Autismo e sexualidade: como superar o tabu entre pais e filhos Foto: Pixabay

Abordar assuntos sexuais com os filhos ainda é um tabu para boa parte dos pais. E falar sobre sexualidade com filhos autistas pode ser ainda mais desafiador. Estudos mostram que, muitas vezes, pessoas com autismo enfrentam barreiras para entender e expressar sua sexualidade. Como a maioria das informações sobre o assunto vem de interações sociais e comunicação verbal, pode ser difícil para elas entenderem o que é apropriado ou não em termos de comportamento sexual. Por isso, é essencial saber abordar o tema com jovens autistas.

Respeito aos desejos e sentimentos

O psicólogo Erick Paixão explica que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) não influencia a capacidade de sentir atração ou desejo sexual: “Embora alguns indivíduos com autismo possam apresentar dificuldades para compreender ou comunicar seus desejos sexuais, isso não significa que não existam. Ignorar suas necessidades pode levar a sentimentos de isolamento e frustração, além de comportamentos inadequados”.

Pela dificuldade em comunicar seus desejos, indivíduos autistas também podem desenvolver interesses sexuais atípicos ou obsessivos, como toques e expressões de afeto. “Além disso, podem surgir interesses sexuais intensos e limitados a objetos ou partes específicas do corpo, em detrimento de outras dimensões do relacionamento sexual”, complementa Paixão. Por isso, a educação sexual é essencial para ajudar autistas a compreenderem sua própria sexualidade e a respeitar os limites dos outros. Isso pode incluir ensinar habilidades sociais, como ler as expressões faciais e entender os sinais verbais e não-verbais.

O papel dos pais na educação sexual

Pais e cuidadores de pessoas com autismo devem estar conscientes de que também desempenham um papel importante na educação sexual. Eles devem estar abertos a discutir questões sexuais e estar dispostos a responder a quaisquer perguntas que a pessoa possa ter. Além disso, os pais devem ser capazes de estabelecer limites claros e explicar por que certos comportamentos são inapropriados. O especialista ressalta a importância de não evitar o assunto com os filhos: “A sexualidade faz parte do desenvolvimento humano e pode ter um impacto significativo na qualidade de vida do indivíduo. Além disso, a falta de informação ou orientação adequada pode aumentar o risco de comportamentos inadequados ou perigosos. Por isso, é importante que os pais estejam preparados para conversar sobre sexualidade com seus filhos autistas, buscando sempre respeitar suas necessidades e garantir que eles recebam uma educação sexual saudável e segura”.

Especialistas podem ajudar na missão com a sexualidade

Para pessoas com autismo, é possível trabalhar com um terapeuta ou educador sexual para aprender sobre questões sexuais e desenvolver habilidades sociais. Um terapeuta pode ajudar a pessoa a entender seus próprios sentimentos e desejos sexuais, bem como ensinar estratégias para lidar com a ansiedade e outros desafios relacionados à sexualidade. Além disso, existem recursos disponíveis para pessoas com autismo que desejam aprender mais sobre sexualidade. Hoje, há diversas organizações que oferecem serviços e materiais educativos para ajudar autistas a entenderem sua sexualidade e desenvolverem habilidades sociais.

A subjetividade do sexo na interpretação de pessoas com TEA

Como pessoas no espectro autista podem sentir dificuldades em comunicar suas necessidades e desejos, o mesmo vale durante o sexo, o que pode levar a mal-entendidos ou insatisfação. “Adicionalmente, pode ser difícil para algumas pessoas autistas compreender os limites e preferências de seus parceiros, podendo resultar em comportamentos inapropriados ou prejudiciais para a relação. A sobrecarga sensorial também pode afetar a prática sexual de pessoas no espectro autista, já que a interação sexual envolve múltiplos estímulos sensoriais, incluindo toques, cheiros, sons e luzes. Isso pode ser opressivo para algumas pessoas, levando a desconforto ou interrupção do ato sexual”, pontua Paixão.

Com os desafios advindos da dificuldade em compreender normas e comportamentos sociais relacionados ao sexo, bem como a decodificação de sinais emocionais e sociais emitidos por outras pessoas, o psicólogo comenta que o desenvolvimento de relações amorosas e sexuais pode ser difícil para autistas, além de aumentar o risco de abuso e exploração sexual. Por outro lado, algumas pessoas com TEA podem ter habilidades sociais mais desenvolvidas e manter relações amorosas e sexuais saudáveis e satisfatórias.

Fale com seu filho sobre sexualidade!

O psicólogo dá algumas orientações que podem ajudar a falar sobre o tema com os jovens autistas:

  • Use uma linguagem clara e objetiva, evitando expressões figuradas e ambíguas que possam gerar confusão.
  • Recursos visuais, como imagens, desenhos ou vídeos, ajudam a ilustrar os conceitos e torná-los mais concretos.
  • Leve em conta as sensibilidades sensoriais do indivíduo, evitando informações ou estímulos que possam gerar desconforto ou ansiedade.
  • Respeite os limites do jovem em relação à conversa, permitindo que ele se afaste ou pare a conversa caso se sinta desconfortável
  • Dê espaço para perguntas e permita que ele expresse suas dúvidas ou preocupações, sem julgamentos ou críticas.
  • Estabeleça uma comunicação aberta e honesta, mantendo um diálogo constante e adaptando a conversa à medida que o indivíduo cresce e desenvolve suas habilidades e interesses.

“É importante respeitar a individualidade e a diversidade das pessoas com autismo e reconhecê-las como seres humanos completos e complexos”

Erick Paixão, psicólogo

CONSULTORIA

Erick Paixão, psicólogo clínico com especialização em Sexualidade Humana.