bebê e principalmente auxilia na recuperação do corpo pós parto, já que ajuda o útero a retornar ao seu tamanho original e diminui as chances de hemorragias”, adiciona Tatiana.
Falta de apoio é o principal desafio
Mas se o leite materno faz tão bem, por que ainda precisamos fazer campanhas em prol da amamentação? A verdade é que a sociedade ainda não está preparada para auxiliar uma mãe que amamenta, e a desinformação começa já na gravidez. “Muitas mães não são preparadas para a amamentação corretamente. As principais causas para desmame são dores, fissuras, infecções, como a mastite, ou baixa produção de leite, só que tudo isso pode ser revertido com informação. É essencial que o trabalho das consultoras de amamentação seja fortalecido no SUS, por exemplo, para evitar uma introdução precoce de fórmulas infantis e prestar assistência às mães nos primeiros dias após o parto”, pontua Ana.
“Vários fatores podem contribuir para uma baixa produção de leite, inclusive a má alimentação. Não basta apenas querer amamentar, é necessário que a mãe esteja se alimentando com qualidade, evitando o consumo excessivo de cafeína, álcool e alimentos processados e consumindo alimentos ricos em proteínas, vitaminas, ácidos graxos e minerais, como carnes magras, legumes, frutas, vegetais e grãos. Além disso, é essencial estar bem hidratada”, complementa Tatiana.
Amamentação: uma causa de todos
O aleitamento literalmente salva vidas, mas a própria sociedade não está preparada para que as mães consigam amamentar corretamente. “É necessário que as empresas e políticas públicas se engajem cada vez mais nessa causa, tanto estendendo os períodos de licença para os pais, quanto instalando espaços adequados para amamentação e extração de leite nos ambientes de estudo e trabalho, por exemplo”, afirma Tatiana.
“As mães têm o direito de saber que o fim da licença maternidade não precisa ser o fim da amamentação. Se as empresas se engajarem oferecendo ambientes adequados para a extração do leite materno, é possível que essas mães consigam criar um estoque e sigam nutrindo seus bebês”, finaliza Ana.
Melhores Práticas para armazenar Leite Materno
Ao contrário do que muita gente imagina, fazer um estoque de leite materno não é uma tarefa impossível. A doutora Tatiana deixou um passo a passo para as mães que desejam criar seu estoque de leite.
1. Higienização: Lave bem as mãos e utilize frascos de vidro esterilizados com tampa de plástico.
2. Coleta: Coletar o leite em ambiente limpo, preferencialmente após a mamada.
3. Rotulagem: Sempre identifique o frasco com a data e hora da coleta.
4. Armazenamento:
– Na geladeira: até 24 horas.
– No congelador: até 15 dias.
– No freezer: até 6 meses.
5. Descongelamento: Descongelar o leite na geladeira ou em banho-maria morno, nunca no micro-ondas.