Malu ouviu histórias de mulheres que superaram as barreiras sociais empreendendo no próprio negócio 

Ser mulher não é fácil, e ser mulher trans, menos ainda. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de aproximadamente 35 anos. Já a de uma mulher cisgênero, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é de 80 anos. Esta diferença na expectativa de vida acontece devido à criminalidade e ao preconceito, tendo em vista que o Brasil é um dos países no mundo onde mais se matam pessoas trans. Além disso, muitas delas, por não conseguir um trabalho formal, acabam indo para a prostituição, que as colocam em situações de violência e vulnerabilidade. Porém, o cenário pode ser menos hostil para algumas, que conseguem se livrar das mazelas sociais e seguirem um caminho mais próspero. Conheça a história de mulheres trans e 50+ que transformaram o seu destino através do empreendedorismo!

Venda direta: um caminho acessível para o empreendedorismo

Eva Pires, mulher trans que vive em São Paulo, encontrou na venda de cosméticos um caminho para fugir da marginalidade. Tudo começou quando Eva iniciou sua transição de gênero e, para evitar ser vítima de preconceito entre os colegas, decidiu abandonar o trabalho em um escritório de administração. Seu primeiro passo foi ministrar aulas de dança, porém, com a chegada da pandemia e o isolamento social, Eva se viu sem renda. Certa vez, ela decidiu se maquiar e publicar uma foto do resultado nas redes sociais. A partir daí, Eva teve uma surpresa: “As pessoas me perguntaram qual batom eu estava usando e pediam indicação para comprar. Então eu mesma comecei a vender”, conta. Atualmente, 80% da renda de Eva vem da venda de produtos de beleza, que a ajuda a pagar a sua nova faculdade.

Aprendendo a lidar com o dinheiro ao empreender

Segundo Fernanda Scozzafave, diretora executiva global de Marca e Inteligência da Avon, é de interesse da marca se conectar com todas as mulheres. Dessa forma, a empresa tem trabalhado para ajudar suas parceiras, em especial as revendedoras da marca, a evoluírem. Uma das propostas é a plataforma de cursos online que a marca fornece e que possui diversas formações. Segundo Fernanda, um levantamento mostrou que as mulheres que fazem os cursos possuem renda maior, pois aprendem a lidar melhor com o dinheiro. “Oferecemos mais de 600 cursos sobre o assunto. Não precisa ser expert, ter currículo ou educação formal. Buscamos ser um ecossistema de prosperidade para ampliar os negócios das representantes, ao mesmo tempo em que somos uma plataforma de bem-estar para que você tenha crescimento pessoal e conquiste seus sonhos”, diz a executiva. 

Luta contra o analfabetismo digital

A empreendedora Doria Miranda, também uma mulher trans, possui o próprio e-commerce e vende roupas para mulheres plus size. Ela conta que se considerava uma “analfabeta digital” e, para conseguir empreender e chegar até suas consumidoras, teve que aprender as regras básicas das redes sociais mesmo depois dos 50 anos de idade. “O mercado digital é para você matar mil leões todos os dias. Eu era uma analfabeta digital. Todas essas coisas que são necessárias como e-mail, fotos, gravação, lives, iluminação, eu não sabia e tive que aprender”, revela. Hoje, o site de Doria entrega produtos para todo o Brasil todo e possui milhares de clientes. 

Uma dica que Doria compartilha para quem quer conquistar um público na internet é ser autêntica e verdadeira. “Não se compare com ninguém que está nas redes sociais. Você é única. Sua beleza é única, seu jeito de falar é único, seu bordão é único, então você deve ser você mesma dentro daquele espaço”, destacou durante a 5° edição do Contaí Summit, evento da Avon que reuniu empreendedores e mulheres LGBTQIAP+ em São Paulo.

“Quero empreender, mas não sei como começar!”

Às vezes, a resposta pode surgir de necessidades pessoais. Foi o que aconteceu com Aline Lima, CEO da Underline Roupa Íntima. Ela conta que sua família já produzia lingeries, porém, os modelos não eram confortáveis, tendo em vista que não contemplavam as mulheres plus size. As peças eram produzidas com fibras sintéticas, o que era muito ruim para a pele. Por isso, ela decidiu, a partir do próprio desejo de vestir uma roupa íntima que contemplasse o seu corpo, produzir lingeries de algodão para mulheres com tamanhos maiores. “Eu estava na busca por um produto que coubesse no meu corpo, o corpo de uma mulher gorda, e que também não agredisse ele. Como eu não encontrava este tipo de produto e eu tinha as ferramentas para produzir, já que minha família produz lingerie, eu decidi eu mesma fazer”, completa. Atualmente, Aline vende para o Brasil todo e se conecta com pessoas que possuem a mesma necessidade.